O historiador britânico Lorde John Acton escreveu: “A história não oferece compensação pelo sofrimento nem punição pelos erros” No entanto, Lorde John mostrou-se redondamente enganado em suas palavras. Deus ainda está em seu trono, e a história lhe pertence.
O poeta norte-americano James Russell Lowell resumiu a vida e o ministério de Jeremias: Para todo homem e nação, sempre chega o momento da decisão. Na luta do que é verdadeiro contra a falsidade, escolhe-se o lado do que é bom ou o da maldade.
Jeremias tinha cerca de vinte anos de idade quando recebeu o chamado de Deus no décimo terceiro ano do reinado de Josias (626 a.C.) Por que o rapaz hesitou em aceitar o chamado de Deus?
Cito algumas razões, entre tantas.
1 A TAREFA ERA DIFÍCIL (Jr 1.1)
Hilquias, pai de jeremias, era sacerdote, assim como havia sido seu pai antes dele, e esperava-se que o jovem Jeremias também servisse no altar. É possível até que estivesse na idade de ingressar no ministério quando Deus o chamou para ser profeta.
Tendo em vista que servir como profeta era uma incumbência que exigia muito mais do que servir como sacerdote, não é de se admirar que Jeremias tenha apresentado objeções.
Se eu tivesse de escolher, ficaria com o sacerdócio! Em primeiro lugar, as obrigações de um sacerdote eram previsíveis.
As tarefas do Sacerdote: Praticamente todas as tarefas que deveria realizar encontravam-se descritas na lei. Portanto, tudo o que os sacerdotes precisavam fazer era seguir instruções. A cada dia, havia sacrifícios a oferecer, leprosos a examinar, pessoas impuras a excluir da comunidade, pessoas purificadas a serem reintegradas à comunidade, cerimônias oficiais a serem observadas, o santuário a ser cuidado e a lei a ser ensinada. Não admira que alguns dos sacerdotes tenham dito: “Que canseira!” (Ml 1:13)
O Profeta: O ministério de um profeta, porém, era muito diferente, pois ele nunca sabia de antemão o que o Senhor o chamaria para dizer ou fazer.
O Sacerdote: O sacerdote trabalhava principalmente para preservar o passado ao proteger e manter o ministério do santuário.
O Profeta: Enquanto o profeta labutava para mudar o presente, de forma que a nação pudesse ter um futuro. Quando o profeta via o povo indo na direção errada, procurava trazê-lo de volta para o caminho certo.
O Sacerdote: Os sacerdotes lidavam com elementos externos, como determinar rituais de purificação e oferecer vários sacrifícios que não tinham o poder de tocar o coração das pessoas (Hb 10:1-18).
O Profeta: Mas o profeta tentava alcançar e mudar os corações. A palavra “coração” aparece pelo menos cinquenta vezes no Livro de Jeremias, pois ele se destaca como o profeta do coração.
O Sacerdote: Os sacerdotes ministravam principalmente aos indivíduos por meio de vários rituais e não pregavam às multidões com frequência.
O Profeta: Já os profetas se dirigiam à nação, e era comum que as pessoas às quais se dirigiam não quisessem ouvir a mensagem.
O Sacerdote: Os sacerdotes pertenciam a uma tribo especial e, sendo assim, possuíam autoridade e respeito.
O Profeta: Mas um profeta podia vir de qualquer tribo e precisava comprovar seu chamado divino.
O Sacerdote: Os sacerdotes eram sustentados pelos sacrifícios e pelas oferendas do povo.
O Profeta: mas os profetas não tinham sustento garantido.
Jeremias teria desfrutado uma carreira muito mais confortável com o sacerdote. Assim, não é de se admirar que sua primeira reação tenha sido questionar o chamado de Deus. Oferecer sacrifícios era uma coisa, porém pregar a Palavra a pessoas de coração endurecido era outra bem diferente.
Ao ler este livro, você encontrará uma série de imagens representando seu ministério que revelam como era difícil servir ao Senhor na qualidade de profeta fiel.
