SALMOS - LIVRO 02



Livro 02
A Rebelião Pecaminosa Contra o Senhor, 2.1-12.

Texto Básico: Salmos 2.1-12.
Texto Devocional: Salmos 2.

O Salmo 2 pode ter servido como pano de fundo numa revolta de nações sob o domínio do rei Salomão nos primeiros dias do seu reinado. No entanto, o fato de o salmo ser aplicado a Cristo e ao seu reino no NT (Mt 3.17; At 4.25-26; 13.33; Hb 1.5; 5.5) não menos de cinco vezes aponta para uma rebelião universal contra o governo divino, ato que representa a natureza essencial do pecado.

O salmo consiste em quatro estrofes de três versículos cada. Três oradores estão
Representados:

1. O próprio salmista,
2. O Senhor
3. E o rei.

Nos versículos 1-3, o salmista vê a revolta das nações contra o Senhor e o seu ungido. Nos versículos 4-6, ele vê a futilidade da revolta à luz do poder soberano de Deus e o ouve declarar que Ele colocou o seu Rei sobre o seu santo monte Sião. Nos versículos 7-9, o rei declara o decreto que estabeleceu sua autoridade e recebe a garantia de Deus de que sairá vitorioso. Nos versículos 10-12, o salmista extrai as lições que os povos rebeldes deviam aprender, e exorta-os a fazerem as pazes com Deus.

1. A Rebelião das Nações. (2.1-3). Por que se amotinam as nações, e os povos tramam em vão? 2 Os reis da terra se levantam, e os príncipes juntos conspiram contra o Senhor e contra o seu ungido, dizendo: 3 Rompamos as suas ataduras, e sacudamos de nós as suas cordas.

Por que se amotinam as nações? (1) refere-se ao goyim, “gentios”, “pagãos”, não-
israelitas, como distintos do povo de Israel. As nações estavam se amotinando com o propósito de organizar uma insurreição (motim). As nações antagônicas ao verdadeiro Deus podem ser chamadas de forma apropriada de “gentios”. Um exemplo de motim, na Carta aos Hebreus o autor diz: Hb 3.12. Vede, irmãos, que nunca se ache em qualquer de vós um perverso coração de incredulidade, para se apartar do Deus vivo; (cf Hb 12.15). Jesus por sua vez deixa claro: Lc 7.23. E bem-aventurado aquele que não se escandalizar de mim. Apesar que o texto se refere aos gentios; provavelmente eles estava sobre o governo do Senhor.

Os povos imaginam significa “os povos meditam,”-, a mesma palavra é usada em 1.2, mas aqui tem a conotação de tramar uma ação maléfica. Entende-se por coisas vãs uma rebelião irracional e sem esperança. Lucas registra em Atos 4.26. Levantaram-se os reis da terra, e as autoridades ajuntaram-se à uma, contra o Senhor e contra o seu Ungido

Uma atitude irracional ou loucura, se rebelar contra o Senhor. A rebelião não tem uma acusação meramente política. Ela é contra o Senhor e contra o seu ungido (v2 Os reis da terra se levantam, e os príncipes juntos conspiram contra o Senhor e contra o seu ungido, dizendo) — Em hebraico: Meshiach, que é Messias. Quando traduzido para o grego, Meshiach se torna Christos (Cristo em português). Essa é a justificativa para uma interpretação messiânica do salmo, junto com a aplicação feita no NT para Jesus.

Os rebeldes estão determinados a romper as suas ataduras (v3 Rompamos as suas ataduras, e sacudamos de nós as suas cordas.) — possivelmente os ferrolhos que prendiam o jugo ao animal — e suas cordas — que podem representar as rédeas usadas para controlar o boi que puxava o arado. “Lance fora o seu jugo” (Anchor).

Quaisquer que tenham sido as circunstâncias imediatas, esses versículos representam a descrição de pecado mais comum do AT. O pecado não é meramente uma imperfeição humana ou finita. O pecado é uma rebelião moral, uma revolta contra as leis de Deus. Pecar é colocar a vontade do homem no centro da vida, em vez da vontade de Deus. A revolta das nações é um retrato do pecado da alma humana de cada indivíduo.

Ainda que, usemos de justificativa, por exemplo: porque a vontade de Deus é melhor do que a nossa? A resposta estar estampada nos nossos planos, pois somos atraídos pelo que é transitório, passageiro, que produz prazer de momento, mas não nos permite estarmos saciados; por outro lado Deus conhece nossa natureza, tão claro quando água cristalina.


2. Resposta do Senhor (2.4-6) Aquele que está sentado nos céus se rirá; o Senhor zombará deles. 5 Então lhes falará na sua ira, e no seu furor os confundirá, dizendo: 6 Eu tenho estabelecido o meu Rei sobre Sião, meu santo monte.

