As excelências do ministério de Paulo

 


Romanos 15.


Texto Básico: Romanos 15

Texto Devocional: 4. Porquanto tudo o que foi escrito no passado, foi escrito para nos ensinar, de forma que, por meio da perseverança e do bom ânimo provenientes das Escrituras, mantenhamos firme a nossa esperança.


Introdução: Paulo está concluindo sua mais robusta epístola. Escreve para uma igreja que não fundara nem mesmo conhecera. Depois de ter feito uma grande exposição (capítulos 1-11) e uma grande exortação (capítulos 12.1-15.13), o apóstolo volta ao assunto introduzido no início de sua carta (1.8-13), citando agora seus projetos de viagem a Roma, sua missão apostólica, laços de intercessão e comunhão de graças.


Esse capítulo diz respeito aos judeus e aos gentios na igreja e revela três ministérios que temos de reconhecer e de compreender.


I. O ministério de Cristo para os judeus e para os gentios (15:8-13)


O estudioso da Bíblia, se não reconhecer os dois ministérios de Cristo, primeiro para os judeus e, depois, para os gentios, não discerne da forma correta a Palavra da verdade.


Quando Cristo nasceu, anunciou-se sua vinda para a nação judaica, e relacionou-se essa vinda às promessas do Antigo Testamento. O versículo 8 é claro ao afirmar que Cristo primeiro ministrou aos judeus a fim de confirmar as promessas e as alianças do Antigo Testamento.


Esses judeus, cheios do Espírito, sabiam que Cristo viera para libertá-los dos gentios e para estabelecer o reino prometido.


Contudo, o que aconteceu? Em três ocasiões, o povo de Israel rejeitou seu Rei:


Em primeiro lugar: permitiu que Herodes matasse o mensageiro do Rei, João Batista;

Em segundo lugar: pediu que Cristo fosse morto; e

Em terceiro lugar: ele mesmo matou Estêvão.


Os evangelhos e Atos afirmam que se propagou o evangelho “primeiro [para o] judeu”. O reino seria instituído, e as bênçãos fluiriam para os gentios por intermédio da nação de Israel convertida, se a nação tivesse recebido a Cristo. Em Romanos 9—11, Paulo já mostrou que, por causa da queda de Israel (não de sua ascensão em glória), agora o evangelho da graça de Deus alcançou os gentios.


Os versículos 9-11 apresentam um padrão progressivo: os gentios ouvem a Palavra (Sl 18:49 Glorificar-te-ei, pois, entre os gentios, ó Senhor, e cantarei louvores ao teu nome.), alegram-se com os judeus (Dt 32:43 Louvai, ó nações, o seu povo, porque o Senhor vingará o sangue dos seus servos, tomará vingança dos seus adversários e fará expiação pela terra do seu povo.), todos os gentios louvam a Deus (Sl 117:1 Louvai ao Senhor, vós todos os gentios, louvai-o, todos os povos.), e crêem em Cristo e desfrutam o reino dele (Is 11:10 Naquele dia, recorrerão as nações à raiz de Jessé que está posta por estandarte dos povos; a glória lhe será a morada).


Esses versículos praticamente resumem a história espiritual de Israel: versículo 9 (veja At 10—14), os judeus testemunham aos gentios; versículo 10 (veja At 15—28), judeus e gentios compartilham testemunho na igreja; versículo 11 (At 28), por fim Israel é posto de lado, e os gentios ganham o lugar de destaque no projeto de Deus (como Paulo descreve em suas cartas aos Efésios e aos Colossenses); e versículo 12, o reino futuro compartilhado pelos gentios.


O tema do louvor gentio é Cristo. O versículo 12 afirma: “Nele os gentios esperarão”, ao falar do dia vindouro em que o Rei governará. A seguir, na oração do versículo 13, Paulo volta ao tema da “esperança”. Não precisamos esperar para ter alegria, paz e esperança; o Espírito nos dá essas bênçãos hoje.


II. O ministério de Paulo aos judeus e gentios (15:14-22)


Paulo está ansioso para enfatizar que é o apóstolo dos gentios. O estudo bíblico fica confuso se não percebermos o lugar especial do ministério de Paulo no projeto de Deus.