Em seu ministério, Jeremias teve de ser:
Um destruidor e um construtor (Jr 1:9-10)
Uma coluna e um muro (Jr 1:17, 18)
Um atalaia (Jr 6:17)
Um depurador de metais (“acrisolador”; Jr 6:27-30)
Um médico (Jr 8:11, 21, 22)
Um cordeiro sacrificial (Jr 11:19)
Um fundista (Jr 12:5)
Um pastor (Jr 13:1 7, 20, 21; 1 7:16, 23)
Um agitador (Jr 15:10, 15-17)
Parece um trabalho fácil?
2. Os TEMPOS ERAM DIFÍCEIS (Jr 1 :2,3; 2 Rs 21 - 25; 2 Cr 33 – 36)
Suponho que não haja um tempo no qual seja fácil servir ao Senhor, mas alguns períodos da história são especialmente difíceis para o ministério espiritual, e Jeremias viveu numa dessas épocas. Considere a história de Judá durante a vida de Jeremias.
Rebelião em vez de obediência.
Para começar, Jeremias nasceu durante o reinado de Manassés, o homem mais cruel a reinar em Judá (2 Rs 21:1-18). Filho do piedoso Ezequias, Manassés chegou ao trono com apenas doze anos de idade, e os oficiais a seu redor não tiveram dificuldades em influenciá-lo a favor da idolatria. “Manassés de tal modo os fez errar [o povo de Judá], que fizeram pior do que as nações que o Senhor tinha destruído de diante dos filhos de Israel” (2 Rs 21:9). Quando Manassés morreu, seu filho Amom deu continuidade às práticas perversas do pai.
Onde Jeremias nasceu: Assim, Jeremias cresceu em Anatote num tempo em que a idolatria prosperava em Judá, as crianças eram oferecidas como sacrifício aos ídolos,(mundo antigo considerava o sacrifício de crianças um ato supremamente religioso, visto que se oferecia à divindade o que era mais precioso ao adorador (Jr 7.31)) a lei de Moisés era desprezada e desobedecida e parecia não haver esperanças para a nação. Sacerdotes piedosos não eram tidos em alta consideração.
Lembrando que o Senhor advertiu o seu povo para não oferecer os seus filhos em sacrifícios: Lv 18.21. E da tua semente não darás para a fazer passar pelo fogo perante Moloque; e não profanarás o nome de teu Deus. Eu sou o Senhor.
Reforma em vez de arrependimento. Em 639 a.C., alguns dos servos de Amom o assassinaram. Seu filho, Josias, tornou-se rei e governou até falecer em 609 a.C. Josias era muito jovem quando começou a reinar, mas teve conselheiros piedosos como Hilquias, e, portanto, buscou ao Senhor. No décimo segundo ano de seu reinado, começou a expurgar a terra da idolatria; seis anos depois, ordenou aos sacerdotes e trabalhadores que reparassem e purificassem o templo.
OBS: Ironicamente, o ministério de Jeremias começou na época em que o rei Josias empreendeu uma reforma em Judá, a fim de purificar a nação da idolatria (2Rs 22 e 23). Mesmo assim, a mensagem do profeta, com seu foco no julgamento, era constantemente rejeitada pelo povo. Apesar do esforço de Josias para fazer que Judá se voltasse para Deus, o povo estava obstinado e complacente, merecendo a sentença que lhes sobreviria.
Foi nessa época que o sacerdote Hilquias encontrou o Livro da Lei no templo e o leu para o rei. E possível que esse documento fosse constituído dos cinco livros de Moisés ou talvez apenas do Livro de Deuteronômio.
Quando o rei ouviu a lei de Deus, foi profundamente tocado. Rasgou suas vestes e mandou chamar a profetisa Hulda para que ela lhe desse instruções do Senhor (2 Rs 22). A mensagem dela dizia que o povo havia abandonado o Senhor e, assim, o juízo estava a caminho, mas por causa do arrependimento sincero de Josias, o julgamento não viria durante seu reinado.
