Os
Milagres e Sinais na Obra Redentora de Jesus.
Texto
Básico: Mateus 4.23-25.
Texto
Devocional: Atos 10.38-43. concernente
a Jesus de Nazaré, como Deus o ungiu com o Espírito Santo e com
poder; o qual andou por toda parte, fazendo o bem e curando a todos
os oprimidos do Diabo, porque Deus era com ele.
Introdução:
Atos 10.38-48 - Foi no batismo de Jesus por João (cf. Lc 4.1
Jesus,
pois, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão; e era levado pelo
Espírito no deserto, 14 Então
voltou Jesus para a Galileia no poder do Espírito; e a sua fama
correu por toda a circunvizinhança.)
que Deus ungiu a Jesus de Nazaré como Espírito Santo e com virtude;
o qual andou fazendo o bem e curando a todos os oprimidos do diabo
(38). Isto resume uma grande parte do Evangelho de Marcos.
Pedro
afirma: Nós — ele e os seis companheiros de Jope — somos
testemunhas de todas as coisas que fez, tanto na terra da Judeia
[como o v. 37; algumas versões apresentam “dos judeus”] como em
Jerusalém (39), na parte final do seu ministério. Foi ali que Ele
foi pendurado num madeiro (crucificado). No terceiro dia Deus o
ressuscitou e fez que se manifestasse (40) — tradução literal.
Mas
isto foi não a todo o povo, mas às testemunhas que Deus antes
ordenara; a nós que comemos e bebemos juntamente com ele, depois
que ressuscitou dos mortos (41). Esta afirmação está
perfeitamente de acordo com o que é encontrado nos Evangelhos. O
Cristo ressurrecto mandou que os discípulos fossem pregar ao povo
(Mt 28.19) e testificar que Jesus Cristo é o que por Deus foi
constituído juiz dos vivos e dos mortos (42).
A
observação final da mensagem de Pedro foi expressamente
evangelizadora: A este dão testemunho todos os
profetas, de que todos os que nele creem
receberão o perdão dos pecados pelo seu nome (43). No texto
grego, a frase todos os * que nele creem é colocada no final, como
uma ênfase. Este Evangelho de perdão dos pecados por meio da fé em
Jesus Cisto é para todos aqueles que crerem, tanto judeus quanto
gentios.
Mt
4.23-25. Este parágrafo abrange uma afirmação muito breve de
um percurso pela Galiléia (23 E
percorria Jesus toda a Galileia, ensinando nas sinagogas, pregando o
evangelho do reino, e curando toda sorte de doenças e enfermidades
entre o povo.)
que Jesus fez logo depois de alistar os seus primeiros quatro
assistentes. O seu ministério tinha três funções definidas:
ensinar... pregar... curar.
O
ensino ocorria, em primeiro lugar, nas sinagogas. Estes eram os
lugares de ado
ração
nas cidades e nos povoados. Elas também funcionavam como escolas,
onde os meninos judeus podiam memorizar as Escrituras. Os tribunais
locais estavam ligados às sinagogas, assim elas formavam o centro da
vida na comunidade. George A. Buttrick diz: “A sinagoga era ao
mesmo tempo uma escola, um conselho local e uma igreja”
Sinagoga
e sua origem: Nem o Antigo Testamento nem os textos apócrifos
nos contam qualquer coisa sobre a origem da sinagoga. Mas as razões
para o seu surgimento parecem bastante óbvias. Quando o Templo em
Jerusalém foi destruído em 586 a.C., os judeus ficaram sem um lugar
para adoração. No cativeiro eles se reuniam naturalmente para orar.
A
palavra grega synagoge quer dizer “uma reunião”. O mesmo
aconteceu com a palavra “igreja”, que foi usada primeiramente
para a congregação, e posteriormente para o edifício onde ela se
reunia.
Jesus
pregava o Evangelho do Reino. Estas eram as boas-novas de que o
reino de Deus estava sendo oferecido aos homens na pessoa de Cristo,
o Messias. Além disso, Ele estava curando todas as enfermidades e
moléstias entre o povo. Não havia limites para o seu poder. Nenhum
caso era difícil demais para Ele. Ele era o grande Médico do corpo,
assim como da alma.
A
sua fama correu (24 Assim
a sua fama correu por toda a Síria; trouxeram-lhe todos os que
padeciam, acometidos de várias doenças e tormentos: os
endemoninhados, os lunáticos, e os paralíticos. E ele os curou).
A expressão Toda a Síria incluía a Palestina, assim como o
território ao norte dela incluía os atuais países da Síria e do
Líbano. Como um resultado dessa publicidade, os doentes eram
trazidos até Ele vindos de todas as partes. Eles são descritos como
aqueles que padeciam acometidos de várias enfermidades e tormentos.
Tormentos,
que pode ser traduzida como torturas, enfatiza a dor e o sofrimento
causado pelas doenças. Entre aqueles que vinham estavam os
endemoninhados (aqueles que eram possuídos por demônios - a palavra
em grego é daimonizomenous, “endemoninhados”).
Os
lunáticos, da mesma maneira, correspondem a uma palavra,
seleniazomenous, que literalmente significa “afetado pela lua”.
A palavra era usada com referência a epilépticos que
supostamente tinham sido influenciados pela lua. Os paralíticos são
simplesmente paralytikous. Diz-se que ele os curava de todos esses
casos difíceis. O verbo é therapeuo, de onde vieram palavras como
“terapia” e “terapeuta”.
Vejamos
os muitos milagres que Jesus operou antes da morte; sinais durante a
sua crucificação e após a sua ressurreição.
1.
A cura de um Leproso: Mt 8.1-4; Mc 1.40-45; Lc
5.12-16.
Este
acontecimento também está registrado em Marcos 1.40-45 e em
Lucas 5.12-16. Como de costume, o relato de Marcos é o mais
vívido dos três. Marcos coloca o episódio no final de uma viagem
de pregação pela Galileia. Lucas o coloca depois do chamado dos
quatro primeiros discípulos. Mas Mateus o coloca depois do Sermão
do Monte. Isto está de acordo com o seu padrão de arranjo
sistemático, agrupando em um lugar os ensinos de Jesus, e em outro
os seus milagres.
Um
exemplo interessante das diferenças de vocabulário dos três
Evangelhos Sinóticos, embora com o mesmo significado, se encontra
aqui.
1)
Mateus diz que veio um leproso e o adorou
2).
Marcos diz: “rogando-lhe e pondo-se de joelhos”.
3)
E Lucas diz: “prostrou-se sobre o rosto e rogou-lhe”. Os
três autores utilizam uma considerável liberdade de expressão para
relatar os mesmos fatos, como seria de se esperar.
Quando
Jesus tocou o leproso
(3
E
Jesus estendeu a mão e tocou-o, dizendo: Eu quero, fica limpo! E
imediatamente sua lepra foi curada),
Ele se tomou cerimonialmente impuro, de acordo com a Lei. Mas, na
verdade, o seu poder purificou a doença.
Assim
nós, em
vez de
ficarmos contaminados pelo contato com os pecadores, deveríamos,
pelo poder do Espírito Santo, ter uma influência redentora sobre
eles. Como a lepra, na sua maneira de espalhar-se pelo corpo e de
devastá-lo, é um tipo impressionante do pecado na alma, é adequado
que a sua cura seja mencionada como uma “purificação” (cf. Lv
14.2 Esta
será a lei do leproso no dia da sua purificação: será levado ao
sacerdote).
Os
versículos 2 e 3 sugerem o tópico “A Disposição do Amor” com
três pontos:
1)
O medo do homem – se quiseres;
2)
A fé do homem – podes tornar-me limpo;
3)
o cumprimento por parte do Mestre – Quero; sê limpo.
Cristo
mandou que o homem curado se apresentasse ao sacerdote, para que
pudesse ser oficialmente declarado purificado (cf. Lv
14.1-52).
A expressão para
lhes servir de testemunho
(4
Disse-lhe
então Jesus: Olha, não contes isto a ninguém; mas vai, mostra-te
ao sacerdote, e apresenta a oferta que Moisés ordenou, para lhes
servir de testemunho)
se refere aos sacerdotes, pois Jesus já lhe tinha dado a ordem de
não divulgar o ocorrido.
Marcos
conta que o homem curado desobedeceu esta ordem. O resultado foi que
o Mestre passou a enfrentar um obstáculo em seu ministério de
ensino; as grandes multidões que vinham em busca de curas (Mc 1.45;
cf. Lc 5.15). Como de costume, a narrativa de Mateus é a mais curta
das três.
2.
A Cura de um Criado do Centurião:
Mt 8.5-13; Lc 7.1-10.
Este
episódio não é registrado por Marcos, mas somente por Lucas
(7.1-10). Aconteceu em Cafamaum, a cidade que Jesus tinha adotado
como seu quartel-general. Um centurião - que era o oficial
encarregado de cem soldados romanos - veio até Cristo com um pedido
urgente. Um dos seus servos, “a quem... muito estimava” (Lc 7.2)
jazia em casa paralítico e violentamente atormentado (6).
Lucas
diz que ele estava “doente e moribundo”. Jesus imediatamente
respondeu: Eu irei e lhe darei saúde (7). Mas o centurião objetou,
dizendo que ele não era digno de que o Mestre viesse à sua casa
(8). Tudo o que Jesus precisava fazer era dizer somente uma
palavra e o seu servo seria curado. Ele argumentou que, assim
como ele dava as ordens e elas eram obedecidas, da mesma maneira as
ordens do Mestre teriam completa autoridade para a sua execução
(9). Quando Jesus ouviu esta incomum declaração de fé no seu
divino poder, maravilhou-se (10) e disse aos seus seguidores
de pouca fé: Em verdade vos digo que nem mesmo em Israel
encontrei tanta fé.
Cristo
se maravilhou: Há somente uma outra ocasião em que se diz que
Cristo se maravilhou, ou se admirou, e esta foi diante da
incredulidade das pessoas da sua cidade (Mc 6.6 E
admirou-se da incredulidade deles. Em seguida percorria as aldeias
circunvizinhas, ensinando). O Mestre deve
ter sentido uma mistura de emoções ao ouvir as palavras do
centurião - uma vibração de alegria diante da fé de um gentio, e
uma pontada de tristeza diante da descrença dos seus companheiros
judeus. Não se pode deixar de imaginar quais podem ser as Suas
reações diante das atitudes dos membros da Sua igreja na
atualidade. Será que estamos alegrando o coração de Jesus com uma
convicta fé nele?
Somente
Mateus registra, nesta ocasião, a advertência de Cristo de que
muitos gentios virão do Oriente e do Ocidente (11) para se sentarem
à mesa com os patriarcas no Reino dos céus, ao passo que os filhos
do Reino (12) - os judeus - serão lançados nas trevas exteriores
(11-12). Este é um dos diversos pontos onde Jesus faz uma forte
advertência quanto a estar perdido na noite da eternidade. Vindo no
final desta demonstração de fé, o ensino é claro. Aqueles que vêm
ao Reino dos céus o fazem por meio da fé. Aqueles que não
possuírem esta fé serão lançados fora.
O
Mestre mandou que o centurião fosse para casa, com fé. E, naquela
mesma hora, o seu criado sarou (13). William Barclay desenvolve essa
história sob três títulos:
1)
Um pedido de um bom homem (5-6);
2)
O passaporte da fé (7-12);
3)
O poder que aniquila as distâncias (13).
Em
um exame superficial, parece que Mateus e Lucas apresentam uma séria
contradição em suas narrativas (veja o comentário sobre Lc
7.1-10). Lucas diz que o centurião não veio pessoalmente até
Jesus, mas enviou alguns “anciãos dos judeus” para fazerem o
pedido. Eles rogaram muito, dizendo que o centurião amava a nação
judaica e que tinha construído a sinagoga deles (Lc 7.5). Quando
Jesus estava a caminho da casa do homem, ele “enviou-lhe... uns
amigos” para lhe dizer que não precisava vir, mas apenas
pronunciar uma palavra de cura.
Todo
o problema fica resolvido quando identificamos o hábito de Mateus de
enfocar os acontecimentos através de um “telescópio”, resumindo
os fatos por meio de uma descrição breve e genérica, sem dar todos
os detalhes. Inúmeros exemplos desse fenômeno podem ser encontrados
no seu Evangelho. Neste caso, o centurião veio até Jesus
representado por seus amigos.
E
interessante observar que todos os centuriões mencionados no Novo
Testamento aparecem sob uma luz favorável. Além deste, os outros
Evangelhos Sinóticos falam sobre o centurião junto à cruz, que deu
um testemunho favorável por ocasião da morte de Jesus. Os demais
centuriões são mencionados no livro de Atos. Um deles é Cornélio,
no capítulo.
3.
A cura da Sogra de Pedro: Mt 8.14-17; Mc
1.29-34; Lc 4.38-39.
Este
milagre está registrado nos três Evangelhos Sinóticos (cf. Mc
1.29-34; Lc 4.38-41). Marcos e Lucas indicam que ele aconteceu quando
Jesus e os seus discípulos retornavam de um culto na sinagoga, no
sábado. Mas Mateus o coloca junto com uma série de eventos de cura,
sem uma sequência cronológica.
Talvez
Pedro estivesse embaraçado pelo fato de sua sogra não poder servir
os convidados em sua casa. Mas Jesus tocou-lhe na mão, e a
febre a deixou (15). O fato de que ela foi curada imediata e
completamente está demonstrado pela afirmação de que ela se
levantou e serviu-os. Que emoção: “O toque da mão do Mestre
na minha!”
Os
três Evangelhos Sinóticos também narram os muitos milagres de cura
que ocorriam após o pôr-do-sol, quando o sábado já tinha
terminado. Uma característica notória desta ocasião foi a expulsão
dos demônios, ou espíritos (16). Como é característico, Mateus
cita uma passagem do Antigo Testamento como tendo sido cumprida: Ele
tomou sobre si as nossas enfermidades e levou as nossas doenças
(17).
Na
versão ARC da Bíblia, em Isaías 53.4 lemos: “Verdadeiramente,
ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores levou
sobre si”. Morison afirma que essas palavras, como estão
apresentadas em Mateus: Ele tomou sobre si as nossas enfermidades
e levou as nossas doenças são “uma tradução mais literal do
original hebraico do que a que está apresentada na nossa versão do
Antigo Testamento”. Além disso, “a palavra hebraica traduzida
como tristezas em algumas versões, na verdade significa doenças, e
é assim traduzida em quase todas as outras passagens onde aparece”.
Filson observa que tomou e levou “têm aqui um
significado pouco comum: levou embora, removeu”.
4.
Muitas Outras Curas: Mt 8.16-17;
Mc 1.32-34; Lc 4.40-41.
Era
impossível que um Homem com tal autoridade e tais obras pudesse
permanecer oculto. As multidões teriam vindo a Jesus mais cedo
naquele dia, mas elas foram constrangidas pela lei judaica que
proibia a execução de trabalhos no sábado (Jr 17.21-22). Agora,
tendo chegado a tarde, quando se estava pondo o sol e o sábado
estava terminado, trouxeram-lhe todos os que se achavam enfermos e os
endemoninhados (32). Depois da expulsão do demônio do homem na
sinagoga, e da cura na casa de Pedro, aqueles que tinham alguma
dessas aflições naturalmente foram trazidos.
As
grandes multidões, tão em evidência mais tarde, começavam a
aparecer. E toda a cidade se ajuntou à porta (33). Aonde quer
que Jesus fosse, Ele era sensível às necessidades humanas. Na
sinagoga, na casa, e agora pelas ruas, Ele respondeu aos pedidos de
saúde, curando muitos. A palavra todos do versículo 32, e a
palavra muitos do versículo 34, não são contrastantes. As palavras
são invertidas em Mateus 8.16.
Novamente,
aqueles que estavam possuídos o conheciam, mas Ele não
deixava falar os demônios (34). O segredo messiânico não
deveria ser divulgado de forma prematura, especialmente por
testemunhas indignas de confiança. Johnson escreve: “A natureza de
Jesus não deveria ser revelada, até que Ele mesmo estivesse pronto
a fazê-lo”.
5.
Jesus Acalma uma Tempestade. Mt
8.23-27; Mc 4.35-41; Lc 8.22-25.
Depois
do atraso causado pela conversa com os dois homens (cf. v. 18), Jesus
entrou em um barco com os seus discípulos (23). Este era
provavelmente o pequeno barco de pesca de Pedro. Quando eles estavam
cruzando o lago, se levantou (24) uma tempestade (seismos,
“terremoto”). Enquanto o barco era coberto pelas ondas, Jesus
estava dormindo (tempo imperfeito). Ele estava tão cansado que a
tempestade não o despertou (veja também Mc 4.35-41; Lc 8.22-25).
Muito
assustados, os discípulos o despertaram com o grito: Senhor,
salva-nos, que perecemos (25). Ele primeiro os repreendeu por
temerem (26; de forma literal, “covardemente”) e então
repreendeu os ventos e o mar. O resultado foi uma grande bonança.
Não é de surpreender que aqueles homens tenham se maravilhado (27).
