O Livro dos Salmos. Livro 1.



O Livro de SALMOS

Texto Básico: “Salmos 1”

Introdução: 1.1-6 O nome hebraico de Salmos é Tehillim, que significa “louvores, termo que reflete boa parte do conteúdo do livro. O nome “Salmos” das Bíblias em latim e português vem do grego psalmoi, que significa literalmente “sons [das cordas da harpa]” e, portanto, canções cantadas para acompanhar a harpa.

Esse nome foi retirado da Septuaginta (cf. sua autenticação neotestamentária em Lc 20.42) e reflete a forma das poesias do livro. O mesmo pode ser dito de seu título alternativo, Psalterion, que indica uma coleção de canções para harpa, da qual vem a designação “Saltério” dos salmos de Davi.

Os Salmos, estão incluso nos Livros Poéticos, que vão de Jó a Cantares de Salomão. Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes e Cântico dos Cânticos.

Os quarenta e um salmos do Livro I são todos atribuídos a Davi, com a exceção dos Salmos 1,2,10 e 33, que estão sem títulos. Somente o Livro V é mais extenso. Não existe uma ordem específica de organização nesta coleção de salmos. Uma série de títulos relaciona os salmos individuais a acontecimentos na vida de Davi, mas não estão organiza dos em ordem cronológica.

Vejamos o que os Salmos tem a nos ensinar:

O primeiro salmo pode ser considerado a abertura da coleção inteira. E bem possível que ele tenha sido composto com esse objetivo. Ele não contém um título, mas foi evidentemente escrito e conhecido antes da época de Jeremias, visto que Jeremias 17.5-8 parece ser uma paráfrase e expansão de uma parte deste salmo.

Este salmo é considerado um salmo de sentenças morais. Ele traça um contraste acentuado entre os justos e os ímpios que encontramos na literatura moral. Ele demonstra o que tem sido chamado de “a doutrina da retribuição”.

Os justos prosperam e são felizes. Os ímpios são afligidos e têm uma vida curta. No entanto, conheciam-se exceções muito claras em casos individuais a essa regra. Mas o princípio geral era aceito como verdadeiro e válido.

1. A BÊNÇÃO DOS SANTOS (1.1-3)

V.1. Como é feliz aquele que não segue o conselho dos ímpios, não imita a conduta dos pecadores, nem se assenta na roda dos zombadores! 2 Ao contrário, sua satisfação está na lei do Senhor, e nessa lei medita dia e noite. 3 É como árvore plantada à beira de águas correntes: Dá fruto no tempo certo e suas folhas não murcham. Tudo o que ele faz prospera!

O homem piedoso é descrito, primeiramente, em termos do que ele não faz. Ele é
bem-aventurado (1; asher) ou feliz. A LXX usa makarios, o mesmo termo grego encontrado nas Bem-aventuranças em Mateus 5.3-11.

O justo é feliz naquilo que ele não faz. A religião consiste em mais do que aspectos negativos, mas ela também inclui essa faceta. Não é possível construir um prédio sem escavação; semelhantemente, não pode haver vida santa sem renúncia do mal. A felicidade do justo consiste primeiramente no fato de que ele não anda segundo o conselho dos ímpios (hb., rashaim, os perversos). Em Romanos 6.4. Fomos, pois, sepultados com ele pelo batismo na morte, para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de vida.

O estudioso Kirkpatrick sugere que “se a noção primária da palavra hebraica rasha é inquietação (veja Jó 3.17; Is 57.20,21), a palavra expressa de uma maneira clara a desarmonia que o pecado incutiu na natureza humana, afetando o relacionamento do homem com Deus, com o próximo e consigo mesmo”

a. Jó 3.17. Ali os ímpios cessam de perturbar; e ali repousam os cansados
b. Is 57.20-21. Mas os ímpios são como o mar agitado; pois não pode estar quieto, e as suas águas lançam de si lama e lodo.  21 Não há paz para os ímpios, diz o meu Deus.

Nem se detém no caminho dos pecadores. A forma intensa do termo traduzido por pecadores indica que o autor tinha em mente transgressores habituais e determinados. Os escarnecedores, com frequência descritos no livro de Provérbios, são “os ímpios da pior qualidade; eles são arrogantes, briguentos, injuriosos, inimigos da paz e ordem entre os homens e em suas comunidades, e zombadores da bondade”.

