INTRODUÇÃO A 1 JOÃO







Introdução a 1 João.


Destinatário: Aparentemente, 1 João pretendia ser uma carta circular, porque não especifica um destinatário nem faz referência a algum ponto geográfico. 0 mais antigo e confirmado uso de 1 João foi na província romana da Ásia (hoje Turquia), onde Éfeso estava situada.

Fatos Culturais e Destaques:

Temos em 1 João 4.2 a indicação mais clara de que uma espécie de ensino proto-gnóstico seja a heresia que João está combatendo.

Os gnósticos consideravam a matéria física de natureza maligna, por isso não entendiam a encarnação. Para eles, o Logos divino (o Verbo) não poderia ter se tomado carne. O gnosticismo nega a necessidade da encarnação e da expiação. A afirmação implícita de que Jesus tinha corpo físico, em 1 João 1.1, pode fazer parte da refutação ao ensino gnóstico (ver “Os gnósticos e seus escritos sagrados”, 1Jo 4).

Entretanto, se João está confrontando o gnosticismo, os leitores deveriam esperar uma refutação mais completa de suas doutrinas, e 1 João não tem o mesmo teor dos textos antignósticos do século II (e.g., Contra heresias, de Ireneu). Talvez seja melhor entender que João está ciente da tendência que começa a se formar em torno do pensamento contrário à encarnação entre alguns que se denominavam "cristãos”, mas que sua carta é uma exortação geral a respeito da bondade.

Gnosticismo na Primeira carta de João.

Gnósticos? Movimento religioso, de caráter sincrético e esotérico, desenvolvido nos primeiros séculos de nossa era à margem do cristianismo institucionalizado, combinando misticismo e especulação filosófica.

Os gnósticos negavam que suas ações imorais fossem pecaminosas. 1 Jo 1.10. Se afirmarmos que não temos cometido pecado, fazemos de Deus um mentiroso, e a sua palavra não está em nós.

Os gnósticos insistiam que o ensino apostólico deveria ser complementado com o “conhecimento superior” que eles alegavam possuir. 1 Jo 2.27. Quanto a vocês, a unção que receberam dele permanece em vocês, e não precisam que alguém os ensine; mas, como a unção dele recebida, que é verdadeira e não falsa, os ensina acerca de todas as coisas, permaneçam nele como ele os ensinou.

Os gnósticos ensinavam que o Cristo divino veio sobre o Jesus humano no batismo e depois saiu dele na cruz, para que somente o homem Jesus morresse. 1 Jo 4.2. Vocês podem reconhecer o Espírito de Deus deste modo: todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne procede de Deus;

A primeira carta de João contém os seguintes temas:

1. A encarnação. João adverte os cristãos dos falsos mestres — “anticristos” (2.18) — infiltrados na igreja, que negavam que Jesus viera em carne (2.22; 4.2,3). João insiste que o Cristo não é uma aparição sobrenatural camuflada, mas uma pessoa histórica, Jesus de Nazaré. O teste do cristianismo bíblico é crer na humanidade total e na divindade total de Jesus Cristo.

2. Amor. A ordenança central desta breve carta é 0 chamado ao amor (3.11,23; 4.11,21). Os cristãos devem seguir o exemplo de Cristo: amar uns aos outros (3.10,11) e cuidar dos necessitados (3.17) a ponto de renunciar à própria vida, se necessário (3.16). Uma vez que “o amor procede de Deus” (4.7), o amor genuíno só pode ser expresso quando Deus vive em nós (4.12), e nós, nele (4.16).

3. Convicções dos cristãos. João assegura que os cristãos podem ter certeza de que 1) Jesus é O Filho de Deus (5.5); 2) os cristãos obtêm a vida eterna por meio dele (5.11); 3) Deus ouve e responde às orações (5.14); 4) eles não são mais escravos do pecado, e Deus os mantém protegidos do Maligno (5.18); 5) eles são filhos de Deus (5.19); 6) eles podem conhecer a Deus por meio de seu Filho, Jesus Cristo (5.20); 7) Jesus é “o verdadeiro Deus” (5.20).

SUMÁRIO

I. A realidade da encarnação (1.1 -4)
II. Comunhão com 0 Pai e com 0 Filho (1,5— 2.28)
A. Caminhar na luz como base da comunhão (1.5— 2.11)
B. Uma digressão (2.12-14)
C. 0 amor ao mundo como obstáculo à comunhão (2.15-17)
D. A negação a Cristo como obstáculo à comunhão (2.18-28)
III. Filhos de Deus (2.29— 4.6)
A. Como um filho de Deus se parece (2.29— 3.24)
B. 0 que um filho de Deus conhece (4.1-6)
IV. Deus é amor (4.7— 5.12)
V. Grandes certezas dos cristãos (5.13-21)

Os Gnósticos e seus Escritos:

1 JOÃO 4 0 gnosticismo foi uma das heresias cristãs primitivas Os escritos gnósticos são muitos e variados, e exploram conceitos platônicos, imagens do NT e mitos pagãos. Muitos textos gnósticos foram descobertos em Nag Hammadi, no Egito, em 1945. Muitos eram pseudoapostólicos, ou seja, falsamente atribuídos aos apóstolos. O Evangelho de Towé, o Apócrifo de Tiago e a Carta de Pedro a Filipe são exemplos disso. Certas observações gerais podem ser feitas à literatura gnóstica:

Derivado da palavra grega gnosis, que significa "conhecimento", o gnosticismo foi um movimento que se proclamava detentor de um conhecimento secreto acerca de Deus. Seus seguidores consideravam o Deus da Bíblia, o Criador do mundo, um deus inferior. Na doutrina gnóstica, o mundo material era de natureza maligna, por isso seu criador tinha de ser uma divindade inferior.

0 Salvador, para o gnosticismo, mais que fazer expiação do pecado, trouxe o conhecimento das "verdadeiras" origens divinas da humanidade, libertando assim os seres humanos de sua ignorância e da escravidão ao mundo material.

Alguns gnósticos acreditavam que "o Cristo" (espécie de unção ou presença espiritual) veio sobre o homem Jesus em seu batismo e partiu antes de sua crucificação. Desse modo, não havia união eterna das naturezas humana e divina em Jesus, e o verdadeiro Cristo não possuía corpo físico.

Um ramo do gnosticismo, os docetistas, acreditava que Jesus era na verdade um espírito divino que apenas parecia ter corpo físico. Seu corpo, argumentavam, não era verdadeiramente carne, apenas ilusão. A afirmação de que "todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne procede de Deus" refuta esse ensinamento (1Jo 4.2). Possivelmente, aqueles a quem João contesta foram os precursores dos grupos que, mais tarde, escreveram os textos gnósticos.

As advertências de João indicam que a heresia pode surgir sob muitas formas, geralmente na aparência de ensinamento apostólico. Os que negam a humanidade de Jesus são tão heréticos quanto os que negam sua divindade. Além disso, qualquer doutrina que entende o mundo material criado como intrinsecamente maligno é perigosa e equivocada.



Comentários

Postar um comentário