Introdução a carta do Apostolo Paulo aos Romanos



Introdução a carta do Apostolo Paulo aos Romanos

 

I. A importância

Algumas partes da Bíblia contêm mais verdades doutrinais que outras, embora todas as Escrituras sejam inspiradas por Deus e úteis. Sem dúvida, o relato de Romanos tem mais valor prático para nós que algumas listas apresentadas no relato de Números.

A conversão de Agostinho aconteceu com a leitura de Romanos. O ponto de partida para a reforma de Martinho Lutero foi Romanos 1:17: "O justo viverá por fé". John Wesley, fundador do metodismo, converteu-se ao ouvir alguém ler o comentário de Lutero sobre Romanos. Essa epístola é um relato que todos os cristãos devem entender. Por quê?

Em primeiro lugar: Ela apresenta verdades doutrinais — justificação, santificação, adoção, julgamento e identificação com Cristo.

Em segundo lugar: Os capítulos 9—11 apresentam verdades dispensacionais, mostrando o relacionamento de Israel com a igreja no plano eterno de Deus.

Em terceiro Lugar: Ela apresenta verdades práticas como o ensino do segredo da vitória cristã sobre a carne, os deve- res dos cristãos em relação uns com os outros e o relacionamento deles com o governo.

Romanos é uma grande exposição da Fé

Romanos é uma grande exposição da fé. Em todo o Novo Testamento, esse é o relato que traz a apresentação mais completa e mais lógica da verdade cristã. Embora o relato não examine de forma detalhada alguns tópicos (como o sacerdócio de Cristo e o retorno do Senhor), menciona-os e relaciona-os com outras grandes doutrinas da fé. Se um estudioso bíblico desejar ser mestre em qualquer livro da Bíblia, que seja em Romanos! A compreensão desse relato é a chave que desvenda toda a Palavra de Deus para nós.

II. O histórico

Durante uma visita de três meses a Corinto (At 20:1-3), Paulo escreveu Romanos. Em Romanos 16:23, ele indica que estava com Gaio e Erasto, ambos relacionados com Corinto (1 Co 1:14; 2 Tm 4:20).

É provável que Febe (16:1), que vivia em Cencréia, porto que servia a Corinto (At 18:18), tenha levado a carta. Originalmente, Áquila e Priscila, amigos de Paulo, eram de Roma (At 18:2), e constatamos que voltaram a Roma por meio da saudação a eles registrada em Romanos 16:3.

Os crentes em Roma: Como surgiram os grupos de crentes em Roma? Veja que Paulo não dirige a carta "à igreja de Roma", mas "a todos os amados de Deus, que estais em Roma" (Rm 1:7 A todos os que estais em Roma, amados de Deus, convocados para serdes santos: Graça e Paz a vós, da parte de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo!). Ao ler o capítulo 16, não podemos deixar de notar grupos distintos de crentes, o que sugere que não havia uma congregação local (16:5,10-11,14-15).

Uma tradição, sem fundamento histórico ou escriturístico, afirma que Pedro iniciou o ministério em Roma. Embora não se possa provar, alega-se que Pedro viveu 25 anos em Roma. No entanto, com certeza, haveria uma igreja organizada em Roma, em vez de corpos de crentes espalhados, se Pedro tivesse iniciado o trabalho lá. Paulo sempre saúda os líderes espirituais em suas outras cartas; no entanto, em Romanos 16, ele saúda muitos amigos, mas não Pedro. Com certeza, se o grande apóstolo Pedro estivesse ministrando em qualquer lugar de Roma, Paulo o citaria em alguma das epístolas (Efésios, Filipenses, Colossenses, Filemon, 2 Timóteo) que escreveu em sua prisão.

Em Romanos 15.20, Paulo afirma que não edificou seu trabalho sobre a fundação erguida por homem, e esse é o argumento mais forte contra Pedro ter iniciado o trabalho em Roma. Paulo estava ansioso em visitar Roma e ministrar aos santos de lá (Rm 1.13; 15.22-24,28,29; At 19.21; 23.11) mas ele não faria esses planos se outro apóstolo já tivesse iniciado o trabalho lá.

