Introdução a 1 Pedro




Introdução a 1 Pedro


Autor, Lugar e Data da Redação

A autoria de 1 e 2Pedro é discutida hoje, e muitos negam que Pedro tenha escrito alguma das duas epístolas. Entretanto, evidência substancial interna fornecida pela da igreja primitiva favorece a autoria petrina de ambas as cartas (ver “A autoria das epístolas de Pedro”, em 1 Pe 1).

Sem dúvida, uma forte tradição afirma que Pedro foi martirizado durante o governo de Nero por volta de 66 d.C. — depois do grande incêndio em Roma (64 d.C.), porém antes da morte de Nero (68 d.C.). Além do mais, Pedro demonstrou familiaridade com os colossenses e os efésios (ver 2Pe 3.15; cp. 1 Pe 1.1 -3 com Ef 1.1 -3; 1 Pe 2.18 com Cl 3.22). Essas cartas de Paulo são de data posterior a 60 d.C., por isso 1 Pedro deve ser datada entre 60 e 64, antes do início das perseguições de Nero.

Em 1 Pedro 5.13, o autor afirma que escreveu da “Babilônia”. Apesar de vários lugares terem sido sugeridos como a “Babilônia” de Pedro, apenas dois parecem razoáveis: a verdadeira Babilônia, na Mesopotâmia (centro importante da cultura judaica), ou uma Babilônia metafórica (Roma), embora o contexto de 5.13 não pareça figurativo ou secreto.

Destinatário

A carta é endereçada aos cristãos “no Ponto, na Galácia, na Capadócia, na província da Ásia e na Bitínia” (1.1). Isso parece incluir a maior parte da Ásia Menor (a moderna Turquia), mas Pedro pode ter usado os termos num sentido mais restrito. Os cristãos dessas regiões estavam sofrendo perseguição por causa de sua fé (1.6; 4.12-19; 5.9,10), e Pedro descreve seus destinatários como “eleitos de Deus” na Diáspora (1.1), termos relacionados aos judeus.

No entanto, ele afirma que seus destinatários antes seguiam a maneira vazia de viver herdada de seus antepassados (1.18; cf. 4.3-5). Diante disso, parece que os leitores originais de Pedro eram gentios que se tornaram cristãos e, portanto, eram como estrangeiros e peregrinos (2.11) neste mundo.

Fatos Culturais e Destaques.

Pedro não trata de nenhuma questão ou crise específica, mas aconselha seus leitores a respeito do que é fundamental na vida cristã. A carta é, na verdade, um panfleto sobre a vida cristã, escrito para benefício dos crentes em lugares e circunstâncias diferentes.

Atente para os princípios gerais a respeito de assuntos problemáticos como a dor, o sofrimento e a perseguição, e descubra o motivo de Pedro para se ter esperança. Observe o estilo de Pedro e sua harmonização de diretrizes doutrinárias e práticas para a vida cristã. Estude sua doutrina sobre a submissão às autoridades e suas ramificações.

Você sabia?

Na linguagem do século I, “preparar para agir” literalmente sugere que os leitores arregacem as vestes longas e flutuantes e se preparem para alguma atividade física (1.13).

No mundo grego, o escravo podia ser resgatado por meio de um pagamento em dinheiro, feito por um terceiro ou pelo próprio escravo (1.18).

Os “escravos” são servos domésticos, sem importar qual seja seu treinamento ou função (2.18).

Temas

A primeira carta de Pedro contém os seguintes temas:

1. A nova identidade dos crentes. 0 objetivo de Pedro é encorajar os cristãos diante da perseguição. Por causa da grande misericórdia de Deus, foi dada nova vida aos crentes, uma “esperança viva” (1.3; ver também 1.13,21; 3.15) e uma herança eterna (1.4). Eles são agora “o povo de Deus" (2.10). Como tal, devem se alegrar (1.6,8; 4.13) e ser corajosos em meio ao sofrimento.

2. Sofrer p or fazer o bem. Embora os crentes possam experimentar “todo tipo de provação ” (1.6), eles deve permanecer firmes na fé (5.9). O sofrimento age como fogo purificador para provar a genuinidade da fé (1.7) e dá aos cristãos a oportunidade de testemunhar acerca de sua esperança (3.15). Quando o crente sofre injustamente, está seguindo o exemplo de Cristo (2.21).

3. Vida cristã. Os cristãos devem viver uma vida compatível com sua conversão. Pedro descreve a salvação como um processo (1.9; 2.2), no qual o crente se desenvolve a partir de sua fidelidade pressionada no dia a dia. Eles devem se esforçar em busca de santidade pessoal (1.13-21) por meio do temor reverente a Deus (1.17-21) e demonstrar sua fé amando os outros (1.22).