Em seus anos de pescaria no lago eles já tinham passado por muitas
tempestades graves, mas nunca por uma que tivesse sido subitamente
acalmada pela ordem de uma pessoa. A reação deles ainda hoje é
pertinente: Que homem é este! Como um mero homem Ele seria
completamente inexplicável.
O
cenário do “ministério de parábolas”, registrado no capítulo
4, foi “junto ao mar” (1). Jesus tinha se assentado “sobre
o mar”, tendo um barco como seu púlpito. Naquele [mesmo] dia (35),
um dia cheio de ensinos públicos e explicações em particular, Ele
disse: Passemos para a outra margem. Jesus se referia, naturalmente,
ao mar da Galiléia (veja o mapa), um lago de água fresca no norte
da Palestina, em forma de coração, com cerca de vinte quilômetros
de comprimento por treze de largura, duzentos metros abaixo do nível
do mar.
O
mar era um lugar de beleza inspiradora: era um centro de atividade
comercial na época de Jesus. Com montanhas margeando a maior parte
do lago, era sujeito a violentas tempestades por causa das fortes
correntes de ar frio que vinham dos níveis mais altos até os mais
baixos.
Já
era tarde quando Jesus fez o convite: Passemos para a outra margem.
Aqui existe uma sugestiva palavra de carinhosa compaixão nos lábios
de um pastor, ao com partilhar uma hora de luto com o seu rebanho.
Deixando
a multidão, os discípulos levaram Jesus consigo assim como estava
(36),
talvez sem deixar o barco mencionado no versículo 1. Chega uma hora
em que é preciso afastar-se da vida agitada e procurar um lugar para
repouso e recuperação.
Jesus
tentou colocar vários quilômetros de água entre Ele e as cidades
da costa oeste quando se dirigiu para o lado leste, um lugar menos
habitado. As palavras havia também com ele outros barquinhos
deixa evidente que esse anseio era um tanto estranho. Este detalhe,
desnecessário para a história, é outra recordação autêntica,
muito provavelmente do próprio Pedro. Aparentemente, a tempestade
logo virou os demais barcos.
Pelas
razões geográficas descritas anteriormente, logo levantou-se grande
temporal de vento (37), de proporções de furacão, com ondas fortes
que ameaçavam afundar o barco.37 Demonstrando fadiga e fé, Jesus
estava... dormindo sobre uma almofada (38) na popa do barco. Mas esse
não era “um travesseiro macio e luxuoso... [mas sim] o banco baixo
da popa onde às vezes se sentava o timoneiro, e onde ocasionalmente
o capitão apoiava a sua cabeça para dormir”.38 A almofada talvez
fosse de couro. Somente aqui o Novo Testamento menciona Jesus
adormecido, embora João 4.6 registre que Jesus “cansado...
assentou-se assim junto da fonte”.
Aterrorizados,
os discípulos acordaram Jesus e disseram, em tom de reprovação:
Mestre, não te importa que pereçamos? (38). A rispidez com
que se dirigiram a Ele e a severidade da reprimenda de Jesus são
exemplos adicionais de detalhes das lembranças de Pedro, de quem se
acredita que Marcos obteve grande parte do conteúdo do seu
Evangelho.
Despertado
de forma rude, Jesus se dirigiu à tempestade com uma linguagem que
nos faz lembrar alguém expulsando o diabo da vida de uma pessoa
possessa. Ele proferiu duas palavras: uma para o vento ruidoso:
“Cala-te!”; a outra para as águas iradas, “Aquieta-te!”
Como se estivessem cansados e fatigados, o vento se aquietou
(39), e nas águas houve grande bonança.
Sob
o título “Com o Mestre a Bordo”, podemos observar:
1)
a crise, 37-38;
2)
Cristo, 39;
3)
a calma, 39.
Os
milagres de Jesus, especialmente os “milagres da natureza”, são
uma ofensa para aqueles que rejeitam o que é sobrenatural. Mas não
foi sempre assim? (cf. 1 Co 1.23). Quando alguém admite o maior de
todos os milagres, a Encarnação, os milagres do Novo Testamento
também são aceitos. De qualquer forma, a rejeição deste milagre
simplesmente não leva em consideração o responsável relato de
Marcos.
Tendo
repreendido os elementos da natureza, Jesus se voltou aos seus
perturbados seguidores e lhes repreendeu: Por que sois tão tímidos?
(40) Se Ele censurou a falta de coragem deles, será que elogiaria os
nossos temores? Nós vivemos em uma era de ansiedade. A preocupação
não é um adversário manso. Mas em oposição ao medo, Jesus
estabelece a fé. O nosso Senhor nos ajuda nesse ponto. “No dia em
que eu temer, hei de confiar em ti” (SI 56.3).
Sem
palavras, os discípulos agora sentiram um grande temor (41).
Literalmente: “Estavam apavorados com grande medo”. Os
discípulos fizeram a maior pergunta da vida: Mas quem é este? A
resposta correta para esta pergunta é a única solução para a
questão dos milagres. O singular do verbo obedecer no texto original
indica que se pensou em cada elemento separadamente. “Até mesmo
o vento, até mesmo o mar, obedecem a Ele”
A
pergunta: Mas quem é este? Pode ser usada para iniciar uma exposição
dos versículos 4.39—5.43. O tema poderia ser “O poder de
Cristo”:
1)
sobre o perigo, 4.36-41;
2)
sobre os demônios, 5.1-19;
3)
sobre as enfermidades, 5.24-34;
4)
sobre a morte, 5.20-23, 35-43.
6.
O Endemoniado Gadareno. Mt 8.28-34; Mc 5.1-20; Lc 8.22-25.
Quando
Jesus e os seus discípulos chegaram ao lado leste do lago da
Galiléia – cerca de onze quilômetros de travessia - eles se
encontraram no país dos Gergesenos. Isto pode representar a vila de
Khersa, cujas ruínas estão próximas à única colina perto da
costa leste. Mas em alguns manuscritos gregos consta “gerasenos”
(a leitura em Marcos e Lucas). Gerasa estava a cerca de 48
quilômetros a sudeste do lago. “Gadareno” é o termo que os mais
antigos manuscritos gregos apresentam no texto de Mateus. Gadara era
a cidade mais próxima, a quase dez quilômetros de distância.
O
fato de Mateus mencionar dois (28 Tendo
ele chegado ao outro lado, à terra dos gadarenos, saíram-lhe ao
encontro dois endemoninhados, saindo dentre os sepulcros, tão
ferozes, de forma que ninguém podia passar por aquele caminho)
endemoninhados, ao passo que Marcos e Lucas falam somente de um, pode
ser devido à sua mente de contador. Sendo um coletor de impostos,
ele tinha que manter estatísticas cuidadosas. Os outros dois
evangelistas podem ter mencionado somente o mais proeminente dos
dois. Embora a descrição de Marcos seja mais completa e vívida,
Mateus é o único que diz que tão ferozes eram, que ninguém podia
passar por aquele caminho. Esses dois homens estavam colocando em
perigo a vida dos habitantes daquela região.
Os
demônios, como em outras ocasiões, reconheceram Cristo como sendo o
Filho
de
Deus e temeram o tormento que inevitavelmente sofreriam (29).
Atendendo um
pedido,
Jesus permitiu que os demônios entrassem em uma manada de porcos que
estava nas proximidades - Marcos afirma que eram quase dois mil. O
resultado foi que toda a manada morreu nas águas do lago (30-32).
Aqueles que guardavam os porcos fugiram até a cidade para contar
tudo o que havia ocorrido (33). Toda aquela cidade saiu ao encontro
de Jesus (34). O povo, tomado pelo medo (Lc 8.38) rogou que Ele se
retirasse do seu território (das suas “fronteiras” ou do seu
“distrito”). Eles tiveram medo do poder de Jesus.
Como
de costume, a narrativa de Mateus é muito mais curta do que a de
Marcos (5.1-20), ou mesmo do que a de Lucas (8.26-39). Ele deixa de
lado muitos dos detalhes encontrados nos relatos dos outros dois
evangelistas, de acordo com o seu procedimento usual de resumir o
material da narrativa.
Algumas
vezes, duas questões têm sido formuladas a respeito desse
acontecimento. A primeira é: Por que Jesus permitiu que esses porcos
fossem destruídos? Houve quem sugerisse que Ele queria confirmar a
fé dos dois endemoninhados curados, por esta evidência visível de
que os demônios haviam realmente deixado os seus corpos.
Alguns
pensam que Jesus fez isso para mostrar à multidão o poder tremendo
e as tendências destrutivas que os demônios possuem. Trench escreve
sobre o relato onde somente é mencionado um endemoninhado: “Se
esta concessão ao pedido dos espíritos maus ajudou de alguma
maneira a cura deste sofredor, fazendo com que eles relaxassem a sua
posse do corpo dele com maior facilidade, aliviando o ataque através
de sua saída, este teria sido um motivo suficiente para permitir que
aqueles animais morressem.
Para
a cura definitiva do homem poderia ter sido necessário que ele
tivesse esta evidência exterior e o testemunho de que os poderes
infernais que o mantinham aprisionado agora o haviam deixado”.
Uma
segunda pergunta que se faz é a seguinte: Que direito tinha Jesus de
destruir a propriedade de outras pessoas? A resposta para esta
pergunta é mais difícil. Se tivéssemos certeza de que os donos
eram judeus, isto ofereceria uma solução simples.
Os
judeus deveriam evitar as carnes impuras, o que incluía os porcos.
Mas Decápolis era uma região de população predominantemente
gentílica. De qualquer forma, o caráter de Cristo garante que Ele
não faria nada injusto. Os atos de Deus não podem ser sempre
julgados segundo os padrões dos homens. Porém devemos sempre nos
lembrar de que Deus não fica devendo nada a ninguém. Se tivéssemos
mais informações, poderíamos entender melhor esta situação.
7.
A Cura de um Paralítico. Mt
9.1-9; Mc 2.1-12; Lc 5.17-26.
Deixando
Decápolis, como lhe havia sido solicitado, Jesus passou para a
margem
o
este (veja o mapa), à sua cidade (1). Esta cidade era Cafarnaum, que
Ele tinha escolhido como o quartel-general para o seu ministério na
Galiléia. Ela estava localizada na costa noroeste do Lago da
Galiléia.
Ah
trouxeram a Ele um paralítico - uma única palavra em grego,
paralyticon. Quando Jesus viu a fé deles - provavelmente tanto a do
homem enfermo quanto a dos seus amigos - disse ao paralítico:
Perdoados te são os teus pecados (2). O texto grego diz: “Os
seus pecados estão perdoados”.
Este
já era um fato concreto. Os judeus acreditavam que as enfermidades
eram consequências do pecado na vida de uma pessoa (Jo 9.2
Perguntaram-lhe
os seus discípulos: Rabi, quem pecou, este ou seus pais, para que
nascesse cego?). Existe a possibilidade
de que a paralisia deste homem tenha sido causada, em parte, por um
severo complexo de culpa, e que ele precisasse, antes de mais nada,
cuidar desse aspecto.
Alguns
escribas ali sentados pensaram: Ele blasfema (3). Jesus, conhecendo
os seus pensamentos, perguntou: Por que pensais mal em vosso coração?
(4). A absolvição do homem pecador colocou Cristo em uma posição
difícil no conceito desses fariseus. “Ou Ele era o Filho de Deus
ou - como os escribas disseram segundo o ponto de vista deles - era
um blasfemo.” Ele já tinha demonstrado suficientemente a sua
divindade, mas eles ainda não criam nele. Agora, a realização do
milagre justificava a sua reivindicação de ter o direito divino de
perdoar os pecados.
O
que é mais fácil? perguntou Jesus: Dizer ao paralítico: Perdoados
te são os teus pecados, ou: Levanta-te e anda? (5). A resposta dos
escribas teria sido a primeira. Pois ninguém poderia confirmar os
resultados desta afirmação. Mas Jesus curou o corpo do homem - um
fato possível de ser observado - como prova de que Ele tinha
perdoado os seus pecados.
A
cura deste paralítico de Cafarnaum é “a primeira história que
coloca o divino poder de cura de Jesus em uma relação direta com o
seu divino poder e autoridade para perdoar pecados”.
Como
no caso do evento anterior, a narrativa de Mateus é muito mais curta
e menos vívida do que a de Marcos (2.1-12) ou do que a de Lucas
(5.17-26). Ele não diz nada sobre os quatro homens (Marcos) que
traziam o paralítico, descobrindo o telhado e fazendo um buraco nele
(Marcos e Lucas). Uma cuidadosa comparação destes três relatos
fornece uma amostra legítima das diferenças típicas dos três
Evangelhos no tratamento do material da narrativa.
8.
A Cura de uma Mulher Enferma
e a Ressurreição da Filha de
Jairo. Mt 9.19-22; Mc 5.24b-39; Lc 8.42b-48.
Nos
três Evangelhos Sinóticos a cura da mulher que tinha uma hemorragia
é colo cada no contexto da ressurreição da filha de Jairo. Assim,
esses dois episódios serão tratados em conjunto.
Jesus
foi abordado por um chefe da sinagoga,16 Jairo, - o nome é dado em
Marcos 5.22 - com o pedido de que Ele viesse e colocasse a mão na
cabeça de sua filha. Mateus relata que Jairo disse: Minha filha
faleceu agora mesmo (18) ao passo que Marcos apresenta: “Minha
filha está moribunda” (Mc 5.23) - literalmente, “no seu
último suspiro”. Marcos e Lucas falam de alguém que conta, quando
estavam a caminho da casa, que a filha tinha morrido. Mas ela estava
morta quando Jesus começou a caminhar com Jairo? Uma vez mais, para
uma explicação nos valemos do costume de Mateus de resumir a
narrativa. Marcos e Lucas dão os detalhes corretos que preenchem o
magro relato de Mateus.
Enquanto
Jesus estava acompanhando Jairo até à sua casa, uma tímida mulher
que vinha sofrendo de uma hemorragia durante doze anos veio por trás
dele e tocou a orla da sua veste (20) - ou “a borda da sua veste”
(cf. Nm 15.38). Ela acreditava que se tocasse a sua veste, ficaria sã
(21). O verbo aqui é sozo, que é usado com frequência nos
Evangelhos e algumas vezes no Livro de Atos, significando a cura
física. Mas nas Epístolas ele é usado regularmente significando a
salvação espiritual. As palavras gregas para Salvador e salvação
têm a mesma raiz de sozo. Elas enfatizam o fato de que a salvação
significa a saúde espiritual ou a saúde completa.
Não
foi o toque na veste de Jesus que curou a mulher; foi a sua fé (22).
Mas a sua fé se manifestou através do seu ato. Quando Cristo chegou
à casa do chefe da sinagoga, Ele encontrou os instrumentistas e o
povo em alvoroço (23), ou “tumulto”. Esses instrumentistas ou
“flautistas” seriam as carpideiras contratadas, profissionais.
Quanto mais ruído fizessem no sepultamento, mais dinheiro
receberiam. Como o corpo devia ser enterrado no mesmo dia, não havia
tempo a perder.
Que
contraste com a conduta calma e digna de Cristo! Ele mandou embora as
carpideiras contratadas: Retirai-vos (24). Ele garantiu a todos que a
jovem não estava morta, mas somente adormecida. Irritadas e
frustradas, as carpideiras riram dele. Colocando os incrédulos para
fora da sala, Jesus levou consigo somente Pedro, Tiago e João, além
dos pais da menina (cf. Marcos e Lucas). O Criador pegou a mão da
menina sem vida e ela se levantou (25). A história da ressurreição
de uma garota naturalmente causou grande comoção, e divulgou ainda
mais a fama de Jesus por toda a terra da Palestina (26).
9.
Cura de dois cegos. Mt 9.27-31.
Este
episódio, assim como o seguinte, só está registrado em Mateus.
Novamente encontramos dois homens - desta vez, dois cegos (27). Eles
clamaram: Tem compaixão de nós, Filho de Davi. Filson observa:
“Eles o aceitam como o líder messiânico esperado que iria fazer
as maravilhosas obras de misericórdia mencionadas em Isaías 35.5”.
Quando
afirmaram a sua fé nele (28), Jesus respondeu: Seja-vos feito
segundo a vossa fé (29). Esta é uma afirmação tremendamente
desafiadora para todos os cristãos da atualidade. Teremos aquilo que
cremos que o Senhor pode fazer por nós. Quando o Grande Médico
tocou os olhos deles, logo puderam ver. Então Jesus os ameaçou,
dizendo que não contassem a ninguém o que havia acontecido (30). O
verbo é muito forte em grego. Aqui ele significa “advertir com
firmeza”. A razão para Jesus falar tão energicamente era que Ele
não queria que o excesso de publicidade atrapalhas se o seu
ministério de ensino, causando a vinda de multidões procurando
apenas a cura. Mas a ameaça foi em vão. Os dois homens divulgaram a
sua fama por toda aquela terra (31).
10.
A Cura do Endemoninhado e Mudo. Mt 9.32-34.
Os
Evangelhos mostram a possessão demoníaca como causando a demência,
e, aqui, a mudez. Quando libertado do demônio, o homem falou.