A resposta de Deus é retratada pelo salmista em termos de escárnio e desprezo humanos. A Bíblia frequentemente atribui a Deus aspectos, atitudes e ações derivadas da experiência humana. Isto é feito sem a intenção de rebaixar o Infinito ao nível humano, mas para apresentar verdades em termos que somos capazes de entender. O Senhor é visto como aquele que habita nos céus (v4 Aquele que está sentado nos céus se rirá; o Senhor zombará deles.), “entronizado nos céus” (Perowne). Ele nem precisa se elevar para opor-se ao motim.

O Senhor não é o nome mais comum atribuído a Deus, Yahweh (traduzido por Senhor na ARC e ARA) mas Adonai (Senhor, indicado pelas letras em caixa baixa depois da letra inicial maiúscula). “Deus é visto como o governante soberano do mundo, em vez de o Deus da aliança de Israel”.

Então, lhes falará (v5 Então lhes falará na sua ira, e no seu furor os confundirá, dizendo:) descreve o poder da palavra de Deus. Ele falará a palavra para trazer confusão aos seus inimigos. Os confundirá significa que anulará seus esforços, importunando, confundindo e aterrorizando-os. Furor significa literalmente uma ira que consome ou uma ira ardente (cf. Ex 15.7 Na grandeza da tua excelência derrubas os que se levantam contra ti; envias o teu furor, que os devora como restolho). Jesus uma certa vez disse: Jo 5.24. Em verdade, em verdade vos digo que quem ouve a minha palavra, e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna e não entra em juízo, mas já passou da morte para a vida.

Nos salmos 35.4. Sejam envergonhados e confundidos os que buscam a minha vida; voltem atrás e se confudam os que contra mim intentam o mal. Esta afirmação estar sustentada pela justiça Divina e não da justificação particular de um ser humano.

Semelhante à primeira estrofe que termina com palavras hostis dos rebeldes, a segunda estrofe termina com as palavras do Senhor. O Rei que governa sobre o santo monte Sinão (v6 Eu tenho estabelecido o meu Rei sobre Sião, meu santo monte). literalmente “Sião, o monte da minha santidade” — é o nomeado e ungido de Deus. Visto que Ele reina pela autoridade e em nome de Deus, oposição a Ele é oposição a Deus. Os cristãos corretamente aplicam essa verdade a Jesus. “Quem me recebe a mim, recebe aquele que me enviou” (Mt 10.40; Jo 13.20).

3. Reafirmação do Rei. (2.7-9) Falarei do decreto do Senhor; ele me disse: Tu és meu Filho, hoje te gerei. 8 Pede-me, e eu te darei as nações por herança, e as extremidades da terra por possessão. 9 Tu os quebrarás com uma vara de ferro; tu os despedaçarás como a um vaso de oleiro.

Chegou a vez de o rei falar. Recitarei o decreto (v7 Falarei do decreto do Senhor; ele me disse: Tu és meu Filho, hoje te gerei), isto é, anunciarei a constituição do Reino de acordo com a vontade de Deus.

O Senhor (Yahweh) disse: Tu és meu Filho; eu hoje te gerei. Estas palavras são aplicadas à ressurreição de Jesus por Paulo em seu sermão em Antioquia (At 13.33 a qual Deus nos tem cumprido, a nós, filhos deles, levantando a Jesus, como também está escrito no salmo segundo: Tu és meu Filho, hoje te gerei), e pelo escritor aos Hebreus, tanto em relação à filiação de Jesus como sendo superior aos anjos (Hb 1.5 Pois a qual dos anjos disse jamais: Tu és meu Filho, hoje te gerei? E outra vez: Eu lhe serei Pai, e ele me será Filho?) como em Cristo ter sido feito sumo sacerdote pela própria ação de Deus (Hb 5.5 Assim também Cristo não se glorificou a si mesmo, para se fazer sumo sacerdote, mas o glorificou aquele que lhe disse: Tu és meu Filho, hoje te gerei;).

Somente neste texto do AT o termo gerei é usado tendo o Senhor como seu tópico. Em relação a Cristo, a palavra hoje tem recebido diversas interpretações. Ela pode ser entendida como o “dia” da sua geração eterna, o dia da sua concepção pela virgem ou o dia da sua ressurreição (Rm 1.4 e que foi declarado Filho de Deus com poder, segundo o espírito de santidade, pela ressurreição dentre os mortos,). Alguns entendem que todo o seu estado encarnado é visto como o seu “dia”.