SUMÁRIO

I. Saudação (1.1-12)
II. Exortações à vida santa (1.13— 5.11)
A. Domínio próprio e santidade (1.13— 2.3)
B. A conduta do povo de Deus (2.4-12)
C. Submissão à autoridade (2.13— 3.7)
D. Sofrer por fazer o bem (3.8-17)
E. Armados com a atitude de Cristo (3.18— 4.6)
F. Conduta na iminência do fim de todas as coisas (4.7-11)
G. Sofrer por ser cristão (4.12-19)
H. Exortações aos anciãos (5.1 -4)
I. Exortações aos jovens (5.5-11)
III. A proposta da carta (5.12)
IV. Saudação final (5.13,14)

A AUTORIA DAS EPÍSTOLAS DE PEDRO

1P E D R 01 Em 1 e 2Pedro, é invocada a autoria de Pedro, apóstolo de Jesus Cristo (1Pe 1.1; 2Pe 1.1,17,18) e "presbítero como eles e testemunha dos sofrimentos de Cristo, como alguém que participará da glória a ser revelada" (1 Pe 5.1). A igreja primitiva não hesitou em receber 1Pedro como autêntica. Alguns exemplos:

Papias (60-135 d.C.) observa que "Marcos á mencionado por Pedro em sua primeira epístola" (Eusébio, História eclesiástica, 2.15).

Clemente de Roma (30-101 d.C.); A Didaquê (obra anônima do início do séc. II d.C., que contempla uma variedade de assuntos doutrinários e práticos de importância para a igreja primitiva); Policarpo (69-156 d.C.)— todos fizeram citações de 1Pedro.

Ireneu (130-200 d.C.) cita 1 Pedro, usando o nome do apóstolo (Contra heresias, 4.9.2; 4.16.5).

Eusébio resume a discussão canônica 1 classificando as cartas em quatro categorias (História eclesiástica, 3.25):

a) as reconhecidas como autênticas por todos os cristãos (e.g.,1Pe);

b) as que, apesar de contestadas, foram ainda assim reconhecidas como autênticas pela Igreja e eram conhecidas pela maioria dos cristãos (e.g., 2Pe); c) obras espúrias, não canônicas que, apesar disso, eram conhecidas;

d) as que eram, de modo geral, reconhecidas como heréticas. Apesar da forte evidência histórica de que Pedro é o autor das duas cartas que levam seu nome, alguns comentaristas hesitam em aceitar a autoria petrina por várias razões:

A perseguição aos cristãos promovida por Nero, em Roma (Tácito, Anais, 15.44), estabeleceu um precedente para que os oficiais romanos de todas as províncias considerassem criminosos todos os cristãos.

Há em 1Pedro várias referências à perseguição aos cristãos fora de Roma (1.6; 2.15; 3.15,16; 4.12,13; 5.8,9). Uma vez que todos os especialistas concordam em que Pedro morreu durante o reinado de Nero (64-68 d.C.; cf. Eusébio, História eclesiástica, 2.25) e que a perseguição fora de Roma teve início após a morte desse imperador, muitos comentaristas do NT sustentam que 1 e 2Pedro são obras pseudônimas (falsamente atribuídas a Pedro). 

O texto, entretanto, não faz referência a nenhuma perseguição oficial em larga escala, assim não exige uma datação subsequente ao reinado de Nero. O sofrimento a que Pedro se refere era local e esporádico, não universal decretado pelo império. De feto, Pedro ressalta mais os abusos verbais e o ostracismo social experimentados pelos cristãos que o martírio.

A enorme região geográfica representada pelos destinatários identificados em 1 Pe 1.1 (i.e., os cristãos do Ponto, da Galácia, da Capadócia, da Ásia e da Bitínia) sugere a muitos estudiosos que as duas cartas foram escritas bem depois do ano 60. 

Eles argumentam que muito tempo deve ter passado desde as viagens missionárias de Paulo para tal crescimento do cristianismo nessas áreas, especialmente por não termos relatos de que o apóstolo visitou o Ponto, a Capadócia ou a Bitínia). 

Entretanto, como registram o livro de Atos e as cartas de Paulo, as igrejas cristãs eram muitas vezes fundadas num curto período de tempo, e Pedro deve ter se encontrado pela primeira vez com alguns de seus leitores em Jerusalém, no Pentecoste (At 2.9,10).

Percebe-se em 1 e 2Pedro um vocabulário refinado e um estilo literário rico. Uma vez que Pedro e João são chamados "homens comuns e sem instrução" (At 4.13), muitos acham improvável que Pedro tenha sido capaz de escrever essas epístolas. Entretanto, a palavra grega usada em Atos 4.13 (agrammatos) significa mais propriamente algo como "sem uma educação avançada", não "iletrado". Os judeus orgulhavam-se da educação dos filhos (cf. Josefo, Contra Ápion, 1.12; 2.26).

Pedro, evidentemente, não tinha familiaridade com o Talmude nem chegara à "faculdade". Entretanto, como negociante da indústria pesqueira, teria de ser alfabetizado e provavelmente era fluente no grego, a língua comum na época. 

A imagem de Pedro apresentada nas exposições populares das Escrituras— a ideia de que ele tinha algo de grosseiro — é sem dúvida equivocada. Além do mais, 1 Pedro 5.12 relata que Silas ajudou a escrever a carta, indicação de que Pedro se importava em garantir que sua carta fosse interpreta da corretamente.