Novamente a multidão se maravilhou (33) com o poder de Deus. Mas os
fariseus tinham uma outra explicação para o fato. Eles disseram que
Jesus estava expulsando os “demônios” por meio do príncipe dos
demônios (34). Esta era uma perversão moral por parte daqueles
líderes religiosos, confundindo o demoníaco com o Divino. Em outra
passagem vemos Jesus lidando firmemente com essa atitude deles.
Ele
s não podiam vê-lo, e aos seus milagres, m as a fé veio através
da audição. Ele s que, pela providência divina, foram desprovidos
da visão material, podem mesmo assim, pela graça de Deus, teros
olhos do entendimento grandemente esclarecidos, capazes de enxergar
aqueles notáveis atos de Deus, que estão escondidos dos sábios e
inteligentes.
O
pedido dos cegos: “Tem compaixão de nós”. Fora profetizado que
o Filho de Davi seria misericordioso Sl 72.12-13.
Porque
ele livra ao necessitado quando clama, como também ao aflito e ao
que não tem quem o ajude. 13
Compadece-se
do pobre e do necessitado, e a vida dos necessitados ele salva. E
nele brilharia sua misericórdia do nosso Deus Lc 1.78. graças
à entranhável misericórdia do nosso Deus, pela qual nos visitou a
aurora lá do alto,
Quaisquer
que sejam nossas necessidades aflições, não precisamos mais do que
uma fração de misericórdia de nosso Senhor Jesus para nosso
sustento e suporte.
Os
fariseus blasfemaram v.34 Os
fariseus, porém, diziam: Ele expulsa os demônios pelo príncipe dos
demônios.
Quando
eles não conseguiram negar a evidência convincente desses milagres,
eles os atribuíram ao demônio, como se eles tivessem sido
realizados através de algum pacto ou fraude: “Ele expulsa os
demônios (dizem eles) pelo príncipe dos demônios”; uma sugestão
horrível, além do que se possa imaginar.
11.
O Homem
da mão Ressequida:
Mt 12.9-13; Mc 3.22-30; Lc 11.14-23.
Este
milagre (cf. Mc 3.1-6; Lc 6.6-11) representa outro item no conflito
entre Jesus e os fariseus quanto ao assunto da observância do
sábado. Havia em sua sinagoga (9) - provavelmente em Cafarnaum (cf.
Mc 2.1; 3.1) - um homem que tinha a mão mirrada (literalmente
“seca”). Os fariseus perguntaram a Jesus: E lícito curar nos
sábados? (10) O objetivo deles não era obter informações para si
mesmos, mas sim evidências contra Jesus, para o acusarem.
A
primeira vista, parece haver um conflito entre o texto em Marcos 3.4
e Lucas 6.9. Mateus diz que os fariseus fizeram essa pergunta a
Jesus. Tanto em Marcos quanto em Lucas, Jesus é quem faz essa
pergunta aos fariseus. Mas a pergunta do Mestre pode muito
logicamente ter sido feita em uma forma retórica. Na presença do
homem aleijado, os fariseus perguntaram a Jesus: “E lícito curar
nos sábados?” Em resposta, Jesus perguntou: “É
lícito no sábado fazer bem ou fazer mal? Salvar a vida ou matar?”
Marcos diz imediatamente que “eles
calaram-se”.
Ao responder a pergunta dos fariseus com outra pergunta, Jesus os
coloca no seu devido lugar, e assim silencia os seus adversários.
Para
concluir o seu assunto, Cristo perguntou se eles não tirariam uma
ovelha de
uma
cova em um sábado (11). Quanto mais vale um homem do que uma ovelha?
É,
por consequência, lícito fazer bem nos sábados
(12). Tudo o que for para o bem da humanidade, será sempre agradável
a Deus.
Então
o Criador ordenou à sua criatura aflita: Estende a mão (13).
Morison opina
que
somente a mão era mirrada, e não o braço, e que o objetivo de
estender a mão tinha a finalidade de que todos pudessem ver a cura.
Mas estender a mão não implica e envolve um movimento do braço?
Então, parece que M’Neile tem razão quando diz: “A ordem fez
aflorar a fé, que foi o meio pelo qual a cura foi realizada”. Em
outras palavras, o homem demonstrou a sua fé por meio da sua
obediência. Nas situações da vida real as duas nunca podem estar
separadas. De qualquer forma, a mão do homem ficou sã como a outra.
A cura estava completa.
Em
vez de se sentirem obrigados - por este milagre - a crer em Jesus
como o seu
Messias,
os fariseus “formaram conselho” contra Ele, para o matarem (14).
Esta ação dá uma ideia da dimensão da voluntária e obstinada
rejeição deles a Cristo. Não existe nada mais irracional e
despropositado do que o fanatismo religioso.
12.
O Endemoninhado Cego e Mudo. Mt 12.22-30; Mc 3.22-30; Lc
11.14-23.
30).
Lucas, que também registrou este milagre de cura (Lc 11.14),
menciona somente a mudez do homem, não a sua cegueira. Mas tanto
Lucas quanto Mateus indicam que ele estava “endemoninhado”. Pode
ser que esta condição tão difícil tivesse sido trazida a Jesus
como uma espécie de teste. Mas Ele enfrentou o desafio e teve
sucesso total; o homem foi completamente curado.
Compreensivelmente,
a reação do povo foi de admiração. Eles diziam: Não é este o
Filho
de Davi? (23). Mas a forma do texto grego indica claramente que se
esperava uma resposta negativa: “Este não é o Filho de Davi,
é?”. A pergunta expressa surpresa, incredulidade, talvez em
uma mistura de esperança - “Será que é possível que este
seja o Filho de Davi?”
A
reação dos fariseus foi bem diferente. Eles disseram que Jesus
expulsava os demônios por Belzebu, (v28 Mas,
se é pelo Espírito de Deus que eu expulso os demônios, logo é
chegado a vós o reino de Deus) o príncipe dos demônios
(24). Cristo sabia o que eles estavam pensando e começou a lhes
fazer perguntas. Depois de observar que todo reino dividido contra si
mesmo é devastado; e toda cidade ou casa dividida contra si mesma
não subsistirá (25), Ele declarou que se Satanás estivesse
expulsando Satanás, ele estaria dividido contra si mesmo; como
subsistiria, pois, o seu reino (26)? A lógica era simples e clara.
Mas
Jesus ainda prossegue. Se Ele expulsava demônios por Belzebu, por
quem os expulsam, então, os filhos daqueles homens (27)? A expulsão
de demônios era praticada pelo menos por alguns judeus naquela época
(cf. At 19.13).
Então
o Mestre dá a forma correta ao registro. Se pelo Espírito de
Deus, não “por Belzebu” (24), ele expulsava os
demônios... é conseguintemente chegado a vós o Reino de Deus (28).
Foi exatamente isso o que aconteceu. Na pessoa de Jesus o Reino
“chegou repentinamente” (tempo aoristo). Mas eles o estavam
rejeitando.
Jesus
dá mais um exemplo. Ninguém pode entrar na casa de um homem valente
e furtar - “roubar, levar embora, arrastar”29 - os seus bens - “a
sua propriedade”30 – a menos que amarre o homem valente.
Novamente, contra a lógica não há argumento. Satanás é um
adversário vencido, caso contrário Jesus não poderia estar se
apossando da sua propriedade.
A
primeira parte do versículo 30 - Quem não é comigo é contra
mim - parece, à primeira vista, estar em conflito com Lucas 9.50
- “Quem não é contra nós é por nós”. Mas no texto de
Mateus, Jesus está falando sobre a lealdade interior; em Lucas, Ele
está falando da oposição exterior. Os objetivos das duas frases
são completamente diferentes.
Em
Lucas, Ele está reprovando um espírito de sectarismo; em Mateus,
Ele está advertindo contra o perigo da lealdade dividida. Existe
também uma diferença quanto a quem está contra quem (cf. Mt 12.30
e Lc 9.50 em várias versões). Em Mateus, Jesus declara que um homem
não pode permanecer neutro em relação a Cristo; aqueles que não
são a favor dele, são contra Ele. Em Lucas, Jesus está falando dos
seus seguidores.
Um
homem não precisa sempre concordar com os outros cristãos, ou com
grupos de outros cristãos, para estar com Cristo. Nem eu devo exigir
que todos os outros cristãos concordem comigo. Um outro cristão
pode estar realizando a obra de Cristo à sua própria maneira; se
ele estiver fazendo isso sinceramente, estará do mesmo lado que eu
estou, por que eu também estou procurando fazer a obra de Deus.
13.
A Primeira Multiplicação dos Pães
e Peixes. Mt 14.13-21; Mc 6.30-44; Lc 9.10-17; Jo 6.1-13.
A
alimentação de mais de cinco mil pessoas tem a característica de
ser o único milagre de Jesus que foi registrado nos quatro
Evangelhos. Ele também é encontrado em Marcos 6.30-44; Lucas
9.10-17 e João 6.1-14.
Quando
Jesus, provavelmente nas vizinhanças de Cafarnaum, ouviu sobre o
assassinato de João Batista, ele atravessou o lago da Galiléia, em
um barco, chegando até a sua margem oriental. Era um lugar
tranquilo, um lugar deserto (13), isto é, uma área desabitada.
Tanto Ele como os seus discípulos precisavam de descanso, e de uma
mudança.
Mas
quando as multidões souberam para onde Ele tinha ido, o seguiram à
pé, ou
“por
terra”, dando a volta na extremidade norte do lago. E possível
medir a velocidade de um barco da época: talvez as pessoas tenham
conseguido fazer um percurso de 13 quilômetros, enquanto os
discípulos, remando, percorreram cerca de 10 quilômetros. Quando
Jesus desceu do barco, encontrou uma grande multidão à sua espera.
Ao invés de se aborrecer com a sua presença, Ele foi possuído
(“dominado”) de íntima compaixão para com ela e curou os seus
enfermos (14).
Quando
anoiteceu, os discípulos se aproximaram de Jesus lembrando que a
hora
do
jantar já havia passado: a hora é já avançada (15). Melhor seria
enviar a multidão embora para que as pessoas pudessem ir para as
vilas mais próximas, e comprar comida.
A
réplica de Jesus foi a seguinte: Dai-lhes vós de comer (16). Os
discípulos protestaram. Havia apenas cinco pães e dois peixes (17).
Esses pães tinham o tamanho e a forma de uma pequena panqueca ou de
um biscoito plano. A soma total das provisões disponíveis
correspondia exatamente ao lanche de um menino (Jo 6.9).
Mas
os discípulos haviam feito esse cálculo sem levar em conta o seu
Mestre. Ele pediu que esse lanche simples lhe fosse trazido (18).
Depois de mandar que a multidão se assentasse (19; o termo grego é
“reclinar”) sobre a erva - Marcos diz que a erva era “verde”,
mostrando que era primavera - Jesus tomou os cinco pães e os dois
peixes, os abençoou, e, partindo... deu-os aos discípulos que, por
sua vez, os distribuíram à multidão.
Um
aspecto digno de nota é que os discípulos executaram a ordem de
Cristo. Eles
realmente
alimentaram a multidão quando se associaram a Jesus nesse ato. O que
cada cristão pode aprender é que, não importa o quanto sua tarefa
lhe pareça impossível, com a ajuda divina tudo pode ser feito.
“Porque para Deus nada é impossível” (Lc 1.37).
Todas
as pessoas comeram e saciaram-se (20). O verbo chortazo (ficaram
satisfeitas) vem do substantivo chortos, “grama”. Era usado
principalmente para animais pastando. O quadro geral é do gado
comendo até ficar saciado e depois se deitando satisfeito sobre a
grama. Arndt e Gingrich dizem que no modo passivo (como aqui) ele
significa “comer até se encher, até ficar satisfeito”. Essa é
a ênfase aqui. Todas essas pessoas comeram o suficiente, até
ficarem “satisfeitas”. Essa é a melhor tradução.
Dos
pedaços que sobejaram - nos cestos dos discípulos e provavelmente
em uma
pilha
sobre a grama limpa em frente a Jesus - eles levantaram doze cestos
cheios. Isto é, cada apóstolo foi capaz de encher o cesto do seu
lanche com alimento para o dia seguinte. A multidão que foi
alimentada compunha-se de quase cinco mil homens (21).
Somente
Mateus, o estatístico, acrescenta, além das mulheres e das
crianças. Se a multidão fosse composta por peregrinos prontos para
comparecer à celebração da Páscoa, haveria poucas mulheres e
crianças (Jo 6.4-5). Essa distinção reflete o fato de que em
público - como ainda acontece entre os orientais - as mulheres e as
crianças nunca comem junto com os homens. Acima de qualquer
discussão, aquele era um mundo dos homens.
14.
Jesus Caminha Sobre as Águas. Mt 14.22-33; Mc 6.53-56.
O
Mestre imediatamente ordenou aos seus discípulos que partissem. O
verbo é bastante forte, significando “obrigar, forçar”. Arndt e
Gingrich sugerem aqui a tradução: “Ele fez com que os seus
discípulos embarcassem”. Por quê? João tem a resposta:
“Sabendo, pois, Jesus que haviam de vir arrebatá-lo, para o
fazerem rei, tornou a retirar-se, ele só, para o monte” (Jo
6.15).
Ele
não queria que os seus discípulos permanecessem em um ambiente tão
revolucionário, nem queria que a Sua presença desse motivo para tal
movimento. Ele não estava ali para estabelecer um reino político em
oposição ao governo de Roma, mas para estabelecer o seu Reino
espiritual no coração dos homens. Jesus percebeu o fato de que
esses inconstantes galileus estavam prontos para dar início a outra
revolta contra Roma. Portanto, ordenou que os seus discípulos se
retirassem do local, dispensou a multidão e partiu para orar a sós.
E,
chegada já a tarde (23) corresponde exatamente à frase grega
“quando já era noite” (15). Mas, neste intervalo, a alimentação
de mais de cinco mil pessoas já havia acontecido. Essa atividade
deve ter durado pelo menos uma ou duas horas. Como podemos, então,
harmonizar essas duas expressões de tempo? A resposta se encontra na
distinção entre a “primeira tarde” (que começa por volta das 3
horas da tarde) e a “segunda tarde” (que acontece depois do
pôr-do-sol). A palavra para tarde significa, literalmente, “uma
hora mais avançada”.
A
frase como um todo (23) significa “quando ficou tarde”. Arndt e
Gingrich sugerem: “Muitas vezes o contexto torna mais fácil
decidir exatamente qual é o tempo que se pretende, se antes ou
depois do pôr-do-sol”. Quando chegou a noite, Jesus estava sozinho
no monte. Enquanto isso, o barco estava no meio do mar (24) -
aproximadamente na metade do lago. O texto grego de M’Neile diz:
“Longe da terra, a muitos estádios”. Isso está admiravelmente
de acordo com a afirmação de João de que os discípulos haviam
remado cerca de vinte e cinco ou trinta estádios (Jo 6.19), isto é,
de cinco a sete quilômetros. Em sua extremidade norte, onde eles
estavam, o Lago da Galiléia tem cerca de onze quilômetros de
largura.
O
barco estava sendo açoitado pelas ondas. Carr comenta: “Essa
expressão é muito enérgica, ‘torturado pelas ondas’,
contorcendo-se nos espasmos da agonia, por assim dizer”. O Lago da
Galiléia é famoso por suas repentinas e terríveis tempestades. O
escritor deste livro nunca se esqueceu da tempestade que enfrentou
nesse mesmo lago em 1953. Parecia que o barco de pesca iria
certamente afundar cada vez que despencava em uma profunda depressão
que se formava entre ondas gigantescas. Porém, rangendo, gemendo,
tremendo todo, ele conseguiu atravessar as ondas sucessivas, enquanto
torrentes de água inundavam a proa.
O
potente motor desse moderno barco de pesca fazia com que ele
continuasse a navegar para frente. Mas os discípulos tinham que se
contentar em lutar inutilmente com seus remos para enfrentar o forte
vento contrário que vinha do norte.
Quando
as coisas pioraram, na quarta vigília da noite (das 3 às 6 horas da
madrugada), Jesus se aproximou, caminhando por cima do mar (25). Os
discípulos assustaram-se (26), melhor dizendo, “ficaram
apavorados” - pensando que Ele fosse um espírito ou um fantasma
(em grego, phantasma). Tomados de terror por causa da tempestade e
apavorados pela aparição, eles gritaram. O verbo significa “gritar,
berrar, bradar”.
Jesus
os tranquilizou imediatamente com as palavras: Tende bom ânimo,
sou eu; não temais (27). A redação grega diz, literalmente:
“Tenham coragem, sou eu, parem de ter medo”. Essa ainda é
a mensagem de Cristo em meio às tempestades da vida.
15.
A Cura da Filha da Mulher Cananéia. Mt 15.21-28; Mc 7.24-30.
Depois
de sua conversa com os fariseus, Jesus viajou em direção ao norte,
para a
costa
- “região ou “distrito” - de Tiro e Sidom (21). Essas duas
cidades estavam loca lizadas na Fenícia (atualmente, o Líbano) que
era um território gentílico (veja o mapa). Jesus desejava ficar
sozinho com os seus discípulos para instruí-los.