Existe um progresso inequívoco aqui, descrevendo o caminho que o justo evita com todo cuidado.

a. Anda significa uma associação casual ou passageira com aqueles que estão fora de sintonia com Deus.

b. Detém é uma comunhão contínua com pessoas que são continuamente pecaminosas em atitudes e atos.

c. Assenta implica que a pessoa está à vontade no meio daqueles que zombam de Deus e da religião. A pessoa justa recusa-se a dar um passo sequer em direção a esse caminho inferior.

O JUSTO E SEU CARÁTER

O caráter do justo é então descrito positivamente. Uma pessoa que é verdadeira mente feliz faz o seguinte: Ela tem o seu prazer na lei do Senhor (2), o ensino ou instrução de Javé. O termo hebraico torah tem um significado muito mais amplo do que é sugerido por “lei”. Ela representa todo o caminho revelado de vida contido nos ensinos de Moisés e nos profetas e é usada paralelamente com a expressão “a palavra do Senhor”.

Estes termos são virtualmente sinônimos. O termo hebraico para medita vem da raiz que sugere o murmúrio (sussurro) daquele que está estudando à meia voz as palavras de um livro. 3 “A verdadeira felicidade não se encontra no próprio pensamento do homem, mas na vontade revelada de Deus”. 4 O cristão é “gerado, guiado e nutrido pela Bíblia”.

Os resultados de uma vida justa são descritos por meio de símbolos conhecidos. Esse homem é como a árvore plantada junto a ribeiros de águas (3). A imagem é de uma árvore bem irrigada, favoravelmente colocada (“transplantada”, Anchor) junto a um ribeiro ou canal de irrigação, cultivada e cuidada, e, como consequência disso, frutífera.

NÃO É UM CRESCIMENTO ALEATÓRIO:
Esse não é um crescimento silvestre, que sobrevive por acaso. A menção de folhas que não caem e a abundância de água sugere que se tinha em mente uma tamareira. Nas palavras tudo quanto fizer o salmista abandona a figura da árvore e se refere diretamente ao justo. Está inferida, é claro, a ideia de que esse homem vai fazer aquelas coisas por meio das quais o Senhor o possa fazer prosperar.

2. A CARGA DO PECADOR (1.4-6)

O pecador está em completo contraste com o justo. Os ímpios (4) são os rashaim do versículo 1. Ao contrário da árvore com raízes profundas, eles são como a moinha (palha) que o vento espalha. Esta é uma referência ao local de debulha onde a palha era batida e separada do trigo. Esse local geralmente ficava no topo de uma colina ou num lugar alto onde o vento soprava mais forte.

O trigo e a palha juntos eram jogados para cima com pás. O trigo mais pesado caía no chão para então ser cuidadosamente recolhido, mas a palha leve e imprestável era levada pelo vento. Provavelmente esse método de separa a palha do grão, eram conhecidos como cirandar o trigo. Jesus faz menção dessa atividade alertando a Pedro sobre a pretensão de Satanás em cirandar-lo Lc 22.31-32. Simão, Simão, eis que Satanás vos pediu para vos cirandar como trigo;  32 mas eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; e tu, quando te converteres, fortalece teus irmãos.

As pessoas ímpias são semelhantes à palha, sem raízes ou frutos, incapazes de subsistir no juízo (v5 Por isso os ímpios não resistirão no julgamento, nem os pecadores na comunidade dos justos.). Os ímpios não conseguirão sobreviver ao julgamento do último dia nem ao julgamento contínuo do peneirar providencial de Deus do caráter humano. Nem resistirão os pecadores na congregação dos justos.

Esses pecadores são persistentes e habituais, como no versículo v1. A congregação dos justos é o ideal bíblico para a verdadeira comunidade de fé. O propósito dos julgamentos atuais de Deus bem como do seu julgamento final no porvir (Mt 13.24-30, 36-43) é remover o mal e os malfeitores de sua Igreja.

Um resumo do contraste entre justo e ímpio no Salmo 1 pode ser observado no seu último versículo. A primeira parte do versículo 6, Porque o Senhor conhece o caminho dos justos, resume os versículos 1-3. A segunda parte resume os versículos 4-5.

O Senhor conhece, não no sentido abstrato de estar ciente ou informado, mas no sentido concreto e pessoal de cuidar, aprovar, guiar e estar atento. E possível, em alguns contextos, traduzir yada, “conhecer”, por “cuidar” ou “se importar”. De modo inverso, o caminho dos ímpios perecerá, terminará em ruína, “caminhos da morte” (Pv 14.12 Há um caminho que ao homem parece direito, mas o fim dele conduz à morte). As primeiras e últimas palavras do salmo resumem o contraste que é traçado entre os justos e os ímpios: bem-aventurado e perecerá.










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