Um outro caso de grande misericórdia de Deus em favor dos fies, estar registrado no reinado de Salomão:
Não devemos esquecer: Que o Senhor não se impressionou com o esplendor real de Salomão, pois o Senhor vê o coração (1 Sm 16:7) e sonda o coração (1 Cr 28:9; Jr 17:10; Ap 2:23). Foi Salomão quem escreveu: “Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o coração, porque dele procedem as fontes da vida” (Pv 4:23). No entanto, em sua velhice, seu coração estava afastado do Senhor.
Quando Salomão nasceu, foi grandemente amado pelo Senhor e recebeu o nome especial de “Jedidias”, que significa “por amor do Senhor” (2 Sm 12:24, 25; ver nota na NVI, 12:25: “amado pelo Senhor”). Vemos aqui, porém, que o Senhor estava irado com Salomão, pois o coração do rei havia se afastado do Senhor.
Não sabemos de que maneira Deus transmitiu essa advertência a Salomão; talvez tenha sido por intermédio de um profeta. Sabemos, porém, que Deus advertiu Salomão de que, depois de sua morte, seu reino seria dividido e seu filho reinaria apenas sobre as tribos de Judá e de Benjamim. As outras dez tribos se tornariam o reino do Norte, Israel.
1 Rs 11.11-13. Pelo que disse o Senhor a Salomão: Visto que houve isso em ti, que não guardaste o meu concerto e os meus estatutos que te mandei, certamente, rasgarei de ti este reino e o darei a teu servo. 12 Todavia, nos teus dias não o farei, por amor de Davi, teu pai; da mão de teu filho o rasgarei; 13 porém todo o reino não rasgarei; uma tribo darei a teu filho, por amor de meu servo Davi e por amor de Jerusalém, que tenho elegido.
Josias estava tomado por um zelo: Josias não esperou que as reformas do templo fossem concluídas para chamar o povo ao arrependimento. Fez uma aliança com o Senhor e dirigiu o povo a renunciar a idolatria e a voltar para a lei de Deus. Infelizmente, a obediência de muitos do povo foi apenas superficial. Ao contrário do rei, os judeus não demostraram arrependimento sincero. Jeremias sabia disso e anunciou com ousadia a mensagem de Deus: “não voltou de todo o coração para mim a sua falsa irmã Judá, mas fingidamente” (Jr 3:10).
Paulo também demostrou um zelo semelhante ao do rei: 2 Co 11.2 Porque estou zeloso de vós com zelo de Deus; porque vos tenho preparado para vos apresentar como uma virgem pura a um marido, a saber, a Cristo.
O verdadeiro amor não é ciumento, mas tem o direito de ser zeloso para com o objeto da afeição. Um marido que zela pela esposa aprecia, com razão, e resiste a qualquer rivalidade que ameace o amor mútuo do casal. Um verdadeiro patriota tem todo o direito de ser zeloso para com sua liberdade e de lutar para protegê-la. Semelhantemente, um pai (ou mãe) zela pelos filhos e procura protegê-los de qualquer coisa que possa lhes fazer mal.
Vemos aqui a imagem de um pai amoroso, cuja filha está noiva e prestes a se casar. Sente que é seu privilégio e dever mantê-la pura, a fim de poder apresentá-la a seu marido com alegria, não com pesar. Paulo vê a igreja local como essa noiva, prestes a se casar com Jesus Cristo (ver Ef 5:22ss e Rm 7:4). Esse casamento só ocorrerá quando Cristo voltar para buscar sua noiva (Ap 19:1-9). Enquanto isso, a igreja – e isso significa os cristãos como indivíduos - deve manter-se pura e se preparar para o encontro com seu Amado.
Com toda essa segurança que Paulo expressava em suas palavras; ele revela um perigo: O perigo, portanto, é que ela seja infiel ao noivo. A mulher que está noiva tem um compromisso de amor e de lealdade a um só homem, o noivo. Se ela se entrega a qualquer outro homem, é culpada de infidelidade. O termo traduzido por “simplicidade”, em 2 Coríntios 11:3, significa “sinceridade, devoção única”. Um coração dividido conduz a uma vida corrompida e a um relacionamento falido.