Ao
chegar, Ele foi procurado por uma mulher cananéia (22). Em Josué
5.12 a “terra de Canaã” (do Hebraico) aparece na versão da
Septuaginta em grego como o “país dos fenícios”. Essa mulher
era estrangeira e pagã. No entanto, ela veio a Cristo. Marcos, que é
o único outro autor que registrou esse episódio (Mc 7.24-30), diz
que ela era “grega, siro fenícia de nação”. Portanto, as duas
descrições estão essencialmente de acordo.
Ela
vinha daquelas cercanias. Essa é uma palavra grega totalmente
diferente daquela que foi traduzida como costa, em algumas versões,
no versículo 21. Aqui ela significa literalmente “fronteiras” ou
“limites”. No versículo 21 ela consta, em várias versões, como
“partes”.
Essa
mulher se dirigiu a Jesus da seguinte forma: Senhor, Filho de Davi,
isto é,
Messias.
Ela pode ter estado entre aqueles que eram das “partes de Tiro e de
Sidom”, que tinham vindo ao Lago da Galiléia para ver Jesus (Mc
3.8). Agora ela implorava por misericórdia. Sua filha estava
miseravelmente endemoninhada, o que está de acordo com os originais
gregos.
No
início, Jesus não lhe respondeu palavra (23). Finalmente, os
discípulos chegaram e começaram a pedir: “Despede-a, que ela vem
gritando atrás de nós” (tradução literal). Eles estavam
aborrecidos porque a mulher continuava a segui-los, “gritando”
por ajuda. Provavelmente queriam que o Mestre fizesse o que ela
pedia, para assim ficarem livres dela.
Ao
responder, Cristo informou à suplicante que Ele havia sido enviado
apenas às ovelhas perdidas da casa de Israel (24). Primeiro com o
seu silêncio e depois com uma afirmação direta, Ele rejeitou o
pedido. Carr expressa corretamente o propósito de Cristo: “Por
meio de sua recusa, Jesus estava testando a fé dessa mulher, para
poder torná-la mais pura e profunda”
Para
não ser repelida, a mulher se aproximou e adorou-o - “ela se
ajoelhou perante Ele” - implorando: Senhor, socorre-me (25). Este
verbo significa auxiliar alguém que está pedindo socorro.
Aparentemente, a resposta de Jesus parece não ser nada menos que um
insulto. Ele disse que não era apropriado (literalmente bom) pegar o
pão dos filhos (dos judeus) e deitá-lo aos cachorrinhos (26).
Geralmente,
os judeus chamavam os gentios de “cães”, isto é, “impuros”.
Esta expressão parece fora de propósito, saindo dos lábios de
Cristo. Entretanto, a palavra grega significa “cachorrinhos”.
Como diz Morrison: “Nosso Salvador não estava se referindo aos
cães selvagens, violentos, imundos e sem dono que perambulavam
pelas cidades do Oriente, mas aos cachorrinhos de estimação nos
quais as crianças estão interessadas e com os quais elas brincam”.
Weatherhead também acredita que Jesus pode ter usado um tom de voz
ou um certo olhar para dizer à mulher que com essa expressão Ele
estava principalmente censurando os discípulos pela sua atitude
mesquinha e nacionalista.
A
reposta da mulher foi, em todos os sentidos, notável. Ao invés de
se ressentir por ter sido classificada como “cachorrinho” por
parte de Cristo, ela aceitou a situação. Mas tirou dela o maior
proveito possível. Tudo que pedia eram as migalhas que caem da mesa
(27). Ela cria que essas migalhas iriam atender às suas
necessidades. Em outras palavras, o poder do Mestre era tão grande,
que não seria necessária uma parte expressiva dele para expulsar o
demônio do corpo da sua filha. Não é de admirar que Jesus tenha
respondido: O mulher, grande é a tua fé (28). Seu pedido foi
atendido de forma imediata e plena. Esse incidente foi bem resumido
por G. Campbell Morgan: “Contra o preconceito, ela veio; contra o
silêncio, perseverou; contra a exclusão, prosseguiu; e contra a
rejeição, ela venceu”
16.
As Multidões São Curadas. Mt 15.29-31.
Depois
de seu breve retiro com os discípulos, mesmo com as costumeiras
interrupções, Jesus partiu e chegou ao pé do mar da Galiléia
(29). Marcos (7.31) nos conta que Ele foi a Decápolis, a leste do
lago, onde subiu a um monte e assentou-se para ensinar.
Grandes
multidões vinham à sua procura, trazendo indivíduos coxos, cegos,
mudos, aleijados e outros muitos (30). Isso nos dá alguma ideia da
grande incidência de doenças e de calamidades naqueles dias onde
não havia hospitais, e o número de médicos era bastante reduzido.
Até
hoje afirma-se que cerca da metade das crianças árabes que vivem
nas cidades têm doenças nos olhos por falta de saneamento básico.
Jesus curou todos aqueles que se apresentaram. Isso despertou grande
assombro e admiração entre o povo, levando as pessoas a glorificar
a Deus (31).
17.
Mais de Quatro Mil Pessoas São Alimentados Mt
15.32-38.
Embora
a alimentação de cinco mil pessoas tenha sido registrada nos quatro
Evangelhos, este episódio só é encontrado em Mateus e Marcos
(8.1-9). Uma multidão havia permanecido ao lado do Mestre durante
três dias, e toda a comida havia sido consumida.
Ele
não estava disposto a mandar as pessoas embora em jejum (famintas),
para que não desfalecessem a caminho de casa (32). Os discípulos
protestaram, dizendo que não havia pão no deserto para alimentá-los
(33). Tudo que tinham eram sete pães e uns poucos peixinhos (34), o
equivalente a apenas alguns biscoitos e sardinhas.
A
primeira coisa que Jesus fez foi mandar que a multidão se assentasse
no chão (35). Esse verbo é diferente daquele usado em relação à
alimentação das cinco mil pessoas (14.19). No primeiro caso, a
palavra significa literalmente “deitar”, e aqui “cair de
costas”. A diferença essencial é pequena. Na verdade, as duas
palavras querem dizer “reclinar”. O Senhor “abençoou” o pão
na ocasião em que alimentou mais de cinco mil pessoas, e aqui Ele
deu graças (36).
O
verbo é eucharisteo, e equivale à nossa moderna expressão “dar
graças” quando estamos à mesa, prestes a fazer as nossas
refeições. Depois, Jesus partiu os pães e os discípulos novamente
serviram a multidão. Dessa vez, eles juntaram sete cestos cheios de
pedaços que sobraram (37).
A
palavra usada para cestos é diferente daquela que é usada em
relação à alimentação das cinco mil pessoas (14.20). Naquele
caso, entendemos que se tratava das cestas de lanche dos doze
discípulos, enquanto aqui o significado é um cesto maior.
Isso
é sugerido pelo fato da mesma palavra ter sido usada para o cesto no
qual os discípulos desceram Paulo pelo muro de Damasco (At 9.25).
Provavelmente se tratasse de um cesto de pescador, feito com cordas
trançadas, e que podia carregar pelo menos um alqueire de cereais.
Dessa forma, os sete cestos mencionados aqui podem ter acondicionado
uma quantidade muito maior de alimentos do que os “doze cestos”
da ocasião anterior.
Dessa
vez havia quatro mil homens (38), novamente Mateus (e não Marcos)
acrescenta: além de mulheres e crianças. Tendo despedido a
multidão, Jesus entrou no barco - literalmente “subiu no barco”
- e foi para as “fronteiras” de Magdala (39). Essa era a cidade
de onde veio Maria Madalena. Estava localizada na fértil planície
de Genesaré (cf. 14.34). Os manuscritos gregos mais antigos trazem o
termo “Magadã”. Como a localização dessa última é
desconhecida, fica fácil entender porque algum escriba a mencionou
como a cidade de Madalena.
18.
A Transfiguração. Mt 17.1-8; Mc 9.2-8; Lc 9.28-36.
Esse
episódio representa uma das grandes crises da vida de Cristo. Junto
com o Batismo e a Tentação, foi um momento de grande importância
espiritual, registrado nos três Evangelhos Sinóticos (cf. Mc 9.2-8;
Lc 9.28-36).
Ele
aconteceu seis dias depois (1). Lucas 9.28 diz “quase oito dias
depois”, mas não existe nenhuma contradição aqui. Lucas está
contando os dias que precederam e se seguiram ao episódio, enquanto
Mateus e Marcos contam apenas os seis dias que se passaram entre os
dois fatos.
Depois
do quê? Lucas diz “depois dessas palavras”. Isso nos leva de
volta a dois importantes itens dos capítulos anteriores:
1)
A confissão da obra messiânica e da divindade de Jesus, e
2)
a previsão de Cristo sobre a sua paixão.
Devemos
nos lembrar de que enquanto Pedro se levantou magnificamente em
resposta ao desafio da pergunta do Mestre: “E vós, quem dizeis que
eu sou?”, sua reação ao anúncio da Paixão foi um miserável
fracasso. Ele protestou dizendo que Cristo não deveria morrer. Ele
falhou, assim como todos os outros discípulos, em compreender o
significado e a necessidade de um Messias sofredor.
E
digno de nota os três Evangelhos Sinóticos começarem seus relatos
enfatizando a semana que se passou entre a confissão e a
transfiguração. G. Campbell pensa que “durante esse período
houve uma sensação de desarmonia entre os discípulos e o Mestre”.
E continua dizendo: “Aqueles seis dias devem ter sido os mais
tristes da vida do Mestre; seis dias de silêncio, seis dias em que a
sua solidão representou o fato supremo de sua jornada”. Mesmo como
uma antecipação, Ele deveria caminhar sozinho para o Calvário.
Qual
foi o propósito da Transfiguração? Agora a resposta está clara.
Ela deveria ser uma dupla confirmação:
1)
da divindade de Jesus no momento em que os três discípulos tiveram
uma visão de sua glória eterna, e
2)
da importância e necessidade da Paixão.
Esse
último ponto aparece em Lucas, onde se afirma que o tópico da
conversação com os dois visitantes celestiais era a sua “morte”
que deveria se cumprir em Jerusalém (Lc 9.31). A palavra grega
correspondente é exodos, que significa “uma partida” (“êxodo”).
Portanto, ela inclui a sua crucificação, ressurreição e ascensão,
que seria o clímax de seu ministério terreno.
Para
a visão desse relato singular sobre a sua divindade e futura morte,
Jesus escolheu os mesmos três discípulos que haviam testemunhado a
cura da filha de Jairo (Mc 5.37). Mais tarde, Ele iria incluí-los em
seu círculo mais íntimo - Pedro, e a Tiago, e a João (1) - no
Jardim do Getsêmani. Agora Ele os havia levado a um alto monte.
Embora o local tradicional da Transfiguração seja o Monte Tabor, na
Planície de Esdraelom, provavelmente a melhor escolha teria sido um
dos contrafortes do elevado Monte Hermom, o qual se projeta como uma
sentinela solitária adornada por picos brancos na extremidade do
Vale do Jordão. Esse local estaria próximo a Cesaréia de Filipe,
onde Jesus se encontrava na ocasião anterior.
Ali
Jesus transfigurou-se (2). O termo é metamorphoo, do qual se
originou a palavra metamorfose. Além da passagem semelhante
encontrada em Marcos 9.2, esta palavra só é encontrada em Romanos
12.2 (“transformai-vos”) e em 2 Coríntios 3.18
(“transformados”).
A
transformação da aparência de Jesus foi assim descrita: O seu
rosto resplandeceu como o sol, e as suas vestes se tornaram brancas
como a luz. Lucas não usa a palavra “transfigurou-se”, mas
descreve o que se passou quase que exatamente com as mesmas palavras.
Somente ele observa que foi enquanto Jesus estava orando que a Sua
aparência se alterou. Existe uma sugestão de que a nossa
transfiguração espiritual ocorre em nossos momentos de oração.
Os
três Sinóticos mencionam a visita surpresa de Moisés e Elias, que
falaram com Jesus (3). Moisés representava a Lei, e Elias, os
Profetas. Existem muitas passagens no Novo Testamento onde o Antigo
Testamento é mencionado como “a lei e os profetas”. A implicação
aqui é que o Antigo Testamento como um todo apontava em direção a
Cristo e, especificamente, que tanto o Pentateuco quanto os Profetas
predisseram a morte expiatória do Salvador. Este fato precioso foi
mostrado através da tipologia e do simbolismo da Lei (por exemplo,
dos sacrifícios), e das declarações dos profetas (por exemplo,
Isaías 53).
Pedro
ficou tão contente com a situação que desejou prolongá-la. Ele
sugeriu que os discípulos podiam construir três tabernáculos (4) -
tendas feitas com ramos de árvores - um para cada um deles: Jesus,
Moisés e Elias. Podemos até simpatizar com os sentimentos do
apóstolo. Era uma comunhão singular. Mas Pedro mostrou que a
previsão da Paixão ainda não havia sido corretamente registrada em
sua mente. Ele queria um Messias glorificado e não um Messias
sofredor.
Enquanto
Pedro falava, uma nuvem luminosa os cobriu (5). Nesse caso, a nuvem
sobre o Monte da Transfiguração tinha a finalidade de alertar os
discípulos para que ouvissem a voz de Deus. Ela os lembraria da
“coluna de fogo de noite” (Ex 13.22) que guiou os israelitas no
deserto, assim como da glória Shekinah que habitava no Tabernáculo
(Nm 9.15, 22) e no Templo (1 Rs 8.10). Foi em uma nuvem que Deus
apareceu no Sinai (Ex 19.9).
Da
nuvem uma voz falava clara e distintamente confirmando a divindade de
Jesus - Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo... e,
silenciando Pedro, disse: escutai-o. O problema de Pedro é que ele
era rápido para falar e lento para ouvir.
Infelizmente,
sua tribo não desapareceu. Dominados pela visão e aterrorizados
pela voz, os três discípulos caíram sobre seus rostos (6). Isso
pode sugerir que eles caíram da mesma forma que Saulo na estrada de
Damasco (At 9.4) ou, mais provavelmente, que se prostraram em
adoração. Nos dois casos, eles tiveram grande medo.
Mas
o Mestre tocou-lhes com terno consolo, convidando-os a se levantar e
não ter
medo
(7). Quando abriram os olhos ninguém viram, senão a Jesus (8). O
valor dessa visão pode ser medido pelos seus permanentes resultados.
Nenhuma experiência espiritual tem valor a não ser que seja capaz
de deixar a pessoa com uma ampliada consciência da presença de
Cristo. Quando os visitantes celestiais - a nuvem e a voz -
desapareceram, os discípulos ficaram apenas com Jesus. Ele é a
suprema necessidade de cada vida humana em todos os tempos.
19.
A Cura de um Jovem Possesso: Mt 17.14-21; Mc 9.14-29; Lc
9.37-42.
Pedro
queria permanecer no Monte da Transfiguração, mas havia uma
necessidade desesperada no vale, logo abaixo. A mesma compaixão que
levou Cristo a deixar o céu e descer a este mundo de pecado e
sofrimento, agora o impelia a deixar a gloriosa companhia do topo do
monte e descer até o vale para atender às necessidades de um menino
e de seu pai. A maior glória de Cristo está nesse amor que
resplandeceu através de sua vida.
Quando
Jesus e os seus discípulos se aproximaram da multidão que parecia
estar sempre à sua espera, um ansioso suplicante se aproximou,
pôs-se de joelhos diante dele (14), e imediatamente apresentou o seu
pedido. Ele tinha um filho que era lunático (15). Essa palavra vem
do latim luna ou “lua” e reflete a palavra grega que literalmente
significa “lunático”. Em algumas versões modernas ela foi
corretamente traduzida como “epilético”. Os povos daquela época
pensavam que a epilepsia às vezes fosse causada pela luminosidade da
lua (cf. SI 121.6 - “O sol não te molestará de dia, nem a lua,
de noite”). Os ataques descritos aqui são típicos dessa
doença.
O
pai angustiado informou a Jesus que havia trazido seu filho aos
discípulos, mas que eles não puderam curá-lo (16). O verbo usado é
therapeuo, que significa “curar”. O Mestre lhes havia concedido o
poder de expulsar demônios (10.8), mas por alguma razão eles foram
incapazes de resolver esse caso. O profundo desapontamento que Cristo
sentiu pela incapacidade de seus próprios apóstolos está refletido
nas palavras do versículo 17. Eles foram patéticos. Os discípulos
haviam
aprendido tão pouco com Ele!
Deve
ter sido com a maior severidade em sua voz que Jesus repreendeu... o
demônio que, imediatamente, saiu dele (18). O menino (pais) foi
curado (therapeuo) naquele mesmo instante. E óbvio que Cristo era
mais do que capaz de cuidar desse caso tão difícil.
Não
é de admirar que os discípulos quisessem saber porque haviam
fracassado (19). Jesus informou que era por causa da sua pequena fé
(20). Se tivessem fé como um grão de mostarda (veja os comentários
sobre 13.31-32), teriam ordenado ao monte que passasse daqui para
acolá e ele teria passado. E provável que Cristo não estivesse
falando literalmente sobre um monte.