Deus responde à declaração do seu Rei com a promessa de domínio universal. As
nações (v8 Pede-me, e eu te darei as nações por herança, e as extremidades da terra por possessão) são, como no versículo (goyim), “pagãos” ou “gentios”. Confins da terra — literalmente, “até os limites da terra”. Herança e possessão são termos frequentemente usados como a dádiva da Palestina a Israel.

Na expressão: Tu os esmigalharás (19), o verbo hebraico, dependendo das vogais, pode significar “quebrar” ou “reger”. Os tradutores da LXX entenderam o termo como “reger” (veja Ap 2.27 e 12.5). No entanto, despedaçarás certamente significa destruição. Portanto, as duas linhas podem ser lidas da seguinte forma: “Com vara de ferro as regerás e as despedaçarás como um vaso de oleiro Ap 2.27” (ARA). 

Isto é, aqueles que se submetem à autoridade de Cristo serão seus subordinados e aqueles que resistem serão destruídos. Paulo usado pelo Espírito Santo diz: Rm 6.16. Não sabeis que daquele a quem vos apresentais como servos para lhe obedecer, sois servos desse mesmo a quem obedeceis, seja do pecado para a morte, ou da obediência para a justiça?

4. Arrependimento Exigido dos Rebeldes (2.10-12) Agora, pois, ó reis, sede prudentes; deixai-vos instruir, juízes da terra. 11 Servi ao Senhor com temor, e regozijai-vos com tremor. 12 Beijai o Filho, para que não se ire, e pereçais no caminho; porque em breve se inflamará a sua ira. Bem-aventurados todos aqueles que nele confiam.

Na última estrofe, o salmista fala diretamente aos rebeldes. O texto hebraico começa com: Agora, pois (v10 Agora, pois, ó reis, sede prudentes; deixai-vos instruir, juízes da terra), como que indicando a conclusão extraída dos versículos precedentes. Deixai-vos instruir ou “admoestar”. Juízes é um termo usado para os governantes em geral, incluindo os subordinados do Rei.

Em vez de continuar com sua rebelião, o povo é impelido a servir o Senhor com temor (v11 Servi ao Senhor com temor, e regozijai-vos com tremor). Aqui se tem em mente mais do que uma mera submissão política, visto que servir e temor são usados constantemente no AT com significado religioso. “O temor do Senhor” é o respeito reverente com o qual o homem deve venerar o Deus soberano.

Esse conceito do AT é o que mais se aproxima da palavra “religião”. Esse serviço capacitará o homem a alegrar-se com tremor. Não existe contradição nessa cláusula. Ela representa a harmonização da “alegria do Senhor” com “o temor do Senhor”. As duas emoções são apropriadas ao homem diante do seu Criador.

Da mesma forma que a rebelião se expressou contra o Senhor e contra o seu ungido, assim o arrependimento deve incluir tanto o Deus soberano como o seu Filho real. Beijai o Filho (v12 Beijai o Filho, para que não se ire, e pereçais no caminho; porque em breve se inflamará a sua ira. Bem-aventurados todos aqueles que nele confiam) é visto como uma homenagem submissa a Ele. 

Essa expressão é contestada, mas nenhuma melhor tem sido sugerida; assim, a interpretação tradicional deve ser conservada. “Incline-se até o chão diante dele” (Harrison). Existem exemplos frequentes na Bíblia em que o beijo representa submissão e obediência (1 Sm 10.1; 1 Ts 19.18; Jó 31.27; Os 13.2). O hebraico para quando em breve se inflamar a sua ira é literalmenteporque a sua ira pode se inflamar rapidamente”.

1 Sm 10.1. Então Samuel tomou um vaso de azeite, e o derramou sobre a cabeça de Saul, e o beijou, e disse: Porventura não te ungiu o Senhor para ser príncipe sobre a sua herança?
Jó 31.27. e o meu coração se deixou enganar em oculto, e a minha boca beijou a minha mão;
Os 13.2. E agora pecam mais e mais, e da sua prata fazem imagens fundidas, ídolos segundo o seu entendimento, todos eles obra de artífices, e dizem: Oferecei sacrifícios a estes. Homens beijam aos bezerros!

O salmo conclui com uma bem-aventurança. Bem-aventurados todos aqueles que nele confiam significa literalmente: “Bem-aventurados todos aqueles que buscam refúgio nele”. “Quão abençoados são todos aqueles que confiam nele!” (Anchor). Confiar no Senhor é colocar-se aos cuidados dele, debaixo da sua proteção. Assim como o pecado e a rebelião levam a uma certa destruição, a confiança e a submissão trazem bênção divina. “O ímpio tem muitas dores, mas aquele que confia no Senhor, a misericórdia o cercará” (Sl 32.10).





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