A imagem do amor e do casamento, bem como da necessidade de fidelidade, é usada com frequência nas Escrituras. O profeta Jeremias via o povo de Judá perder seu amor por Deus e os advertiu: “Assim diz o Senhor : Lembro-me de ti, da tua afeição quando eras jovem, e do teu amor quando noiva, e de como me seguias no deserto, numa terra em que se não semeia” (Jr 2:2).
A nação de Judá havia perdido aquele amor da lua de mel e era culpada de idolatria. Jesus usou essa mesma imagem ao advertir a igreja de Éfeso: “Tenho, porém, contra ti que abandonaste o teu primeiro amor” (Ap 2:4).
Josias conduziu a nação a uma reforma, mas não á um reavivamento que transformasse o coração do povo. Os ídolos foram removidos, o templo foi restaurado e também a adoração a Jeová, mas o povo não se! Voltou para Deus de todo o coração e alma.
Política em vez de princípios. Assim que Josias morreu no campo de batalha e ! que seu filho Jeoacaz se tornou rei, a nação não tardou a se entregar à idolatria. No entanto, o Faraó Neco depôs Jeoacaz, exilou-o no Egito, onde o rei judeu morreu, e colocou no trono o irmão de Jeoacaz, Eliaquim, mudando seu nome para Jeoaquim.
Porém, Jeoaquim não foi melhor do que o irmão e fez “o que era mau perante o Senhor , segundo tudo quanto fizeram seus pais” (2 Rs 23:37).
Instituiu pesados impostos sobre o povo para conseguir pagar o tributo ao Egito e, posteriormente, concordou em pagar tributo a Nabucodonosor, rei da Babilônia. Depois que Jeoaquim voltou atrás em sua promessa, Nabucodonosor levou-o como prisioneiro para a Babilônia, carregando também com ele os utensílios do templo (597 a.C.)
Joaquim, o filho de Jeoaquim, reinou somente três meses, sendo substituído por seu tio, Matanias, o terceiro filho de Josias (1 Cr 3:15), cujo nome foi alterado para Zedequias. Esse foi o último rei de Judá, um monarca fraco e hesitante que temia mais a seus oficiais do que ao Senhor (Jr 38:19). “Fez o que era mau perante o Senhor, seu Deus, e não se humilhou perante o profeta Jeremias, que falava da parte do Senhor” (2 Cr 36:12). Zedequias pediu ajuda a Jeremias enquanto cortejava os embaixadores das nações vizinhas e planejava rebelar-se contra a Babilônia. Permitiu que seus príncipes perseguissem e até aprisionassem Jeremias, apesar de se encontrar em segredo com o profeta em várias ocasiões, como se estivesse buscando a vontade de Deus.
É fácil líderes políticos consultarem líderes religiosos e, depois, fazerem exatamente aquilo que haviam planejado desde o princípio. Nos dias de hoje, é uma boa tática de relações públicas dar às pessoas a impressão de que a “religião” é importante, mas conversar com um pregador conhecido não é a mesma coisa que humilhar-se diante de Deus.
Jeremias pregou à nação durante quarenta anos, entregando-lhe as promessas e advertências de Deus. Ainda assim, viveu para ver Jerusalém e seu amado templo sendo destruídos pelo exército de Nabucodonosor e o povo sendo levado cativo para a Babilônia.
Jeremias ministrou num tempo conturbado, mas permaneceu fiel ao Senhor. Denunciou as inúteis políticas externas dos governantes, suplicando-lhes que se voltassem para o Senhor de todo o coração, confiando em Deus em vez de confiar em seus aliados políticos.
Jeremias é um dos maiores exemplos das Escrituras em termos de fé e de resolução diante do perigo físico e da decadência nacional.