Ao
mencionar este monte Ele queria dizer “essa grande dificuldade”,
esse caso que era demasiado difícil para eles. Sherman Johnson
observa: “A fé não move montanhas físicas através de alguma
mágica, mas seus próprios triunfos são mais maravilhosos do que
uma engenharia em grande escala”. Em uma linha semelhante, George
Buttrick escreve: “A fé já removeu montanhas – poderosos
impérios, seitas pagãs e a impiedade entrincheirada”.
O
versículo 20 atinge o seu clímax com essa admirável afirmação:
nada vos será impossível. Mas como isso poderia acontecer? A
resposta é: “Pela fé”. Marcos, cuja descrição dessa cura é,
como de costume, muito mais vívida do que consta em Mateus ou Lucas,
registra que Jesus disse ao pai do menino: “Tudo é possível ao
que crê” (Mc 9.23). Isso acontece porque Deus é o Todo-Poderoso,
e a fé traz consigo a divina onipotência para superar os problemas
humanos.
O
versículo 21 não consta em algumas versões modernas, porque não
faz parte dos dois manuscritos gregos mais antigos (Vaticano e
Sinaítico), assim como de algumas versões antigas. Em Marcos, a
primeira parte do versículo é autêntica, mas as palavras “e
jejum” foram acrescentadas mais tarde. Então, o versículo todo
deve ter sido transcrito por algum copista de acordo com esse mesmo
paralelo em Mateus.
20.
A Cura de dois Cegos de Jericó: Mt 20.29-34; Mc 10.46-52; Lc
18.35-43.
Esse
incidente está registrado nos três Sinóticos (cf. Mc 10.46-52; Lc
18.35-43). Mas enquanto Mateus menciona dois cegos (30), Marcos e
Lucas mencionam apenas um. Só Marcos identifica esse homem como
sendo Bartimeu. Evidentemente, este era o que mais se destacou entre
os dois, e poderia ter se tornado um cristão muito conhecido quando
Marcos escreveu o seu Evangelho.
Isso
aconteceu quando eles estavam Saindo... de Jericó (29), a caminho de
Jerusalém. Mas Lucas diz que o cego pediu ajuda quando Jesus estava
se aproximando de Jericó (Lc 18.35). Essa diferença nos relatos dos
apóstolos deu ocasião a consideráveis comentários (veja as notas
sobre Lucas 18.35-43). A solução mais simples talvez seja aceitar a
declaração de Lucas como uma mera indicação de que o milagre da
cura aconteceu nas proximidades de Jericó.
O
pedido dos dois cegos - Senhor, Filho de Davi, tem misericórdia de
nós (30) - é igual ao da mulher siro fenícia (15.22). Quando a
multidão tentou silenciá-los, mandando que ficassem em seus
lugares, os cegos continuaram repetindo o seu apelo (31).
Isso
fez com que Jesus parasse e perguntasse: Que quereis que vos faça?
(32). A resposta foi rápida e clara: Senhor, que os nossos olhos
sejam abertos (33). Movido de íntima compaixão Jesus tocou-lhes nos
olhos (34). Talvez esse ato tenha tido como maior objetivo o
fortalecimento da fé deles, e não apenas a cura. ... logo viram
(eles, literalmente, “enxergaram” ou “viram novamente”).
Fazendo bom uso de sua nova visão, eles o seguiram. Dessa forma, a
multidão aumentava enquanto o Mestre seguia o seu caminho para
Jerusalém, para se oferecer como o sacrifício expiatório pelos
pecados de toda a humanidade. Aquele que curava o corpo, veio
especialmente para curar a alma dos homens.
21.
A Figueira Sem Fruto. Mt 21.18-19; Mc 11.12-14,19-24.
Esse
episódio está registrado em Mateus e Marcos (11.12-14, 20-25). Como
indicam essas duas referências, Marcos separa essa história em duas
partes: a maldição da figueira na manhã da segunda-feira, e seu
definhamento na manhã da terça-feira. Novamente, Mateus reúne os
dois episódios em uma única narrativa, sem nenhum intervalo
cronológico.
Aconteceu
de manhã (18), quando Jesus estava retornando a Jerusalém vindo de
Betânia. Sentindo fome - não sabemos porque nada havia comido
naquela manhã – Ele viu uma figueira perto do caminho (19) -
literalmente “no caminho”. Quando se aproximou da árvore,
encontrou apenas folhas. Geralmente, os figos estão escondidos sob
as folhas, mas não havia nenhuma fruta. Então Jesus amaldiçoou a
árvore como sinal do desgosto de Deus perante a hipocrisia.
Mateus
diz: E a figueira secou imediatamente. A palavra grega é bastante
forte. Imediatamente neste texto é parachrema, que significa
“naquele momento, em seguida, instantaneamente”. Os discípulos
perceberam a mudança na aparência da árvore e exclamaram: Como
secou imediatamente a figueira? (20).
Como
isso pode se harmonizar com a clara indicação de Marcos, de que
somente
vinte
e quatro horas mais tarde os discípulos observaram a morte da
figueira? Já notamos o hábito de Mateus juntar os eventos. Mas ao
empregar a palavra “imediatamente” ele introduziu uma questão
real. A melhor solução seria considerar secou (19-20) como uma
introdução de tempo indeterminado, isto é, “começou a murchar”.
Apenas um dia depois de Jesus ter pronunciado a maldição da árvore,
os discípulos se surpreenderam ao ver que ela havia secado, e podem
ter usado a palavra “imediatamente” para descrever essa rápida
mudança.
Alguns
criticam Jesus por ter destruído a árvore, mas devemos entender que
não se tratava de uma propriedade particular, ela estava “no
caminho”. Além disso, Trench faz uma saudável observação: “O
homem é o príncipe da criação e todas as coisas existem para
servi-lo; elas preenchem sua subordinação quando o servem - na vida
ou na morte - produzindo-lhe frutos, ou advertindo através de uma
forma figurada qual seria a maldição e o castigo pela
infertilidade”.58 Ele acrescenta: “Cristo não atribuiu uma
responsa bilidade moral à árvore quando a castigou por causa de sua
infertilidade, mas Ele realmente lhe atribuiu a capacidade de
representar qualidades morais”. Certamente valia a pena a perda de
uma única árvore, que não pertencia a ninguém em particular, a
fim de ensinar aos discípulos uma lição que impactaria milhões de
pessoas.
Qual
era essa lição? Na verdade havia duas. A primeira era uma vívida
advertência contra a hipocrisia - ter as folhas de uma falsa
profissão de fé, mas nenhum fruto da graça de Deus. Uma aplicação
específica dessa lição era a nação de Israel, cujo povo
professava ser filho de Deus, mas que negava essa condição através
de sua conduta pecaminosa (cf. Jo 8.33-47).
A
segunda lição está descrita nos versículos 21 e 22. Jesus
declarou solenemente: Em verdade vos digo que, se tiverdes fé e não
duvidardes podereis fazer não só o que acabei de fazer como também
coisas muito maiores. Depois, Ele deu uma das mais notáveis
promessas da Bíblia relacionada à oração: E tudo o que pedirdes
na oração, crendo, o recebereis (22). Essa expressão pode parecer
a concessão de uma autoridade incondicional; uma carta branca. Mas
existe uma importante condição - crendo.
Ninguém
pode realmente acreditar em alguma coisa que seja contra a vontade de
Deus. Morison entendeu o sentido dessa passagem, quando escreveu: “O
que você realmente desejar - se o seu desejo se fundiu ao desejo de
Cristo e de seu Pai - você receberá desde que apresente esse desejo
diante do trono da graça”.
22.
A Cura da Orelha do Servo do Sumo Sacerdote. Mt 26.51; Mc
14.43-50; Lc 22.47-53.
Um
dos discípulos de Jesus - João 18.10 nos diz que foi Pedro - puxou
a sua espada e tentou defender o seu Mestre. Ele agitou a espada,
provavelmente com a intenção de cortar a cabeça do homem que ousou
colocar as suas mãos em Cristo. O homem talvez tivesse tentado
esquivar-se do golpe e assim perdeu uma orelha, em lugar de perder a
cabeça. João também nos diz que o nome do servo do sumo sacerdote
era Malco. E provável que tivesse essa informação por ele ser
conhecido do sumo sacerdote (cf. 18.15).
Jesus
ordenou ao seu zeloso discípulo que guardasse a sua espada,
pronunciando a significativa verdade: todos os que lançarem mão da
espada à espada morrerão (52). Ele também declarou que poderia
convocar mais de doze legiões de anjos (53). Não lhe faltava
defesa. Mas Ele precisava se submeter, para que a vontade de Deus,
revelada nas Escrituras (o nosso Antigo Testamento) fosse cumprida
(54).
A
seguir, Cristo repreendeu a multidão (55) por sair como para um
salteador (55;
grego,
“ladrão”) com espadas e porretes (“pedaços de pau”). O
Senhor lembrou aqueles homens de que haviam tido todas as
oportunidades de prendê-lo quando Ele ensinava diariamente no
Templo.
Mas
o que estava acontecendo era o cumprimento das Escrituras dos
profetas (56). Uma triste observação figura como um apêndice:
Então, todos os discípulos, deixando-o, fugiram. Onde estava a
lealdade que com tanta firmeza havia sido afirmada poucas horas antes
(cf. 35)?
Um
acréscimo importante é encontrado no versículo 51 em Lucas 22. Ali
Lucas reporta que Jesus curou o servo do sumo sacerdote cuja orelha
havia sido decepada. Este não é só mais um fato sobre a vida de
Jesus; isto também nos dá um dos poucos vislumbres do interesse
especial de Lucas. Como médico, é natural que ele tomasse nota
deste milagre, que não é uma duplicação de outro milagre
registrado de Jesus. Este interesse especial de Lucas dá maior peso
à crença tradicional de que ele era um médico.
23.
Trevas Sobre toda a Terra. Mt 27.45.
-50).
Os três Evangelhos Sinóticos mencionam a mudança que ocorreu na
hora sexta (ao meio-dia), quando houve escuridão até a hora nona
(45) - três horas da tarde. Isto aconteceu sobre toda a terra. A
palavra grega é ge, que pode ser traduzida como “terra” ou
“região”. Se a segunda hipótese for a correta, ela pode se
referir a toda a Palestina ou somente à Judeia.
Provavelmente,
a última interpretação é a melhor. Uma vez que a lua sempre é
cheia na época da Páscoa, o que acontece no meio do mês lunar
entre as luas novas, isto não poderia ter sido um eclipse do sol.
Tratava-se de uma escuridão sobrenatural ou devida a nuvens muito
pesadas e escuras. De qualquer forma, o acontecimento foi um milagre.
Aproximadamente
na hora nona - a hora da oferta dos sacrifícios do entardecer -
Jesus exclamou em alta voz: Eli, Eli, lemá sabactâni? - palavras
aramaicas que significam: Deus meu, Deus meu, por que me
desamparaste? (46). De que maneira Jesus tinha sido abandonado?
M’Neile diz: “O grito foi uma expressão da sua agonia de corpo e
alma, mas naquela agonia está envolvido o mistério da expiação”.
Alguns
dos presentes pensaram que Jesus estivesse chamando o profeta Elias.
Um deles ensopou uma esponja em vinagre e ofereceu a Ele, para saciar
a sua insuportável sede (48). Mas os restantes procuraram contê-lo.
E melhor esperar e ver se Elias virá salvá-lo (49). Mais uma vez
Jesus clamou em voz alta, e então entregou o espírito (50) - ou
“despediu o seu espírito”. Jesus havia declarado que tinha poder
para dar a sua vida e também para tornar a tomá-la (Jo 10.18).
24.
O Véu do Templo se rasgou: Mt 27.51-54.
Quando
Jesus morreu, o véu do templo se rasgou em duas partes, de alto a
baixo
(51).
Este era o véu interno, que separava o Santo dos Santos do Lugar
Santo. O significado espiritual desse acontecimento se afirma
claramente em Hebreus 9.1-14; 10.19-22.
Através
do véu da carne rasgada de Cristo, o caminho para a presença de
Deus estava agora aberto. Isto também pode ter sido uma indicação
de que em breve o antigo santuário seria destruído (70 d.C.) No
cristianismo podemos adorar a Deus a qualquer hora e em qualquer
lugar. Também pode ter havido uma conexão entre este evento e a
conversão de muitos sacerdotes (At 6.7).
O
rasgar do véu está registrado nos três Evangelhos Sinóticos (cf.
Mc 15.38; Lc 23.45), mas o tremor de terra e a ressurreição de
alguns santos só estão registrados aqui (51&-53). Se houve
alguma relação entre o tremor de terra e o rasgar do véu, não se
sabe; nada está afirmado aqui. Parecem ter sido duas específicas
consequências sobrenaturais daquela morte que abalou a Terra.
Tampouco sabemos o que aconteceu com os santos que ressuscitaram.
Quaisquer sugestões a esse respeito seriam pura especulação.
Quando
o centurião (oficial encarregado de cem homens) viu as coisas que
tinham acontecido, ele se atemorizou e disse: Verdadeiramente, este
era o Filho de Deus (54). Não há um artigo definido no texto grego
aqui. Essa frase pode ser traduzida como “um filho de Deus” (RSV)
ou talvez “Filho de Deus” (Berkeley). Mas uma coisa deve ser dita
sobre a tradução “o Filho de Deus” aqui. E. C. Colwell discutiu
longamente o uso ou a omissão do artigo definido no texto grego do
Novo Testamento.
Moule
aparentemente concorda com ele. A omissão do artigo definido não é
uma evidência contrária à divindade de Jesus, ensinada tão
claramente por todo o Novo Testamento. A omissão aqui apenas sugere
que era improvável que um soldado romano pagão pudesse ter
conhecimento suficiente para entender e afirmar a divindade de Jesus.
Na narrativa de Lucas, o centurião diz: “Na verdade, este homem
era justo”.
25.
O véu do Templo rasgou os Sepulcros Foram Abertos.
Mt 27.51-53.
O
véu era a grossa cortina entre o Santuário o Santo dos Santos (ver
Hb 6.19; 9.3; 10.20). O fato de que ele se rasgou em dois, de alto
a baixo indica que não foi ação de um homem. A morte de Jesus
abre o caminho para a presença de Deus.
O
rasgar do véu está registrado nos três Evangelhos Sinóticos (cf.
Mc 15.38; Lc 23.45), mas o tremor de terra e a ressurreição de
alguns santos só estão registrados aqui (51&-53). Se houve
alguma relação entre o tremor de terra e o rasgar do véu, não se
sabe; nada está afirmado aqui. Parecem ter sido duas específicas
consequências sobrenaturais daquela morte que abalou a Terra.
Tampouco sabemos o que aconteceu com os santos que ressuscitaram.
Quaisquer sugestões a esse respeito seriam pura especulação.
H6.19.
a qual temos como âncora da alma, segura e
firme, e que penetra até o interior do véu; O conteúdo da
esperança judaica verdadeiramente bíblica não estava em um paraíso
terreno, com um domínio político do mundo, como tantas vezes tem
sido interpretado erroneamente; em vez disso, esta esperança
habitava na eterna presença de Deus. Aprofunda esperança de uma
alma espiritualmente inclinada deveria penetrar nos mistérios por
trás do véu (Lv 16.2) — “uma esperança que alcança mais longe
e que adentra a certeza da Presença no interior do véu” (NT
Ampl.).
Hb
9. 3-5). O segundo tabernáculo, ou uma divisão da estrutura total,
era uma câmara quadrada de cerca de cinco metros que se chama o
Santo dos Santos (3).
O
véu separando este lugar do santo lugar é chamado de segundo véu
porque o lugar santo estava separado do pátio externo por um outro
véu que, se alguém se aproximasse desta tenda à porta do pátio,
seria naturalmente o primeiro véu. O Santo dos Santos [...] tinha o
incensário de ouro (melhor, “altar”) e a arca do concerto (4).
Somente Hebreus registra os três itens na arca: o maná, e a vara de
Arão, que tinha florescido, e as tábuas do concerto.
Hb
10.20. pelo novo e vivo caminho que ele nos
inaugurou, através do véu, isto é, da sua carne, 20). É
bom lembrar que o autor colocou o seu olhar no caminho para dentro do
Santo dos Santos em 9.8, onde declara que “ainda o caminho do
Santuário não estava descoberto”. Mas agora o caminho está
aberto e revelado. Este caminho é novo no sentido de que foi feito
novo recentemente.
Novo
(prosphaton) literalmente significa “morto recentemente”; aqui há
um caminho de entrada que nunca fica velho. Este caminho é vivo no
sentido de que é válido perenemente, nunca é antiquado; mas
especialmente no sentido de que é eficaz.
Dessa
forma, ele nos consagrou (20). O ato de instituir (aoristo) é a ação
que o
autor
tem discutido. Mas Cristo instituiu este caminho pelo véu, isto é,
pela sua carne. Véu é katapetasmatos, “cortina”, de
katapetannumi, “expandir”. O véu, portanto, é um tipo de
“cortina de ferro” que não só separa mas “expande”, no
sentido de ressaltar a distância entre Deus e o homem. O tipo
original no Tabernáculo é mencionado em 9.3, enquanto o protótipo
espiritual é mencionado em 6.19. Lá, a entrada “até o
interior do véu” é descrita como a “esperança proposta”,
e Jesus entrou por nós como “nosso precursor”.