A chegada do Evangelho em Roma

Assim, como o evangelho chegou a Roma? (Atos 2:10 Frígia e Panfília, Egito e das partes da Líbia próximas a Cirene, e romanos que estão morando aqui, tanto judeus como convertidos ao judaísmo;) indica que havia pessoas de Roma no Pentecostes. Priscila e Áquila eram judeus romanos que conheciam o evangelho. No capítulo 16, observe que todos os nomes citados são gentios, o que indica que havia cristãos gentios que gravitavam por Roma e levavam o evangelho para lá.

É provável que essas pessoas tenham sido convertidas de Paulo de outras igrejas. Na época, Roma era o grande centro do mundo, e não é improvável que milhares de peregrinos fossem a Roma. Romanos 1:13-15, 11:13 e 15:14-16 indicam que a maioria dos crentes que receberam a carta era gentia. Naturalmente, essa comunidade cristã também era composta de judeus e de muitos gentios, ex-prosélitos judeus.

III. O motivo para escrever

Paulo estava para encerrar seu trabalho na Ásia (15:19) e ir a Jerusalém com a oferta de amor das igrejas da Ásia (15:25-26). Seu coração sempre ansiou por pregar em Roma, e essa longa carta foi sua forma de preparar os cristãos para sua chegada.

Enquanto estava em Corinto (At 20:1-3), ele também escreveu a carta aos Gálatas, em que respondia aos judaizantes que confundiam as igrejas da Galácia. Talvez, Paulo quisesse advertir e ensinar os cristãos de Roma a fim de impedir que esses judaizantes atrapalhas sem seus planos, caso chegassem a Roma antes dele. Em Romanos 3:8, ele menciona que alguns homens fizeram acusações falsas contra ele. Assim, podemos resumir os motivos para Paulo escrever essa carta da seguinte forma:

Em primeiro lugar:  Preparar o os cristãos para sua visita e explicar-lhes por que não fora antes (1:8-15; 15:23-29).

Em segundo lugar: Ensinar-lhes as doutrinas básicas da fé cristã a fim de que falsos mestres não os confundissem.

Em terceiro lugar: Explicar-lhes o relacionamento entre Israel e a igreja para que os judaizantes não os desvias sem com suas doutrinas.

Em quarto lugar:  Ensinar aos cristãos as obrigações que tinham uns com os outros e com o Estado.

Em quinto lugar: Responder a alguma calúnia lançada contra ele (3.8)

IV. A posição na Bíblia

No Novo Testamento, Romanos é a primeira de três cartas fundamentadas em Habacuque 2:4: "O justo viverá pela sua fé". Encontramos esse versículo em Romanos 1:17 (o tema de Romanos é o justo), em Gálatas 3:11 (o tema de Gálatas é como o justo deve viver) e em Hebreus 10:38 (o tema de Hebreus é viver pela fé)

Romanos é a primeira epístola do Novo Testamento. Constatamos que a ordem das cartas do Novo Testamento segue 2 Timóteo 3:16: "Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para...":

EnsinoRomanos (o grande relato doutrinário).

Repreensão1 e 2 Coríntios (em que Paulo reprova o pecado).

CorreçãoGálatas (em que Paulo corrige os falsos ensinamentos). Educação na justiçaEfésios e as outras cartas de Paulo (em que ensina o viver santo fundamentado na doutrina cristã).

V. O tema

O tema básico de Paulo é a justiça de Deus. Nesses capítulos, usam-se termos relacionados à justiça, de uma forma ou de outra, mais de 40 vezes. Nos capítulos 1—3, ele apresenta a necessidade de justiça; em 3—8, a provisão de justiça, da parte de Deus, em Cristo; em 9—11, como Israel rejeitou a justiça de Deus, e em 12—16, como devemos praticar a justiça em nossa vida diária.

Romanos 1

I. Saudação Rm 1:1-17

As treze cartas de Paulo iniciam-se com o nome do apóstolo. Na época, costumava-se abrir a carta com o nome do remetente e sua apresentação pessoal, em vez de pô-los no fim, como fazemos hoje.