3. O SERVO ESTAVA EM DÚVIDA (Jr 1:4 -11)*
Jeremias hesitou ao olhar para o trabalho diante de si e para a perversidade a seu redor e, ao olhar para as próprias fraquezas, convenceu-se de que não era o homem certo para o desafio. Quando se trata de servir ao Senhor, em certo sentido ninguém é absolutamente adequado. “Quem, porém, é suficiente para estas coisas?” (2 Co 2:16), perguntou o grande apóstolo Paulo ao refletir sobre as responsabilidades do ministério.
Então, respondeu à sua própria pergunta dizendo: “Não que, por nós mesmos, sejamos capazes de pensar alguma coisa, como se partisse de nós; pelo contrário, a nossa suficiência vem de Deus” (2 Co 3:5).
A diferença de Orgulho e Humildade: Contudo, Deus não está cometendo um engano quando nos chama, e se hesitamos ou recusamos a obedecer, agimos com base na incredulidade e não pela fé. Uma coisa é dizer que conhecemos nossas próprias [imitações, porém outra bem diferente é dizer que nossas fraquezas impedem Deus de fazer seu trabalho. Essa atitude não é uma demonstração de verdadeira humildade, mas sim de orgulho.
Deus deu ao jovem Jeremias três certezas maravilhosas:
I. A graça eletiva de Deus (vv. 4,5)
Um de meus professores no seminário costumava dizer: “Tente explicar a eleição divina e você pode perder a cabeça, mas tente desfazer-se dela e perderá sua alma”. Deus não nos salva, nos chama ou usa em seu serviço porque merecemos, mas porque escolhe fazê-lo em sua sabedoria e graça. Trata-se da mais pura graça. “Mas, pela graça de Deus, sou o que sou”, escreveu Paulo, “e a sua graça, que me foi concedida, não se tornou vã; antes, trabalhei muito mais do que todos eles; todavia, não eu, mas a graça de Deus comigo” (1 Co 15:10).
Cada uma das frases em Jeremias 1:5 é importante. Em primeiro lugar, Deus conhecia Jeremias, uma referência à soberana eleição divina de seu servo. Deus escolheu Jeremias antes mesmo que ele fosse concebido ou formado no útero de sua mãe. Então, Deus formou Jeremias e deu-lhe a estrutura genética que desejava que tivesse, Essa verdade é expressa poeticamente no Salmo 139:13-16.
Jeremias não estava muito feliz com o que seu nascimento havia lhe dado (Jr 20:14-18), mas o Senhor sabia o que estava fazendo. Aquilo que somos é um presente de Deus para nós, e o que fazemos com isso é nosso presente para Deus.
Deus santificou Jeremias mesmo antes do nascimento dele. Isso significa que Jeremias foi separado pelo Senhor e para o Senhor, antes mesmo que viesse a conhecer a Deus de forma pessoal. O Senhor, então, ordenou que Jeremias fosse profeta às nações. A preocupação de Deus desde o começo sempre foi de que todas as nações da Terra conhecessem sua salvação. Por isso, chamou Abraão (Gn 12:1-3) e separou a nação de Israel como seu meio especial de trazer sua Palavra e seu Filho ao mundo.
O porta-voz de Deus: O profeta era um porta-voz escolhido e autorizado pelo Senhor para declarar a Palavra de Deus ao povo. Moisés, por exemplo, falou a Arão, que foi seu porta-voz profeta diante de Faraó (Êx 7.1-2).
Os profetas faziam mais do que revelar o futuro, pois suas mensagens tinham aplicações imediatas para a vida do povo. Eram mais proclamadores do que prenunciadores, expondo os pecados do povo e chamando-o de volta a suas responsabilidades na aliança com Deus. Como filhos de Deus, somos escolhidos e separados por ele e para ele (Rm 8:28-30; Ef 1:3-14).
Essa verdade deve nos dar grande coragem quando enfrentarmos o mundo perverso e procurarmos servir ao Senhor. “Se Deus é por nós, quem será contra nós?” (Rm 8:31).