A
cena foi assim confirmada, mas o autor ainda não estava pronto para
expor o caminho que transformaria esperança em fé e esta em fato.
Neste versículo-chave, no entanto, Jesus não é simplesmente o
“precursor” através do véu, mas a sua carne (natureza
humana) é o véu. Este é um conceito radicalmente novo, e altamente
figurado, cuja interpretação precisa da iluminação de Mateus
27.51: “E eis que o véu do templo se rasgou em dois, de alto a
baixo”.
Uma
interpretação entende o véu como um tipo de Jesus
fundamentalmente. Isto explicaria o fato de que no Tabernáculo o véu
era primorosamente belo, com símbolos costurados que representavam a
humanidade e a divindade (Ex 26.31-33).
Haldeman
comenta: “Enquanto Cristo caminhava na terra em sua beleza e
humanidade perfeita, Ele excluiu o homem de Deus”. Jesus, apenas
como Exemplo perfeito traria condenação, não salvação, porque
ressaltaria o abismo instransponível entre a pecaminosidade do homem
e o requisito de pureza para se ter comunhão com o Deus santo. Se o
véu deve tornar-se caminho, precisa ser sacrificado; precisa ser
rasgado.
A
eficácia salvadora do corpo quebrado e do sangue derramado ocorreu
na perfeição da natureza e vida totalmente humanas do nosso Senhor,
um substituto apto e aceitável, o “justo pelo injusto”. Mas como
o Sangue fala mais da expiação, e é a base da nossa justificação
(sua vidafísica como preço pela nossa vida espiritual), assim o
corpo de Cristo (v. 5; Sua natureza humana) é mais particularmente
associado ao caminho para dentro do Santo dos Santos.
Não
fala da sua vida dada por nós, mas da sua natureza humana
tornando-se disponível para nós, para que a nossa se torne uma
natureza transformada (Tt 2.14). Assim, não há só expiação, mas
santificação; não só o caminho para dentro do primeiro santuário,
com os direitos de perdão, mas o caminho para dentro do segundo, com
os direitos de santidade interior — completa unidade com Deus.
Uma
interpretação alternativa (e talvez a preferível) do véu é vê-lo
como um tipo da pecaminosidade do homem, que o desqualifica a ter
acesso ao Santo dos Santos. Neste caso, Jesus foi esta natureza —
este véu — pela identificação espiritual. Ele assumiu em seu
próprio corpo a desonra desta natureza e a levou para a cruz (Rm
6.6; 8.30).
Este
corpo quebrado na cruz liberou poder para a salvação da
pecaminosidade do homem:
1)
“De alto” — os esforços do homem para mudar sua natureza são
em vão;
2)
“a baixo” — uma destruição completa da natureza pecaminosa é
a provisão; o véu não foi rasgado pela metade (Rm 8.4
Porque somos salvos pela esperança.
Mas, a esperança que se vê não é esperança; pois o que alguém
vê, como o espera?).
Independentemente
da interpretação, se entendermos Cristo como o véu, ou se o véu
representa a pecaminosidade do homem, ele nos leva ao mesmo lugar: o
obstáculo é removido e temos completo acesso ao Santo dos Santos.
26.
O Milagre da Ressurreição de Jesus: Mt 28.2-8;
Lc 24.1-12; Jo 20.1-18.
No
fim do sábado (1) significa “depois do sábado”. Quando já
despontava o primeiro dia da semana demonstra que já era a manhã de
domingo. Maria Madalena e a outra Maria foram ver o sepulcro. E
provável que esta seja a mesma visita descrita em João 20.1,
onde somente Maria Madalena é mencionada. As duas mulheres foram
contar a novidade para os discípulos (Pedro e João, no quarto
Evangelho) e talvez a outra Maria não tenha voltado para o sepulcro
até mais tarde, depois que Maria Madalena já tinha visto o Senhor
ressuscitado.
Somente
Mateus fala do terremoto, quando um anjo veio e removeu a pedra (2),
e somente ele descreve a aparência do anjo (3) e o medo dos guardas,
ou “guardiões” (4). As palavras do anjo (5-7) são bastante
semelhantes nos textos de Mateus e de Marcos (16.6-7). Em ambos, as
mulheres recebem a ordem de ir dizer aos discípulos que Jesus se
encontrará com eles na Galiléia (7). Ambos mencionam a mescla de
sentimentos das mulheres, quando saíram do sepulcro vazio (8).
Somente
Mateus relata a aparição de Jesus a essas mulheres, quando elas
estavam indo contar a novidade aos discípulos (9). Ele as saudou com
as palavras: Eu vos saúdo. Em grego, esta é uma única
palavra, chairete, que literalmente significa “alegrem-se,
fiquem contentes”. Lenski diz: “O verbo chairein é usado
para expressar todas as formas de saudação, e normalmente transmite
um desejo de felicidade e de bem-estar”. Para esta passagem, Arndt
e Gingrich sugerem “bom dia”. As duas mulheres caíram aos seus
pés e o adoraram como o seu Senhor ressuscitado e vivo.
Como
o anjo tinha dito às mulheres que não tivessem medo (5), assim
também
Jesus
lhes disse: Não temais (10). Isto significa literalmente: “Parem
de ter medo!” Então Ele repetiu as instruções do anjo, de que
elas deveriam dizer aos discípulos que fossem para o norte, para a
Galiléia, onde os encontraria. Mas tudo indica que permaneceram em
Jerusalém durante uma semana, antes de partirem para a Galiléia
(cf. Jo 20.28).
Sob
o título “A mensagem do Sepulcro Vazio”, podemos
considerar:
1)
o mistério do sepulcro vazio - Ele não está aqui;
2)
o milagre do sepulcro vazio - Ele ressuscitou;
3)
o significado do sepulcro vazio -
a)
um sacrifício aceito, Rm 4.25;
b)
uma presença permanente, Jo 20.16;
c)
um julgamento marcado, At 17.31.
27.
Jesus Apare aos Discípulos. Mt 28.16-17.
Obedecendo
à ordem de Cristo, os onze discípulos seguiram para o norte, para a
Galiléia, até o monte onde Jesus iria encontrá-los (16). Em nenhum
ponto se menciona qual era esse monte. Quando eles viram Jesus, o
adoraram; mas alguns duvidaram (17).
Isto
parece implicar que havia um grupo maior do que onze pessoas, e essa
pode ter sido a mesma reunião em que o Cristo ressuscitado foi visto
por “mais de quinhentos irmãos” ao mesmo tempo (1 Co
15.6).
A
Grande Comissão é dada nos versículos 18-20. Blair a chama de “a
passagem-chave deste Evangelho”, e acrescenta: “Aqui se
compreendem muitas das ênfases do livro”.
Ele
menciona a totalidade do poder de Jesus, “o seu caráter
derivativo”, a ordem de evangelizar o mundo todo, a natureza do
discipulado, e a certeza da presença de Jesus”.
27.
A Cura de um Cego em Betsaida: Mc 8.22-26.
Caminhando
vagarosamente desde a margem ocidental do Mar da Galiléia (10,13),
através das aldeias de Cesaréia de Filipe (27), para o norte, Jesus
e os discípulos chegaram naturalmente a Betsaida, uma considerável
cidade localizada há um quilômetro e meio da margem nordeste do
lago. “Originariamente, era uma pequena aldeia, porém Filipe, o
tetrarca da Galiléia, elevou-a à posição de cidade e deu-lhe o
nome de Julias, em homenagem a Júlia, a filha do imperador.”
Algumas
pessoas que tinham fé em Jesus e compaixão pelos necessitados
levaram um cego (22) até o Mestre e rogaram-lhe que fizesse o que
fazia normalmente - tocasse o enfermo. Caracteristicamente, Marcos
registra os detalhes como se tivesse sido uma testemunha ocular.
Jesus
tomando o cego pela mão, levou-o para fora da aldeia (23),
procurando “privacidade e silêncio para o tratamento”. Colocando
saliva sobre os olhos do homem (que todos acreditavam ter poderes
curativos), Jesus realmente o tocou (impondo-lhe as mãos) e depois
perguntou-lhe se via alguma coisa. Passo a passo, como no caso do
surdo e gago de Decápolis (7.31-37), Jesus encorajou e fortaleceu a
fé do cego.
A
linguagem da resposta do homem, no original, expressa a sua
excitação. “Poderíamos traduzi-la da seguinte forma: Posso
realmente ver as pessoas, pois elas me parecem árvores - a diferença
é que elas andam!.”
O
fato é que o homem podia simplesmente ver, mas indistintamente.
Cole, um inglês, observa que “qualquer um que tenha sido levado a
pedir desculpas a um poste, depois de uma colisão, por causa da
neblina de Londres, irá estimar... ‘imediatamente’ a ‘colunar
semelhança’ que existe entre o ‘tronco’ de uma árvore e um
homem!”.
O
Senhor colocou suas mãos (25) uma segunda vez sobre aqueles olhos
enfermos. “O homem olhou firmemente... ficou restabelecido, e via
tudo distintamente - mesmo o que estava à distância” (NT
Amplificado). 66O milagre foi completo e total.
O
homem não ficou nem com miopia nem com hipermetropia! Não está
claro nas Escrituras porque Jesus realizou esse milagre em duas
etapas, embora muitas explicações tenham sido oferecidas pelos
estudiosos da Bíblia.
Pode
ser que Marcos tenha introduzido essa história como uma espécie de
parábola relacionada com os discípulos que somente então haviam
começado a entender Jesus. “Em breve, depois do segundo toque do
Seu Espírito no Pentecostes, eles passariam a ver as coisas
claramente.
Como
no caso do paralítico (2.11), Jesus mandou-o (26) embora
para sua casa, aparentemente no campo, onde sua família seria a
primeira a tomar conhecimento da alegre notícia. Ele recebeu a ordem
de não entres na aldeia, e de não transmitir as boas-novas a
ninguém, para que a publicidade não impedisse a viagem de Jesus a
Cesaréia de Filipe. Jesus se recusava a ceder à tentação de ser
conhecido como um grande operador de milagres.
28.
A Ressurreição do Filho da Viúva de Naim: Lc 7.11-17.
Este
episódio só consta do texto de Lucas. Naim ficava na planície de
Esdraelom, a cerca de três quilômetros do monte Tabor,
aproximadamente trinta quilômetros a sul-sudoeste de Cafarnaum, e a
uns dez quilômetros ao sul de Nazaré. Pertencia à tribo de
Issacar. Naim significa “agradável” ou “formosura”.
Este
milagre é uma das três ocasiões registradas no Novo Testamento em
que Jesus ressuscitou os mortos, embora haja clara evidência de que
outras pessoas, não informadas, tenham sido ressuscitadas.
Dois
destes três milagres são narrados em somente um dos Evangelhos. A
ressurreição de Lázaro é encontrada somente no texto de João
(11.44). O evento mencionado aqui só é encontrado no texto de
Lucas. A ressurreição da filha de Jairo é apresentada nos três
Sinóticos.
Aconteceu...
ir ele à... Naim, e com ele iam muitos dos seus discípulos e uma
grande multidão (11). A multidão não se limitava a ficar ao seu
redor nas cidades, mas o seguia de uma cidade a outra. Esta multidão
se compunha de três grupos: os Doze, muitos dos seus discípulos, e
grande multidão.
Levavam
um defunto, filho único de sua mãe... viúva (12). O Evangelho de
Lucas é o Evangelho dos pobres, dos oprimidos, dos infelizes. O
rapaz era o filho único e
a
mulher era viúva. Assim, ele era a sua única fonte de sustento,
assim como a sua alegria e o seu orgulho. Jesus demonstrava interesse
pelas necessidades econômicas do homem, e também pelas suas
necessidades físicas e espirituais.
O
Senhor é um título encontrado frequentemente no texto de Lucas e
peculiar a
este
Evangelho. Moveu-se de íntima compaixão por ela (13). Observamos,
antes de mais nada, que o motivo deste milagre foi a compaixão. Sem
dúvida, Jesus realizou milagres para confirmar a sua divindade. Mas
a sua maravilhosa compaixão nunca estava ausente quando o milagre
tinha algo a ver com os problemas humanos ou com o sofrimento humano,
e algumas vezes esta compaixão parece ser o único motivo envolvido.
Além
disso, vemos que a compaixão era relacionada à viúva. Não há
indicação de que Jesus tenha se comovido pela condição do filho
morto, exceto pelo fato de que a sua morte trouxe dificuldades e
tristeza para a mãe. Cristo não vê a morte como uma tragédia, a
menos que seja a morte de um pecador. Não chores. Estas amáveis
palavras, vindas do grande coração amoroso de Jesus, trariam um
pouco de conforto à mulher.
Tocou
o esquife (e os que o levavam pararam) (14). O esquife não era um
caixão como os usados pelos egípcios, mas uma estrutura plana,
semelhante a uma cama, na qual o cadáver era colocado embrulhado em
um tecido. O toque de Jesus no esquife produziu uma reação imediata
naqueles que o levavam. Afama de Jesus era tão grande que eles, sem
dúvida, sabiam quem Ele era, e não estavam totalmente despreparados
para um milagre.
Jovem,
eu te digo: Levanta-te. Quando Jesus pronunciou estas palavras, elas
pareciam ser uma simples ordem ou um pedido que certamente seria
seguido por algum resultado imediato. O Criador, Aquele que dá a
vida, está ali, falando, e o seu poder de dar a vida fica claramente
demonstrado; pois o defunto assentou-se e começou a falar (15).
De
todos se apoderou o temor (16). O efeito do milagre sobre a multidão
foi tremendo. Literalmente, “o temor dominou a todos”. Uma
evidência tão inconfundível da presença e do poder de Deus produz
um medo em todos - no santo, produz um temor reverente; no pecador,
um medo da punição. Mas todos eles glorificavam a Deus. Eles
justificavam o milagre de duas maneiras: a) Um grande profeta se
levantou entre nós, e b) Deus visitou o seu povo. A segunda
explicação parece implicar o Messias. Como aqueles que ouviram a
história da Natividade ou que viram o menino Jesus, eles sabiam que
Deus estava trabalhando, mesmo que não compreendessem inteiramente a
evidência que tinham diante de si.
E
correu dele esta fama (literalmente, “este relato”) por toda a
Judéia e por toda a terra circunvizinha (17). Nenhuma obra conhecida
de Jesus até este ponto criou tanta agitação, e nenhum relato se
espalhou com tanto entusiasmo, alcançando
uma
distância tão grande.
29.
A Cura de Mulher Paralitica. Lc 13.10-13.
E
ensinava no sábado, numa das sinagogas (10). Literalmente “aos
sábados”. Bruce acredita que isto significava uma série de
ensinos em uma sinagoga, com duração de várias semanas.
Entretanto, a palavra no original grego parece favorecer a
interpretação de que se trata de um costume de ensinar no sábado
nas sinagogas. Ensinar nas sinagogas no sábado era um hábito de
Jesus durante os primeiros meses de seu ministério, mas há poucos
registros desta prática durante o seu ministério na Peréia.
Este
versículo, portanto, parece indicar que este costume não foi
interrompido, embora tivesse a oposição dos líderes judeus. O
milagre que se segue está registrado apenas em Lucas. Estava ali uma
mulher que tinha um espírito de enfermidade havia já dezoito anos
(11). Observe a maneira precisa e detalhada que Lucas, o médico,
descreve a doença da mulher. Parecia que este era um caso extremo de
curvatura da espinha, e a história fica mais triste ainda pelo fato
de ela sofrer com isso havia dezoito anos.
A
expressão espírito de enfermidade indica fortemente que a
enfermidade foi causada por um espírito maligno, ou que a sua causa
básica era espiritual. Esta inferência é sustentada no versículo
16, onde Jesus disse que ela era cativa de Satanás. Godet diz que a
expressão espírito de enfermidade se refere à fraqueza espiritual,
que por sua vez vem de uma causa maior, pela qual a vontade do
sofredor se tornou cativa. Esta “causa maior” a que ele se refere
é obviamente espiritual; ou seja, uma aflição satânica. Assim, a
mulher tinha uma doença dupla. A dificuldade física era uma
manifestação exterior do cativeiro espiritual interior.
E
não podia de modo algum endireitar-se. Literalmente, “e não
conseguia se levantar completamente”. O grego permitiria estes dois
sentidos:
1)
“Era totalmente incapaz de se levantar”, ou
2)
“Não era capaz de erguer-se completamente”.
A
tradução anterior é preferível, tanto pela gramática grega
quanto pelo contexto da passagem. Estás livre da tua enfermidade
(12). Estás livre traduz um tempo perfeito do verbo no grego,
indicativo de que a libertação é um fato consumado. E impôs as
mãos sobre ela, e logo se endireitou (13). Aqui ela experimentou o
milagre. Ela se endireitou pelo toque das mãos do Senhor.
O
príncipe da sinagoga (14). Provavelmente o chefe do conselho dos
dez judeus que controlavam esta sinagoga. ...indignado porque Jesus
curava no sábado. Ele
estava
tão irado pela aparente violação do sábado que perdeu totalmente
o sentido e o valor do milagre. A Lei, de acordo com a interpretação
dos rabinos daquela época, só permitia que, no sábado, os médicos
atendessem casos de emergência. O caso em questão era crônico e,
portanto, segundo a interpretação dos rabinos, não podia
legalmente ser tratado naquele dia santo.
