Como
integrante da lei mosaica, o sábado foi cumprido por Cristo, que o cravou na
cruz, conforme afirma a Escritura: "Havendo riscado a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, a
qual de alguma maneira nos era contrária, e a tirou do meio de nós, cravando-a
na cruz. 15 E, despojando os
principados e as potestades, os expôs publicamente e deles triunfou em si
mesmo. 16 Portanto, ninguém vos
julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa dos dias de festa, ou da lua
nova, ou dos sábados"
(Cl 2.14-16).
Os
versículos 14 e 15 do texto acima são assim traduzidos por Phillips:
Foi ele que perdoou todos os
pecados. Por termos quebrado as leis e os mandamentos, fomos condenados, mas
Cristo riscou essa condenação que pesava sobre as nossas cabeças, anulando-a
completamente e pregando-a na cruz sobre a sua própria cabeça. E depois,
retirando a força aos poderes hostis a nós, expô-los já despedaçados, vazios e
derrotados, no seu ato final glorioso e triunfante!
Os
sábados, inclusive o semanal, como é evidente, não pertence à nova dispensação,
não foi ordenado nem por Jesus nem pelos apóstolos, pois era apenas um sinal
entre Deus e Israel (Ez 20.10-12).
Acusado
pelos judeus de violação do sábado, Jesus afirmou que "o sábado foi feito por
causa do homem",
e que Ele "até do sábado é Senhor" (Mc 2.27; E disse-lhes: O sábado foi feito por causa
do homem, e não o homem, por causa do sábado Mt 12.8 Porque o Filho do Homem até do
sábado é Senhor).
Assim, por um lado Jesus defende o princípio moral do quarto mandamento do
decálogo, que é a necessidade humana de se descansar um dia em cada sete,
valendo para esse fim qualquer deles; e, por outro lado, ao condenar o
cerimonialismo que cercava o guarda do sábado, revela sua autoridade divina
sobre esse sétimo dia para cumpri-lo, aboli-lo ou mudá-lo.
O
autor da Epístola aos Hebreus escreveu que os israelitas não puderam entrar no
repouso de Deus por causa da sua incredulidade. E conclui: "Portanto, resta ainda
um repouso para o povo de Deus"
(Hb 4.8). O sábado da lei, como
sombra das coisas vindouras, prefigurava o descanso espiritual que encontramos,
pela fé, em Cristo, que disse: "Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos
aliviarei" (Mt 11.28).
Quem não guarda o sábado não é de Deus?!
Quem pensa, crê e ensina dessa forma,
pensa, crê e ensina em conformidade com os preceitos dos fariseus, e nunca de
acordo com o espírito do evangelho da graça de Deus.
Escrevi este
capítulo baseando-me em um artigo com o mesmo título, publicado há muitos anos
na revista portuguesa Novas de Alegria, periódico em que também publiquei
diversos trabalhos alusivos à guarda da lei de Moisés e do sábado.
O autor do
referido artigo havia perguntado, a um defensor da guarda do sábado, se um
cristão poderia ou não ser salvo sem a observância do sétimo dia. A resposta que
ele recebeu foi: "Quem não guarda o sábado não anda na vontade de Deus e
não poderá se salvar". Pr Abraão de Almeida (Fontes de consulta, “O sábado, a lei e a graça”).
Alguns fariseus
disseram algo parecido a respeito do próprio Cristo: "Este homem não é de Deus, pois não guarda o sábado"
(Jo 9.16). Na verdade, Jesus nunca quebrou
a lei em nenhum só de seus mandamentos, nem mesmo quanto ao sábado. Ele curou e
salvou no sábado. Se Jesus quebrou algumas das leis sociais instituídas pelos
judeus, foi justamente a fim de integrar na sociedade pessoas socialmente
marginalizadas, como cobradores de impostos, prostitutas, leprosos, coxos etc.
O que diz a Bíblia
Em
nenhuma passagem do Novo Testamento encontramos outra doutrina da salvação,
além desta: "Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem de
vós; é dom de Deus. 9 Não vem das obras,
para que ninguém se glorie"
(Ef 2.8,9). A prova da nossa
salvação é o novo nascimento, que por sua vez não deve ser confundido com o
crescimento espiritual do crente. Nunca devemos confundir salvação com
perfeição. Aquela está consumada; esta é um processo na vida de todo aquele que
ama a Jesus Cristo.