II. A presença protetora de Deus (vv. 6-8).
Deus deu ao jovem Jeremias três instruções: Vá para onde eu o enviar, fale o que eu lhe ordenar e não tenha medo do povo. Então, acrescentou uma grande promessa: “porque eu sou contigo para te livrar” (Jr 1:8). O Senhor repetiu essa promessa ao final de seu chamado: “Pelejarão contra ti, mas não prevalecerão; porque eu sou contigo, diz o Senhor, para te livrar” (v. 19).
Observe, porém, que havia uma condição associada a essa promessa animadora: Jeremias devia ir para onde Deus o mandasse e falar o que Deus lhe ordenasse. Também devia crer nas promessas de Deus e provar sua fé não temendo o povo. É com razão que chamamos Jeremias de “profeta chorão” (Jr 9:1), mas o profeta também era um homem corajoso que enfrentou muitos perigos e provações, permanecendo firme no Senhor. Sabia que o Senhor estava com ele, assim como nós deveríamos saber que Deus está conosco. “De maneira alguma te deixarei, nunca jamais te abandonarei”. Assim, podemos dizer com ousadia: “O Senhor é o meu auxílio, não temerei; que me poderá fazer o homem?” (Hb 13:5,6).
III. A Palavra eficaz de Deus (vv. 9-10)
Quando a brasa do altar celeste tocou os lábios de Isaías, ela o purificou (ls 6:5-7); quando a mão de Deus tocou a boca de Jeremias, deu-lhe poder e autoridade. Deus colocou suas palavras na boca do profeta, e tais palavras foram eficazes no cumprimento da vontade do Senhor. Deus não apenas deu a Jeremias suas palavras, como também prometeu “velar” por elas até que fossem cumpridas (Jr 1:12). Ou seja, todas as palavras que ele recebesse de Deus seriam confirmadas em breve.
A Palavra de Deus criou o Universo: “Os céus por sua palavra se fizeram, e pelo sopro de sua boca, o exército deles [...]. Pois ele falou, e tudo se fez; ele ordenou, e tudo passou a existir” (Sl 33:6-9). O Universo é sustentado pela Palavra de Deus: “sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder” (Hb 1:3). Mas Deus também cumpre seus propósitos aqui na Terra por intermédio de sua Palavra: “Porque, assim como descem a chuva e a neve dos céus e para lá não tornam, sem que primeiro reguem a terra, e a fecundem, e a façam brotar, para dar semente ao semeador e pão ao que come, assim será a palavra que sair da minha boca: não voltará para mim vazia, mas fará o que me apraz e prosperará naquilo para que a designei” (Is 55:10-11).
4. A MENSAGEM ERA PERIGOSA Jr 1.11-19
Ao estudar os profetas do Antigo Testamento, descobre-se que a mensagem deles era entretecida por três verdades:
(1) Pecados do passado: a nação desobedeceu à lei de Deus; (2) Responsabilidades do presente: o povo deve arrepender-se ou Deus mandará juízo; e (3) Esperança para o futuro: o Senhor virá um dia para estabelecer seu glorioso reino.
O Senhor não deu a Jeremias uma mensagem alegre de livramento para anunciar; antes deu-lhe uma mensagem trágica de juízo. Essa mensagem era tão perigosa que, ao ouvi-la, o povo chamou Jeremias de traidor.
Ele foi mal interpretado, perseguido, detido e aprisionado - e, mais de uma vez, sua vida esteve em perigo. A nação não queria ouvir a verdade, mas Jeremias disse lhes claramente que estavam desafiando o Senhor, desobedecendo à sua lei e, portanto, seriam julgados.
Deus deu a Jeremias três promessas, a fim de prepará-lo para essa perigosa missão. Duas delas vieram na forma de visões.
A visão da vara de amendoeira: Deus proverá (v.11-12).
Na Terra Santa, a amendoeira floresce em janeiro, dando a primeira indicação de que a primavera está chegando. A palavra em hebraico para amendoeira é saqed; enquanto a palavra “vigiar” ou “acordado” é soqed. Deus usou esse jogo de palavras para chamar a atenção de Jeremias para o fato de que ele está sempre acordado para velar sobre sua Palavra e cumpri-la.