...disse
à multidão. O príncipe da sinagoga não teve coragem de atacar o
Mestre
diretamente,
mas reprovou o povo - a mulher e aqueles que estavam com ela - com
uma voz suficientemente alta para que Jesus ouvisse. Seis dias há em
que é mister trabalhar. Os rabinos exageraram tanto as proibições
do quarto mandamento, a ponto de tal gesto de misericórdia de Jesus
- a cura desta mulher aflita - ser interpretado como trabalho e,
portanto, proibido no sábado.
Hipócrita,
no sábado não desprende da manjedoura cada um de vós o seu boi ou
jumento e não o leva a beber água? (15) O príncipe da sinagoga e
todos os líderes dos judeus realizavam aquele gesto humano no
sábado. Mesmo assim entendiam
que
esta mulher deveria sofrer até o dia seguinte. Esta grotesca
inconsistência torna o termo hipócrita, proferido pelo Mestre,
ainda mais apropriado. Quando nos lembramos de que aqueles animais
representavam propriedade - riqueza - vemos o completo egoísmo
destes hipócritas. Spence coloca a questão da seguinte forma:
“Qualquer possível indulgência deveria ser mostrada nos casos em
que os seus próprios interesses estivessem envolvidos; porém, não
se deveria pensar em nenhuma forma de misericórdia ou indulgência
onde só fossem considerados os interesses dos pobres doentes”
Não
convinha soltar desta prisão, no dia de sábado, esta filha de
Abraão (16). Para qualquer um
que não esteja cego pelo preconceito, a resposta não só é óbvia
como
também é mais poderosa quando está implícita e não abertamente
verbalizada. A referência de Jesus à mulher como sendo filha de
Abraão sugere que ela tem um duplo apelo à misericórdia e ajuda de
todos os judeus - como um ser humano e como uma compatriota
israelita.
E,
dizendo ele isso, todos os seus adversários ficaram envergonhados
(17). A palavra todos indica que o chefe da sinagoga tinha alguns
ajudantes ativos no seu ataque ao Mestre. Mas a réplica de Jesus era
tão relevante e tão adequada, que até mesmo estes homens egoístas
ficaram envergonhados. Eles não expressaram qualquer refutação -
não havia nenhuma a fazer.
E
todo o povo se alegrava por todas as coisas gloriosas que eram feitas
por ele. O povo reconheceu e apreciou aquilo que os líderes
religiosos negligenciavam por sua cegueira: que Deus havia trabalhado
entre eles, e que havia demonstrado a sua ilimitada compaixão, assim
como o seu soberano poder. Aquilo que viram fez com que associassem
este Jesus ao Deus do Céu. Sem dúvida, a resposta de Jesus
censurando o príncipe da sinagoga aumentou o entendimento e a
admiração que sentiram pelo milagre ali presenciado por eles.
Charles
Simeon faz três reflexões sobre este episódio:
1)
Quanta cegueira e hipocrisia existem no coração humano!
2)
Como é desejável abraçar cada oportunidade de esperar em Deus! -
esta mulher recebeu a cura porque participava fielmente das reuniões
na sinagoga;
3)
Com que conforto e esperança podemos confiar os nossos problemas a
Jesus!
30.
A Cura de um Hidrópico: Lc 14.1-5.
Entrando
ele em casa de um dos principais dos fariseus (1). Este líder estava
entre os fariseus mais graduados. Ele era possivelmente um membro do
Sinédrio, ou ocupava uma elevada posição no Estado judaico, e que
lhe dava poder e influência. Num sábado... para comer pão.
Estas festas no dia de sábado eram comuns, e Jesus foi convidado
para várias delas. A única restrição feita nestas ocasiões era
que a comida deveria ser preparada no dia anterior.
Eles
o estavam observando. Esta é a primeira pista que temos de que seu
anfitrião tinha um motivo secreto para convidá-lo, e explica porque
um fariseu de nível elevado convidaria Jesus para comer em sua
companhia em tal ocasião. O preconceito e o ódio dos membros
daquele partido em relação a Jesus tinham chegado a um ponto tão
crítico, que procuravam a sua destruição.
Esta
é uma das muitas ocasiões em que os fariseus agiam como hipócritas
- sempre fingindo ser amigos de Jesus para alcançar os seus
objetivos malignos. Eles até mesmo colaboraram com inimigos
tradicionais durante as suas campanhas contra o Senhor. A aceitação
de um convite como este por parte de Jesus demonstrou coragem e amor.
Ele sabia por experiência o perigo que correria, mas seu amor por
todos os homens - incluindo os fariseus - não deixaria que Ele
abrisse mão desta oportunidade. Poderia surgir uma chance de ajudar
esse anfitrião até mesmo nesta fase final.
Estava
ali diante dele um certo homem hidrópico (2). Estas palavras
implicam um aparecimento súbito - ou pelo menos um súbito
reconhecimento da situação por parte de Jesus. O homem foi
obviamente trazido pelo anfitrião e seus comparsas como uma cilada
para o Senhor. Sem qualquer preparação ou apresentação, ele
apareceu perante o Mestre. O fato da presença deste homem ser parte
de uma trama contra Jesus está fortemente implícito na “observação”
por parte dos fariseus (2). Isto também é evidenciado pela imediata
defesa de Jesus da sua prática de curar no sábado (3-6).
E
Jesus... falou aos doutores da lei e aos fariseus, dizendo: E lícito
curar no sábado? (3) Como os pássaros que esperam pela presa,
estes predadores humanos esperavam que Jesus caísse em seu poder.
Mas Jesus transferiu a responsabilidade a eles, através de sua
pergunta. Eles se consideravam autoridades da lei. Mas a lei
condenava tais atos de misericórdia? Não, e eles indubitavelmente
enxergaram o âmago da questão do Mestre. Mas seus preconceitos e
propósitos malignos os impediram de admitir.
Eles,
porém, calaram-se. E tomando-o, o curou e despediu (4). Em
circunstâncias normais os fariseus teriam respondido à pergunta de
Jesus, tanto para esclarecer seus ensinos neste ponto, como também
para condenar Jesus. Mas ali seus sinistros intentos poderiam ser
melhor servidos pelo silêncio.
Eles
evidentemente não queriam fazer ou dizer algo que evitasse a cura
daquele homem. Eles queriam usar o que consideravam como
desconsideração de Jesus pelo sábado como munição para a sua
campanha de destruição. Jesus estava bem consciente dos desígnios
deles, mas havia duas coisas mais importantes para Ele naquela hora
do que a sua própria segurança: um princípio de justiça e um ser
humano que estava sofrendo. O homem hidrópico não era um partidário
daquela trama, mas um inocente sofredor que estava sendo usado por
aquele ardiloso anfitrião. O Mestre, sábio e bondoso como sempre, o
curou e o despediu.
Qual
será de vós o que, caindo-lhe num poço, em dia de sábado, o
jumento ou o boi, o não tire logo? (5) Todos estes fariseus sabiam
que o Mestre estava certo. Eles resgatariam imediatamente, mesmo no
sábado, um animal que estivesse encurralado. Então, por que um
homem que estava sofrendo não poderia ser curado? A única
explicação para a inconsistência deles é que o preconceito e a
vaidade estimulavam as suas atitudes.
O
preconceito das suas doutrinas religiosas fazia com que
desconsiderassem as necessidades mais urgentes dos seres humanos. A
ambição pelas riquezas representada no caso do animal encurralado,
os tornava ávidos para tirar o animal do buraco. Em nenhum dos casos
o amor e a bondade eram os motivos de suas atitudes. E nada lhe
podiam replicar sobre isso (6).
No
versículo 4 eles nada disseram porque o silêncio estava em harmonia
com os seus desejos malignos. Aqui eles não podiam responder porque
não tinham resposta alguma que não os incriminasse. O Mestre curou
o homem e silenciou os seus inimigos. Mas ao fazê-lo, abriu uma
brecha entre ele e seus inimigos, aumentando a determinação
daqueles homens de destruí-lo.
31.
A Cura de Dez Lebrosos: Lc 17.12-19.
E,
entrando numa certa aldeia, saíram-lhe ao encontro dez homens
leprosos, os quais pararam de longe (12). Ele encontrou estes
leprosos antes de chegar à aldeia. Segundo a lei mosaica, os
leprosos deveriam viver distantes dos lugares habitados, isolados de
todos, com exceção de seus companheiros leprosos (Lv 13.46). Eles
também eram obrigados a anunciar a sua enfermidade a todos aqueles
que se aproximas sem, dizendo: “Impuro, impuro!”
E
levantaram a voz, dizendo: Jesus, Mestre, tem misericórdia de
nós! E ele, vendo-os, disse-lhes: Ide e mostrai-vos aos
sacerdotes. E aconteceu que, indo eles, ficaram limpos (13-14). Eles
sem dúvida conheciam Jesus tanto de vista como pela sua reputação.
E bem possível que conhecessem pessoas que haviam sido anteriormente
curadas de lepra pelo Senhor, durante o seu ministério. A instrução
que Jesus lhes deu, para se mostrarem aos sacerdotes, estava de
acordo com a lei levítica relativa à lepra.
E
um deles... voltou glorificando a Deus (15-16). Este homem estava
plenamente consciente do milagre que lhe foi concedido, e se sentia
profundamente grato pela cura. Ele expressou a sua gratidão com
grande emoção e em voz alta.
E
este era samaritano. Isto não era o que um judeu teria esperado de
um samaritano. Os discípulos puderam aprender uma lição através
desta experiência: a gratidão e a bondade são o resultado do
caráter de cada pessoa; estas qualidades não estão ligadas à raça
e nem à nacionalidade. Não foram dez os limpos? E onde estão os
nove? Não houve quem voltasse para dar glória a Deus, senão este
estrangeiro? (17-18).
Não
sabemos se todos os nove eram judeus, mas sabemos que nenhum dos nove
retornou para expressar a sua gratidão. Por que eles foram unânimes
nesta falha? Por que há tão pouco do espírito de gratidão no
coração humano?
E
disse-lhe: Levanta-te e vai (19). O termo vai provavelmente
significa, pelo menos
em
parte, “Vai até os sacerdotes”. Embora ele tivesse sido curado
miraculosamente, a lei ainda exigia que obtivesse uma certificação
por parte dos sacerdotes, antes que pudesse retomar a sua vida
normal.
A
tua fé te salvou. Ele recebeu alguma coisa diferente dos outros?
Todos foram limpos. Mesmo que este homem não tenha recebido mais
nada do Senhor além deste elogio, podemos ter a certeza de que ele
recebeu um presente de valor incalculável. Mas ele também recebeu
uma bênção interior e o engrandecimento de sua alma. O elogio
implica que este homem tinha mais fé, ou uma qualidade superior de
fé, quando comparado aos outros nove.
Usando
o tema: “Onde estão os nove?”, Maclaren expressa quatro
considerações:
1)
O clamor dos leprosos, e a estranha resposta do Senhor;
2)
A cura concedida através de uma fé obediente;
3)
Um exemplo solitário de gratidão;
4)
O triste espanto de Jesus e a ingratidão do homem.
32.
A Água Feito Vinho: Jo 2.1-11.
Jesus
principiou assim os seus sinais (2.11), frase que só é observada no
quarto
Evangelho,
é uma introdução adequada para tudo o que vem a seguir. Nenhum
outro milagre contém tanta profecia; nenhum outro, portanto, poderia
ter iniciado tão apropriadamente todo o futuro trabalho do Filho de
Deus. Pois este trabalho poderia ser caracterizado do princípio ao
fim como um enobrecer do comum e uma transformação do inferior; uma
transformação da água da vida em vinho do céu.
E,
ao terceiro dia, fizeram-se umas bodas em Caná da Galiléia (1).
A época deste acontecimento tem um duplo significado. O primeiro,
puramente cronológico, rela ciona este acontecimento com a conversa
com Natanael. A tradução literal seria “depois do dia seguinte”
ou “dois dias depois”.
A
promessa feita a Natanael de que ele veria o céu aberto não poderia
demorar a ser cumprida. Foi neste terceiro dia que Jesus...
manifestou a sua glória, e os seus discípulos creram nele (11).
O
milagre aconteceu em Caná, pouco mais de catorze quilômetros ao
norte da cidade de Nazaré (ver mapa l). A designação Caná da
Galiléia provavelmente é feita para distinguir este lugar de outra
Caná, próxima de Tiro, ou possivelmente para assinalar a mudança
de lugar dos acontecimentos, da Peréia para a Galiléia.
Fizeram-se
umas bodas. Embora este fosse um acontecimento histórico, as bodas
são
uma metáfora frequentemente usada nos ensinos de Jesus sobre a
natureza do Reino que há de vir. O Reino é comparado a um casamento
real (Mt 22.2). Jesus descreve a si mesmo como o Noivo, e os seus
discípulos como convidados (Mc 2.19-20). Em outra ocasião, Jesus é
o Noivo e João Batista é o amigo ou “padrinho” (3.29). Em outro
exemplo do Novo Testamento, a Igreja é a noiva e Cristo é o Noivo
(2 Co 11.2; Ap 21.2). Em uma metáfora ampliada, Paulo fala da Igreja
como a noiva de Cristo (Ef 5.22-32).
E
estava ali a mãe de Jesus. E foram também convidados Jesus e os
seus discípulos para as bodas (1-2). A mãe de Jesus não é
mencionada pelo nome neste Evangelho. E um fato interessante, se nos
lembrarmos de que o discípulo João também não é mencionado pelo
nome. A presença dela no casamento parece ter sido anterior à
chegada de Jesus e os discípulos. Este fato, além da sua posterior
observação a Jesus sobre a falta de vinho, indica que ela tinha
algum relacionamento com a família. Por outro lado, explica por que
Jesus e os seus discípulos foram convidados.
E,
faltando o vinho, a mãe de Jesus lhe disse: Não têm vinho (3).
A primeira frase pode ser traduzida literalmente do seguinte modo: “E
quando o vinho tinha acaba do”. Isto seria uma catástrofe social
para as famílias dos noivos. Há um provérbio judaico que diz: “Sem
vinho não há alegria”, e isto seria particularmente verdadeiro em
uma ocasião festiva como um casamento. Pelo fato de as celebrações
dos casamentos durarem um período de sete dias, este problema só
complicava ainda mais a situação, que já era embaraçosa.
A
informação que Maria traz a Jesus — Não têm vinho — corrobora
a tradução literal, “quando o vinho tinha acabado”. A pergunta
é: Por que ela disse isto a Jesus? Seria uma sugestão sutil de que
deveriam ir embora? Será que ela disse isto em voz alta para que
outras pessoas pudessem ouvir e começassem a preparar-se para
partir, a fim de evitar constrangimentos para os noivos? Ou imaginava
que Jesus, seu Filho, que ela conhecia tão bem, teria uma solução
para o problema? De qualquer maneira, aqui está uma lição muito
prática. Aprenda a contar a Ele qualquer necessidade, mesmo que a
necessidade pareça ser terrena demais.
33.
A Cura de um Oficial de um Rei: Jo 4.46-54.
Ao
apresentar o cenário do acontecimento que será descrito, o autor
faz menção do primeiro milagre que Jesus realizou em Caná da
Galiléia, onde da água fizera vinho (46). Isto parece ser um
convite para comparar os dois milagres, e eles realmente têm
semelhanças intrigantes. Ali (2.1-11), o relato está centrado na
água que se torna vinho; aqui (49) o quase morto volta à vida. Ali
é a fé da mãe de Jesus que consegue o milagre; aqui, é a fé do
oficial. Os dois acontecimentos passam da tristeza para a alegria, e
se tornam a razão para que os outros creiam — ali, os discípulos
(2.11), aqui o oficial e toda a sua casa (53). E havia ali um oficial
do rei, cujo filho estava enfermo em Cafarnaum (46). Segundo Arndte
Gingrich, a palavra traduzida como oficial poderia se referir a “um
parente da família real (de Herodes)”, mas provavelmente se refere
a “um oficial real”
As
narrativas dos milagres de Jesus em Jerusalém (2.23) tinham
evidentemente chegado antes dele à Galiléia, e o primeiro milagre
em Caná sem dúvida fora o assunto de muitas conversas em Cafarnaum,
que ficava a somente 24 quilômetros. Assim, este oficial, ouvindo...
que Jesus vinha da Judéia para a Galiléia, foi ter com ele e
rogou-lhe que descesse e curasse o seu filho, porque já estava à
morte (47). A palavra traduzida como foi significa literalmente “ele
se foi”, indicando que o pai deixou o filho, doente como estava,
para ir fazer o seu pedido a Jesus. O verbo rogou está no imperfeito
no texto grego, indicando um pedido repetido e continuado.