Paulo identifica-se como servo e apóstolo e dá toda glória a Deus ao dizer que foi chamado pela graça de Deus (v. 5) e separado para esse ministério maravilhoso (veja At 13:1-3).

De imediato, ele afirma que seu ministério é do evangelho, que ele chama "evangelho de Deus" (v. 1), o "evangelho de seu Filho" (v. 9) e o "evangelho de Cristo" (v. 16, ARC).

Ele afirma que essas "coisas boas" não são algo novo que ele inventou, mas o cumprimento da promessa do Antigo Testamento da vinda, morte e ressurreição de Cristo. (Veja 1 Co 15:1-4, em que "as Escrituras" obviamente refere- se aos escritos do Antigo Testamento, já que o Novo Testamento estava sendo escrito nessa época.)

Paulo desperta o interesse dos crentes judeus que leem sua carta ao relacionar o evangelho com o Antigo Testamento. O evangelho diz respeito a Cristo: um judeu, segundo a carne (v. 3 acerca de seu Filho, que, humanamente, nasceu da descendência de Davi,), mas prova ser o verdadeiro Filho de Deus, segundo o poder do Senhor por intermédio da ressurreição (v. 4 . e com poder foi declarado Filho de Deus segundo o Espírito de santidade, pela ressurreição dentre os mortos: Jesus Cristo, nosso Senhor.). Isso prova a humanidade e a divindade do Deus-Homem, o único que pode ser nosso Mediador.

Qual o propósito desse evangelho que custa a vida de Cristo? O versículo 5, ao declarar que o objetivo é fazer com que todas as nações obedeçam pela fé, responde a essa pergunta. A pessoa que realmente crê em Cristo obedece a ele.

Nos versículos 6-7, Paulo descreve seus leitores, os santos de Roma.  Eles também são "chamados" por Cristo para ser santos, não apóstolos. Observe que santo é o crente que está vivo em Jesus Cristo. Apenas Deus pode trans formar um pecador em santo! Em bora vivam na perversa cidade de Roma, eles também são os "amados de Deus"! É maravilhoso que Deus nos chame da mesma forma como chamou seu Filho (Mt 3:17): "amados".

Jesus afirma que o Pai nos ama da mesma forma que ama a ele (Jo 17:23)! Nessa breve saudação, Paulo identifica: (1) o escritor, ele mesmo; (2) os destinatários, os santos de Roma (não os descrentes); (3) o tema, Cristo e o evangelho da salvação.

II. Explicação Romanos 1:8-17

Romanos 1 Paulo dá uma dupla explicação: (1) por que escreve a carta (vv. 8-15); e (2) sobre o que escreve (vv. 16-17). Paulo desejava visitar os santos de Roma havia muito tempo. O testemunho deles espalhara-se pelo Império Romano (v. 8; e veja 1 Ts 1:5-10).

Paulo tinha três motivos para estar ansioso por visitá-los:

(1) ajudar a confirmá-los na fé (v. 11); (2) eles seriam uma bênção para ele (v. 12); e (3) para conseguir "algum fruto" entre eles, isto é, ganhar outros gentios para o Senhor (v. 13). Não esqueça que ele, como mensageiro escolhido de Deus para os gentios, era responsável pelos santos (e pecadores) da capital do império! Ele explica que foi "impedido" (v. 13) de visitá-los até aquele momento por causa das muitas oportunidades de ministrar em outros lugares (Rm 15:19-23), não por causa de Satanás (veja 1 Ts 2:18).

Agora, ele pode visitar Roma, pois acabou o trabalho nas outras regiões. Observe as forças motrizes da vida de Paulo (vv. 14-16): "Sou devedor [...]. Estou pronto [...]. Não me envergonho".

Faríamos bem em imitar o exemplo do apóstolo em nossa vida. Os versículos 16-17 apresentam o tema da carta: o evangelho de Cristo revela a justiça de Deus, justiça essa fundamentada na fé, não nas obras, e disponível para todos, não apenas para os judeus.