Com o um marido ou esposa que quebra os votos do matrimônio, a nação pecadora havia abandonado a aliança com o Senhor e entregava seu amor e lealdade a ídolos pagãos. Mas a aliança permaneceria, pois o Senhor não havia se esquecido dela. Deus prometeu abençoá-los se obedecessem e discipliná-los se desobedecessem. “Porque eu [Deus] velo sobre a minha palavra para a cumprir” (Jr 1:12; ver Lv 26; Dt 28). Deus falou à nação pelos primeiros profetas, porém os governantes e o povo não deram ouvidos. Ler 2 Rs 1 7:13-15
A panela ao fogo: a ira de Deus está vindo (13-16)
As nações no Oriente encontravam-se com frequência em conflito, cada uma tentando obter a supremacia. Primeiro, os governantes judeus recorreram ao Egito em busca de ajuda, depois à Assíria (ver is 30 - 31; Jr 2:18, 36); em meio a tudo isso, deixaram de confiar no Senhor e de buscar sua ajuda.
Mas essa visão revela que Deus está no controle das nações do mundo e pode usá-las para realizar seus propósitos. Naquele momento, o Senhor já estava preparando a Babilônia ao norte para ser sua serva e para disciplinar seu povo. Era inútil Judá recorrer ao Egito em busca de socorro, uma vez que o Egito também seria conquistado por Nabucodonosor (Jr 46).
Muitos não creem mais na palavra de Deus e da volta eminente de Jesus: Quando Jeremias começou seu ministério, a potência dominante do Oriente Médio era a Assíria e não a Babilônia, e sem dúvida muitos dos especialistas políticos acharam que Jeremias era um tolo por se preocupar com a Babilônia ao norte. No entanto, o povo de Judá viveu para assistir a Assíria ser derrotada e o Egito ser paralisado, enquanto a Babilônia crescia em poder e as palavras de Jeremias se cumpriam. De fato, os conquistadores babilônios colocaram seus tronos na porta de Jerusalém (Jr 39:1-3), e a cidade santa acabou sendo destruída.
Deus ressaltou o pecado da idolatria (Jr 1:16) - esquecer-se do verdadeiro Deus e adorar a deuses que haviam feito com as próprias mãos. Em sua hipocrisia, o povo de Judá mantinha a adoração no templo, mas Jeová se tornou para eles apenas mais um dentre os muitos deuses que exigiam sua devoção. Chegaram até a levar algumas divindades estrangeiras para dentro do templo (ver Ez 8 - 9)! Os falsos profetas prosperavam em seu ministério superficial e popular, pois prometiam paz ao povo sem nunca chamá-lo ao arrependimento (Jr 5:12, 13; 8:11, 12; 14:13-22).
Os ricos oprimiam os pobres e os tribunais não defendiam os direitos dos oprimidos (Jr 2:34, 35; 5:26-31; 7:1-11). E, no entanto, esses governantes e juízes perversos iam ao templo fielmente e fingiam adorar a Jeová! Tudo o que fizeram foi transformar o templo num “covil de salteadores” (Jr 7:11). Era esse tipo de pecado que Deus estava prestes a julgar.
A cidade a coluna e o muro: Deus protegerá seu servo.
Para
poder correr ou trabalhar com mais facilidade, os homens daquele
tempo precisavam amarrar seus mantos soltos com uma cinta (1 Rs
18:46; 2 Rs 4:29), de modo que “cinge
os lombos”
(Jr 1:1 7) significava “prepare-se
para entrar em ação!”.
Ou, parafraseando: “Aperte
o cinto! Arregace as mangas!”
A expressão “[cingir]
o vosso
entendimento”
(1 Pe
1:13)
significa “preparar
a mente e cultivar uma atitude mental correta tendo em vista a volta
de nosso Senhor”.
Portanto,
estejam com a mente preparada, prontos para a ação; sejam sóbrios
e coloquem toda a esperança na graça que lhes será dada quando
Jesus Cristo for revelado. 1
Pe 1.13.
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