A
resposta de Jesus, embora aparentemente uma recusa, na realidade era
um teste para a fé do oficial. Se não virdes sinais e milagres,
não crereis (48). Esta é uma questão inquisitiva. Os sinais e
milagres são o motivo ou o resultado da fé? Este acontecimento
espetacular, o milagre, é a experiência estática de uma coisa a
ser buscada por sim esma? E o produto de uma fé dinâmica e
devidamente embasada, ou é a porta aberta para ela? Ou seja, a fé
nele e na sua Palavra? Em João, a palavra milagres aparece somente
aqui. As duas palavras, sinais e milagres, combinadas “assinalam os
dois principais aspectos do milagre: o aspecto espiritual, pois
sugerem alguma verdade mais profunda do que aquela que o olho vê,
para o qual eles são, de alguma maneira, símbolos e garantias; e o
aspecto externo, pois a sua estranheza arrebata a atenção”.
O
apelo renovado do oficial baseou-se na questão da vida e da morte.
Ele não estava preparado para entrar em uma discussão teológica
quando a sua necessidade imediata parecia tão grande. Senhor,
desce, antes que meu filho morra (49). A resposta de Jesus foi um
teste ainda maior à fé do homem. Vai, o teu filho vive (50).
O oficial viera buscar Jesus (47,49); agora tudo o que ele obtinha
era a promessa de vida para o seu filho. Ele poderia crer, não tendo
visto? (cf. 20.29). E possível confiar na Palavra de Deus sem
hesitação? Este homem fez isso! E o homem creu na palavra que Jesus
lhe disse e foi-se (50). A sua fé sem hesitação é enfatizada pelo
tempo do verbo ser, foi-se, que poderia ser traduzido literalmente
como “ele tomou o seu caminho”.
Os
versículos 51-53 são uma espécie de epílogo para
certificar o que já havia sido
realizado.
O relato dos servos para o oficial: O teu filho vive (51)
aparece nos melhores manuscritos como um discurso indireto —
literalmente “que o seu filho estava vivo”. O que Jesus
havia prometido se cumprira com exatidão! Assim como o teste para a
fé do oficial foi feito uma segunda vez, assim também a
certificação foi assegurada, sem quaisquer dúvidas. A pergunta do
pai sobre a hora em que o filho se achara melhor (52) revela o fato
de que era aquela hora a mesma em que Jesus lhe disse: O teu filho
vive (53). O que tinha sido a crença na promessa específica de
Jesus (50) agora adquire um aspecto mais profundo e amplo da fé
pessoal. E creu ele, e toda a sua casa (53).
Jesus
fez este segundo milagre [sinal] quando ia da Judéia para a Galiléia
(54). A observação da série de sinais em Caná da Galiléia serve
para marcar as visitas de Jesus ali, que estão relacionadas e
intercaladas com viagens a Jerusalém (cf. 2.11,13; 4.3).
Em
4.46-54, encontramos:
1.
O nosso Senhor lamentando uma fé inadequada (46-48);
2.
O nosso Senhor testando, e consequentemente fortalecendo, uma fé
crescente (49-50);
3.
Cristo ausente recompensando uma fé que fora testada (51-53).
(Alexander Maclaren)
34.
A Cura de um Paralítico em Betesda: Jo 5.1-5.
O
cenário do episódio está descrito nos seguintes aspectos: lugar,
época, nome, pessoas e tradição. O lugar é Jerusalém, em um
tanque próximo à Porta das Ovelhas (“Portão”, em algumas
versões, no v. 2). A época é uma festa entre os judeus (1). Estes
dois fatos fornecem um cenário de simbolismo que está de acordo com
outros cenários de milagres de Jesus (cf. 2.6,13; 3.5; 4.13-14; 6.4;
9.7). O nome do lugar aparece nos textos com grafias variadas, e com
consequentes significados diferentes. Algumas das grafias são:
Betesda, “casa de misericórdia”; Betezata (em algumas versões),
“casa da oliveira”, confirmada por bons manuscritos e aceita de
maneira geral; e Betsaida, “casa da pesca”, um nome aparentemente
inadequado para um lugar em Jerusalém. O tanque é descri to tendo
cinco alpendres onde jazia grande multidão de enfermos: cegos, coxos
e paralíticos (2-3).
Os
melhores manuscritos não incluem a última parte do versículo 3, e
nenhuma parte do versículo 4; por isso, essas partes não são
encontradas em algumas traduções modernas. A maioria dos estudiosos
concorda que elas possam representar uma adição posterior,
provavelmente de acordo com a tradição judaica. Alguns copistas
acrescentaram estas explicações para deixar claro o motivo por que
os doentes ali estavam, e para explicar o significado do versículo
7. Toda a cena — o tanque, a multidão de enfermos — é de
miséria, desapontamento e fracasso.
E
estava ali um homem que, havia trinta e oito anos, se
achava enfermo (5). A maneira de apresentar o personagem central
no episódio é característica de João (cf. 3.1; 4.7).
Adicionalmente, este homem é apresentado como um representante de
todos os homens. Um homem, sem nome, certamente, mas ainda assim
descrevendo algo sobre todos os homens — a total incapacidade de
ajudar a si mesmo. Assim, este relato se toma a “evidência C”
daquilo que Jesus conhece sobre os homens (cf. 2.25, Nicodemos; 4.7,
a mulher samaritana). O homem é descrito como alguém que havia
trinta e oito anos se achava enfermo. A menção a este período foi
interpretada por alguns como uma referência ao período do castigo
dos israelitas no deserto (Dt 2.14). Porém é mais provável que
tenha sido adicionado “simplesmente para assinalar a longa
permanência da doença” (cf. 9.1) [44].
Jesus,
vendo este deitado e sabendo que estava neste estado havia muito
tempo, disse-lhe: Queres ficar são? (6) A compaixão de Jesus e
o seu conhecimento das necessidades mais profundas do homem (cf.
5.14) uniram-se para produzir esta pergunta. A primeira vista, isto
parece um pouco tolo. Claro que o homem queria ficar bem, caso
contrário não estaria no tanque, uma fonte de cura. Mas Jesus sabia
que as pessoas acabavam se acostumando a uma vida de desgraça e
infelicidade, perdendo a vontade de responder a uma adequada fonte de
ajuda. Assim, esta era sem dúvida uma boa pergunta!
O
enfermo respondeu-lhe: Senhor, não tenho homem algum que, quando a
água é agitada, me coloque no tanque; mas, enquanto eu vou, desce
outro antes de mim (7). Que situação! Ele não tinha amigos —
não tenho homem. Ele estava enfermo, incapaz de ajudar a si mesmo,
embora lutasse — enquanto eu vou. Não é que ele tivesse perdido a
vontade; ele ainda não tinha chegado à fonte correta, ou melhor, a
fonte correta de ajuda ainda não tinha chegado até ele. Aqui está
retratada, na imagem do tanque, a inadequação da lei (judaísmo)
para satisfazer as verdadeiras necessidades do homem. As lutas mais
intensas do homem não podem salvá-lo da paralisia do pecado.
Jesus
disse-lhe: Levanta-te, toma tua cama e anda (8). Toma a tua cama
significa “apanhe a sua esteira” (Berk). Três imperativos em
sequência! E cada um deles é uma ordem absurda para um paralítico.
E fácil imaginar como o enfermo deve ter se sentido. Durante 38
anos, como vítima desta doença, ele só tinha sido capaz de
mover-se com grande dificuldade. E agora deve levantar-se, apanhar a
sua cama e andar. Impossível? Sim, era impossível a partir de um
ponto de vista puramente humano. Mas para Jesus este homem era o
objeto da sua compaixão, e a sua ordem significa que o Senhor lhe
concedia a capacitação. Lutando pela libertação, o homem viu um
brilho de esperança e acreditou em Jesus e na sua Palavra.
Logo,
aquele homem ficou são, e tomou a sua cama, e partiu (9). A cura
foi imediata e completa, como indica o tempo aoristo do verbo
(ficou). A resposta obediente do homem à ordem de Jesus foi a
oportunidade para a sua cura. Tudo o que Jesus pediu, o homem
obedientemente realizou: Levanta-te, ele se levantou (por
implicação); toma tua cama (aoristo), ele tomou a sua cama
(aoristo); anda (presente); ele partiu (imperfeito, melhor traduzido
como “estava andando”). O uso do aoristo indica que a vida
antiga, que o tinha afligido durante 38 anos, já não tinha mais
nenhum domínio sobre ele (cf. Rm 6.14). O caminhar, retratado pelo
imperativo presente (8) e pelo imperfeito do indicativo (9) seria a
nova maneira de uma vida contínua e habitual.
E
aquele dia era sábado (9). Esta observação é importante,
porque assinala o começo de uma controvérsia longa, firme e cada
vez mais aguda sobre o relacionamento de Jesus com a lei e com os
judeus (cf. 5.16; 7.23; 8.5; 9.14). Então, os judeus disseram àquele
que tinha sido curado: E sábado, não te é lícito levar a cama
(10). A cama (esteira) era um tipo de esteira leve e flexível usada
pelas pessoas pobres. Podia ser enrolada e facilmente carregada, mas
mesmo assim não deveria ser carregada em um sábado (cf. Ne 13.19;
Jr 17.21). De acordo com o Mishnah, trinta e nove tipos de trabalho
eram proibidos no sábado.
A
tendência humana de atribuir a culpa a outra pessoa se reflete na
resposta do homem aos judeus: Aquele que me curou, ele próprio
disse: Toma a tua cama e anda (11). Mas mesmo que o homem curado
tivesse a tendência de transferir a culpa por uma transgressão à
lei do sábado, ele também deu um testemunho claro sobre o que sabia
— ele fora curado.
A
experiência do homem com Jesus foi inequívoca — Ele me curou.
Os judeus continuaram com a sua inquisição. Quem é o homem que te
disse: Toma a tua cama e anda? (12) Eles não podiam ter certeza de
que este responsável pelo desrespeito ao sábado podia ser o Senhor
do sábado; assim, perguntaram, Quem é o homem? (cf. 9.11,24)
Aqui
o autor acrescenta uma observação explanatória. E o que fora
curado não sabia quem era, porque Jesus se havia retirado
(literalmente “mover a cabeça para o lado, para evitar um
golpe”)46em razão de naquele lugar haver grande multidão (13).
Jesus simplesmente misturou-se com a multidão e se retirou. Ainda
não era chegada a sua hora, quando Ele traria às últimas
consequências o conflito entre o velho e o novo.
35.
A Cura de um Cego de Nascença: Jo 5.1-7.
E,
passando Jesus, viu um homem cego de nascença (1). Alguns
assumem que este fato ocorreu imediatamente após a Festa dos
Tabernáculos e os acontecimentos registrados no capítulo 8,120 ao
passo que outros pensam que é mais provável que ele esteja
relacionado com a festa da Dedicação (10.22), que ocorreu algumas
semanas mais tarde, no inverno.
Quando
se considera o relacionamento íntimo dos capítulo 9 e 10, a última
opinião parece ser a mais plausível. De qualquer maneira, este
versículo introdutório define o cenário para o que vai acontecer.
Os dois personagens principais atraem toda a atenção — um
mendigo, cego de nascença, e Jesus, que passava pela estrada.
E
os seus discípulos lhe perguntaram, dizendo: Rabi, quem pecou, este
ou seus pais, para que nascesse cego? (2) Isto nos diz que os
discípulos estavam presentes, embora a pergunta que fizeram seja a
sua única participação nos eventos, além de serem expectadores. A
pergunta reflete a crença dos judeus da época de que os pecados dos
pais são castigados nos filhos (cf. Êx 20.5; 34.7; Nm 14.18; Dt
5.9). Ela também sugere o ponto de vista mantido por alguns de que
era possível que o homem tivesse pecado “ainda no útero da sua
mãe, ou em alguma existência anterior... As duas especulações são
encontradas na literatura judaica”
Jesus
respondeu: Nem ele pecou, nem seus pais (3). Aqui o caso é diferente
daquele do homem enfermo, cuja enfermidade estava evidentemente
relacionada com o seu próprio pecado (5.14).
Este
homem e os seus pais eram todos vítimas de uma sociedade pecadora em
que o inocente frequentemente sofre com a culpa. Nesses casos, não
existe necessariamente uma conexão entre as enfermidades e as
desgraças com o indivíduo e o seu pecado pessoal. Os homens de
elevada moral são frequentemente as vítimas de uma sociedade
imoral.
A
frase: Mas foi assim para que se manifestem nele as obras de Deus
(3) poderia ser traduzida do seguinte modo: “Mas isto veio a
acontecer para que as obras de Deus possam se manifestar nele”.
Deus não deve ser considerado culpado de causar as desgraças, os
pecados e os sofrimentos do homem. Antes, o homem pecador, orgulhoso,
em terríveis dificuldades, só pode ser resgatado por Deus, e isto
glorifica a Deus.
Convém
que eu faça as obras daquele que me enviou, enquanto é dia; a noite
vem, quando ninguém pode trabalhar. Enquanto estou no mundo, sou a
luz do mundo (4-5). Em alguns textos, a primeira frase é: “Nós
devemos trabalhar” (NASB), o que indica que Jesus incluía os
discípulos e talvez até o homem cego (7) no imperativo divino de
fazer as obras de Deus. A frase aquele que me enviou, referindo-se a
Deus, que frequentemente aparece neste Evangelho, é de particular
importância aqui, tendo em vista o significado de Siloé (“enviado”,
ver o comentário sobre o v. 7).
Existem,
aqui, contrastes que representam de forma ilustrativa a luta cósmica
em tre o bem e o mal — trabalhar, não trabalhar; dia, noite;
trevas, luz; cegueira, visão; cegueira espiritual, visão espiritual
(9.39-41). A obra de Deus e a obra do homem são para a luz e todos
os seus corolários. Os apóstolos “... pelo poder do Espírito e
como testemunhas do que eles tinham visto, se tornaram filhos da luz
pela iluminação do mundo”. Era o hábito de Phineas Bresee,
independentemente da hora do dia, usar a saudação “Bom dia”.
Também é bom recordar que “para o crente sempre é dia”
A
expressão Enquanto estou no mundo (5) pode ser traduzida como “Em
qualquer momento em que Eu estiver no mundo”. Esta é a ideia da
universalidade da missão de Jesus, e é remanescente da afirmação
do prólogo, a respeito da Luz (1.5,7-9). Tendo dito isso, cuspiu na
terra, e, com a saliva, fez lodo, e untou com o lodo os olhos do cego
(6). Durante todo este primeiro episódio, o homem cego não disse
absolutamente nada. Jesus, a Luz, está comandando tudo! (cf. Ap
1.13-18). “Aluz só pode brilhar”.
Foram
dadas várias sugestões sobre a razão para o uso da argila e da
saliva. Uma delas é que se supunha que o cuspe tivesse poder de
cura; assim Jesus usou o meio de que dispunha. Irineu sugere que o
primeiro homem foi feito de argila; assim, “aquilo que o Criador —
a Palavra — tinha deixado de formar no útero (i.e., os olhos do
homem), Ele então forneceu em público”. Outra explicação é que
a argila e o cuspe na verdade foram usados para selar os olhos do
homem, fornecendo assim a oportunidade para que o homem fosse mandado
ao tanque de Siloé. Isto foi feito, em primeiro lugar, para testar a
fé e a obediência do homem; em segundo lugar, para dizer a todos
que “o verdadeiro Enviado” cumpriu tudo o que fora representado
por Siloé. Assim, Jesus lhe disse: Vai, lava-te no tanque de Siloé
(que significa “o Enviado”) (7).
O
tanque ficava situado a sudeste de Jerusalém (fora do muro atual;
ver o mapa 2) e era alimentado por uma fonte. Um túnel de cerca de
500 m de comprimento os unia.
O
uso do símbolo da água ocorreu regularmente no Evangelho, sempre
representando a imperfeição e a inadequação do judaísmo, e
encontrando a completa perfeição na pessoa de Cristo (cf. 1.33;
2.6-7; 3.5; 4.13; 5.3-4,7; 7.38-39). “A corrente que saía do
coração da rocha era uma imagem de Cristo... portanto, aqui Cristo
trabalha através ‘do tanque’, o ‘Enviado’, aquele que foi
diretamente enviado por Deus, para poder liderar os discípulos e uma
vez mais ligar tanto Ele quanto a sua obra às pro messas dos
profetas”
Foi,
pois, e lavou-se, e voltou vendo (7). Assim como Naamã foi lavar-se
sob a ordem de Eliseu, este homem também obedeceu e recebeu a visão.
Não foi um caso de recuperar alguma coisa que havia sido perdida,
porque ele tinha nascido cego. “Tornar-se um cristão não é
recuperar... mas sim receber uma iluminação nova e completa”. E
disse-lhe: Vai, lava-te no tanque de Siloé.... Foi, pois, e
lavou-se, e voltou vendo (7).
Neste
texto, Norman R. Oke encontra o tema: “A desgraça pode se
transformar em graça”.
1.
O homem que nasceu cego enfrentava problemas que foram herdados
(9.1);
2.
O homem também passava por circunstâncias difíceis (8.59; 9.2);
3.
Ele descobriu que olhos abertos levam a um coração aberto
(9.34-38).
Conclusão:
Deus
seja louvado, pois assim Ele quis que seu Filho amado, entrasse na
história da humanidade como o Sol da justiça, o remédio para as
nações, a esperança para aqueles sem luz. Louvado seja Deus.
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