Em Romanos, Paulo explica como Deus pode ser ambos: o "justo e o justificador", isto é, como ele torna os pecadores justos e, ainda assim, confirma sua santa Lei. Ele cita Habacuque 2:4  "O justo viverá por fé".

III. Condenação Rm 1:18-32

Iniciamos agora a primeira seção da carta que discute o pecado (1:18— 3:20 — veja o esboço). Nesses versículos finais do capítulo 1, Paulo explica como os gentios entraram nessa horrível escuridão que os subjuga e como se revela a ira de Deus contra eles. Repare nos passos descendentes da história dos gentios:

Em primeiro Lugar:  

Eles conheciam Deus (vv. 18-20) Deus deu-lhes duas revelações de si mesmo: "neles" (consciência) e "entre eles" (criação) (v. 19). O homem não começou ignorante e, aos poucos, adquiriu conhecimento; não, desde o início, ele teve a revelação fulgurante do poder e da sabedoria de Deus, mas deu as costas a isso.

Mesmo as pessoas que nunca ouviram o evangelho não têm desculpas, pois Deus revelou-se desde o início da criação. (O capítulo 2 mostra como Deus julga essas pessoas.)

Em segundo Lugar.

Eles não o glorificam como Deus (vv. 21-23) Os homens passaram da verdade para a mentira por causa dos pensaremos vãos e do raciocínio tolo. A indiferença leva à ingratidão, o que resulta em ignorância.

Hoje, as pessoas curvam-se diante das palavras dos filósofos gregos e romanos e honram as palavras destes mais que a Palavra de Deus; Paulo, porém, chama todas essas filosofias de "imaginação" vazia e de "tempos de ignorância" (At 17:30)!

O próximo passo é a idolatria, em que se honra a criatura (até o homem), em vez de o Criador.

Em terceiro Lugar.

Eles mudam a verdade de Deus (vv. 24-25) pecado (v. 32); agora, porém, alcançam o patamar mais baixo de seu declínio: elas não querem nem mesmo ter o conhecimento de Deus! "Diz o insensato no seu coração: Não há Deus" (Sl 14:1).

Os resultados desse declínio são trágicos. Os evolucionistas querem que creiamos que evoluímos de animais primitivos e ignorantes às criaturas maravilhosas que somos hoje. Paulo diz exatamente o contrário: no início, o homem era a criatura mais elevada de Deus, toda via ele fez de si mesmo um animal! Veja os três julgamentos de Deus: Na verdade, a palavra "mudam" de veria ser traduzida por "trocam". As pessoas substituíam a verdade de Deus pela mentira de Satanás!

O que é a mentira de Satanás? É a ado ração da criatura, em vez do Cria dor; do homem, em vez de Deus; das coisas, em vez de Cristo. Satanás tentou Cristo para que fizesse isso (Mt 4:8-11). Em Romanos 1:18, os gentios "detêm a verdade" e, agora, eles "mudam a verdade" em mentira!

A crença e a obediência verdadeiras libertam Jo 8:31-32); a rejeição da verdade e a desobediência a ela escravizam.

Deus entregou-os à imundícia e à idolatria (vv. 24-25).

Deus entregou-os às paixões infames (vv. 26-27).

Deus entregou-os a uma disposição mental reprovável (vv. 28ss).

Em quarto lugar.

Eles rejeitam o conhecimento de Deus (vv. 26-32) No início, essas pessoas tinham o conhecimento claro de Deus (vv. 19,21) e de seu julgamento contra o Deus desistiu deles! Essa é a revelação da ira do Senhor (v. 18).

Embora ainda hoje os pecados enumerados aqui sejam praticados com a aprovação da sociedade, eles são muito vis para ser discutidos ou definidos.

De todo jeito, as pessoas sentem prazer com esses pecados, embora saibam que serão julgadas. Nós mesmos estaríamos nessa escravidão do pecado se não fosse pelo evangelho de Cristo. "Graças a Deus pelo seu dom inefável (2 Co 9.15)

 


 

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