O peso das evidências, portanto, é favorável à autenticidade de ambas as cartas. Além do mais, a igreja primitiva não aprovava, em princípio, livros escritos sob nomes falsos. 

Por exemplo, o pai da igreja, Tertuliano (Sobre o batismo, 17), informa que o ancião que escreveu a obra pseudônima Atos de Paulo a fim de aumentar "a fama de Paulo" foi exonerado, e o chamado Evangelho de Pedro foi criticado por ser falso (Eusébio, História eclesiástica, 6.12). Além disso, os materiais pseudônimos tendem a ser drasticamente diferentes de 1 e 2 Pedro.

A Conduto das Esposas

1 PEDRO 3 Em 1Pedro 3.1-7, os cristãos são instruídos sobre como se portar de modo honroso entre os gentios. É recomendada a submissão às instituições humanas, para que os gentios possam observar o comportamento cristão, converter-se e glorificar a Deus. A mulher casada com um homem não crente deveria usar sua conduta cristã para conduzir o marido à fé em Cristo.

Pedro exorta as mulheres a cultivar a beleza que brota do coração, não aquela baseada na aparência externa. A expressão do versículo pode ser traduzida simplesmente por "cabelo trançado de ouro", em vez de "cabelo trançado e uso de joias de ouro". 

As mulheres no tempo de Pedro costumavam fazer tranças no cabelo, misturando nelas lentejou-las douradas e fios que cintilavam e tilintavam a cada movimento da cabeça. O escritor Xeno-fonte de Éfeso descreve as mulheres de cabelo trançado numa procissão à deusa Ártemis como eroticamente atraentes. As mulheres cristãs não deviam se comportar assim.

O tema da conduta cristã continua quando as discussões se voltam para Sara, "que obedecia a Abraão e o chamava senhor" (v. 6). A palavra traduzida aqui por "senhor" (ver Jo 12.21) era um modo comum e diferencia do de se dirigir a alguém. Esperava-se dos maridos, de igual modo, que demonstrassem respeito pelas esposas (1 Pe 3.7).

Vinho e Bebida Alcoólica no Mundo Antigo

1 PEDRO 4 0 vinho, a bebida fermentada mais consumida no mundo antigo, estava presente nos rituais religiosos, nas celebrações festivas e no dia a dia da cultura mediterrânea. Era celebrado na cultura pagã, e as libações de vinho eram vertidas aos deuses — divindades como Dionísio (o deus do vinho) tinham muitos devotos.

Até mesmo em Israel o vinho era usado nos rituais religiosos (Nm 15.7), e a vinicultura (cultivo de uvas para a elaboração do vinho) continua a ser significativa na moderna nação de Israel.

Naquele tempo, como agora, havia muitas variedades de vinho, como o tinto, o
branco e vinhos combinados. O AT emprega várias palavras para os diferentes tipos de vinho.

Traduções precisas para as palavras hebraicas são ilusórias, uma vez que não conhecemos exatamente como eles diferenciavam um do outro, mas os tradutores, regularmente, usam termos como "vinho", "vinho novo", "vinho temperado" e "vinho doce".

Passagens como Oseias 4.11 deixam claro que esses vinhos eram alcoólicos e inebriantes. Não há fundamento para sugerir que os termos gregos ou hebraicos para o vinho se refiram a um suco de uva não fermentado.

A produção de vinho, é claro, exigia a plantação de vinhas. Torres de vigia eram construídas para protegê-las (Is 5.1,2; Mc 12.1), e a principal preocupação era com as raposas, que vinham comer as uvas (Ct 2.15). No mundo grego, os meninos caçavam raposas para mantê-las longe das vinhas.

Depois que as uvas eram colhidas, produzia-se o mosto (suco de uva pronto para a fermentação) no lagar pelo método de pisotear as uvas. O mosto era filtrado, e o processo de fermentação iniciava. Os vinhos combinados eram criados pela mistura do suco de uva fermentado com outros elementos, até mesmo outros vinhos, temperos, mel ou bebida forte originada de outros frutos ou Mosaico de Pafos. 

O vinho diluído em água era tido como de qualidade inferior (Is 1.22). No entanto, os gregos, que consideravam o consumo de vinho puro um excesso, tinham o hábito de diluir a bebida. Os vinhos combinados tinham usos diversos: vinho misturado com cevada dava um bom vinagre; combinado com mirra, produzia um anestésico, como o que foi oferecido a Jesus na cruz (Mc 15.23).

Os sacerdotes não podiam beber vinho enquanto ministrassem no santuário (Lv 10.9), e as pessoas comuns deviam evitar o consumo de vinho e de qualquer produto da videira quando estivessem sob as restrições do voto nazireu (Nm 6.4).

Além dessas poucas exceções, entretanto, as referências bíblicas deixam claro que o vinho era parte comum da dieta regular do povo (Gn 14.18; 1Sm 16.20). As Escrituras, no entanto, repetidamente aconselham a moderação e os perigos dos excessos (Pv 20.1; 23.20; Is 5.11; ver "Comida e agricultura", em Rt 2.

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