No versículo 16, Paulo se retrata como um ministro do Novo Testamento que oferece os gentios a Deus como seu sacrifício de louvor. Cada alma que ganhamos para Cristo é uma oferta de sacrifício para a glória dele.


O ministério especial dele envolvia uma mensagem especial (o evangelho da graça de Deus; v. 16), milagres especiais (vv. 18-19) e uma metodologia especial (v. 20; ir aos lugares em que Cristo não pregara). Paulo foi um pioneiro e não misturou, como fazem alguns professores de hoje, Lei e graça, fé e obras, ou Israel e a igreja.


Sabemos que os judeus pediram um sinal (1 Co 1:22), mas Deus também deu milagres aos gentios (por exemplo, em Éfeso — veja At 19:11-12). Portanto, o fato de que, a partir de Atos 7 (a rejeição final de Israel), haja registro de milagres não quer dizer que Deus ainda lida com a nação de Israel.


Paulo foi impedido de ir a Roma por causa das exigências do ministério nos muitos lugares em que o evangelho ainda não fora pregado, e não por Satanás.


Agora, ele estava pronto para sua visita a Roma, pois já cobrira toda a extensão de terra possível. A disposição de Paulo de pregar em Roma indica que nenhum outro apóstolo estivera nessa cidade (por exemplo, Pedro), pois tinha a política de ir a regiões ainda não alcançadas pelo evangelho.


III. O ministério das igrejas gentias para os judeus (15:23-33)


A Bíblia não relata se Paulo concretizou sua vontade de ir à Espanha. A tradição diz que ele realizou essa vontade. De qualquer maneira, na época em que escreveu essa carta, ele estava ocupado com a tarefa de levar auxílio, das igrejas gentias que fundou, para os judeus pobres da Palestina, afetados pela fome. Para mais detalhes a respeito disso, veja 1 Coríntios 16 e 2 Coríntios 89. Paulo apresenta vários motivos para esse auxílio:


Em primeiro lugar: Obrigação espiritual (v. 27). Os gentios deviam devolver, em parte, com bens materiais, todas as bênçãos espirituais que receberam por intermédio dos judeus. Os cristãos de hoje devem ter em mente que os gentios estão em débito com os judeus.


Em segundo lugar: Amor pessoal (v. 29). Paulo tinha uma grande preocupação com os judeus e poderia expressar seu amor por eles com a oferta.


Em terceiro lugar: União cristã (v. 31). Alguns crentes judeus (lembre-se de At 15) não estavam satisfeitos com a entrada dos gentios no rebanho. Essa oferta ajudaria a amenizar a ruptura que alguns judeus causaram ao dizer que os gentios tinham de se tornar judeus antes de ser cristãos.


Essa passagem levanta a questão da responsabilidade que os cristãos gentios de hoje têm em relação aos judeus. Com certeza, o plano “primeiro do judeu” (1:16), válido para a época dos evangelhos e de Atos 1—7, não se aplica hoje.


A Grande Comissão, a graça do Senhor que nos escolheu e nos enxertou na oliveira (Rm 11:20) e a lógica clara de Romanos 10:11-17 determinam nossa obrigação para com os judeus. Não há diferença entre judeus e gentios no que diz respeito à condenação, como também não há em relação à salvação.


No entanto, Israel ainda é o povo escolhido de Deus, essa nação ainda é amada por causa dos patriarcas (Rm 11:28), embora tenha sido posta de lado e cegada temporariamente. Nenhum cristão deveria ser culpado de sentimentos ou de práticas antissemitas. Melhor, temos de tentar testemunhar a eles e ganhá-los para Cristo. Israel, como nação, ainda está cego, mas o judeu individual, à medida que o Espírito abra-lhe os olhos, pode encontrar a Cristo.


No versículo 31, veja que Paulo prevê problemas com os judeus descrentes, e teve-os! Reveja Atos 21:15s e observe como os judeus não-salvos trataram Paulo.


Esse capítulo enfatiza, mais uma vez, a importância da distinção entre o judeu, o gentio e a igreja (1 Co 10:32). Na verdade, as últimas palavras de Paulo na carta aos Romanos (16:25-27) tratam do grande mistério da igreja que o apóstolo deveria revelar por meio de sua mensagem.


Que possamos não fracassar como mordomos, ou administradores, dos mistérios do Senhor!

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