Voltemos
à questão da observância do sábado. Os apologistas do sétimo dia citam textos
bíblicos segundo os quais haveria a obrigatoriedade da guarda do sábado antes
do Sinai, mas aqueles textos, quando examinados à luz de seu contexto imediato
ou distante, não confirmam tais alegações. Vejamos:
Gênesis 2.1-3: “Assim, os céus, e a terra, e todo o seu
exército foram acabados.
2 E, havendo Deus acabado no dia sétimo a
sua obra, que tinha feito, descansou no sétimo dia de toda a sua obra, que
tinha feito. 3 E abençoou Deus o dia sétimo, e o santificou; porque nele descansou
de toda a sua obra, que Deus criara e fizera”. Este texto não contém ordenança alguma,
limitando-se a informar que o Senhor findou a criação no sétimo dia, e que
nesse dia descansou (isto é, cessou de trabalhar) e santificou o sétimo dia.
Oséias 6.7: "Mas eles traspassaram o
concerto, como Adão; eles se portaram aleivosamente contra mim". De modo nenhuma esta
passagem deve ser relacionada ao mandamento da guarda do sábado. O mandamento
que Adão transgrediu não está em Gênesis
2.1-3, mas sim em Gênesis 2.16,17:
"E
ordenou o Senhor Deus ao homem, dizendo: De toda árvore do jardim comerás
livremente, 17 mas da árvore da
ciência do bem e do mal, dela não comerás; porque, no dia em que dela comeres,
certamente morrerás".
Os
contemporâneos do profeta Oséias
haviam desobedecido a Deus, à semelhança de quando nossos primeiros pais
comeram do fruto proibido. Como poderia Adão e Eva transgredir o mandamento da
guarda do sábado, se esse mandamento não lhes havia sido dado?
Não
é boa hermenêutica citar Gênesis 26.5 com a mesma intenção. Afirma esse texto:
"Porquanto
Abraão obedeceu à minha voz e guardou o meu mandado, os meus preceitos, os meus
estatutos e as minhas leis".
O Senhor havia ordenado várias práticas a Abraão: a circuncisão (Gn 17.10), a saída pela fé da sua terra (Gn 12.1) e a proibição de descer ao Egito (Gn
26.2).
Quão
perigosas são as ideias fixas! Quando o Senhor diz que o patriarca
"guardou o mandamento", poderia ele referir-se àquele que assinalaria
a aliança entre ambos, o patriarca e Deus.
E
possível que o povo de Deus tenha escolhido, desde o princípio, livre e
voluntariamente, descansar no sétimo dia, e nunca em virtude do capítulo 20 de
Êxodo. Já no país dos faraós, o dia em causa era observado entre os Hebreus:
Sete dias comereis pães asmos. No
primeiro dia tirareis o fermento das vossas casas, pois qualquer que comer pão
levedado, desde o primeiro dia até o sétimo, será eliminado de Israel. No
primeiro dia haverá santa assembleia, e também no sétimo dia tereis santa assembleia.
Nenhuma obra se fará neles, senão o que cada pessoa houver de comer; somente
isso podereis fazer. Guardai, pois, a festa dos pães asmos, porque nesse mesmo
dia tirei vossos exércitos da terra do Egito. Pelo que guardareis este dia nas
vossas gerações por estatuto perpétuo. No primeiro mês, aos quatorze dias do
mês, à tarde, comereis pães asmos ale vinte e um do mês à tarde. Por sete dias
não se ache nenhum fermento nas vossas casas. E qualquer que comer pão levedado
será eliminado da congregação de Israel, tanto o peregrino como o natural da
terra (Êx 12.15-19, EC).
Falando
de sinais, o sinal entre Deus e o patriarca Abraão foi a circuncisão, e não o
sábado. "Circuncidareis a carne do vosso prepúcio; e isto será por sinal do
concerto entre mim e vós"
(Gn 17.1 1, grifo meu). O que assinalou a aliança entre o Senhor e Noé foi o
arco-íris, e não o dia de descanso:
E disse Deus: Este é o sinal da
aliança que ponho entre mim e vós e entre todos os seres viventes que estão
convosco, por gerações perpétuas: O meu arco tenho posto nas nuvens, e ele será
por sinal de haver uma aliança entre mim e a terra. Sempre que eu trouxer
nuvens sobre a terra, e aparecer o arco nas nuvens, eu me lembrarei da minha
aliança, que está entre mim e vós e todos os seres viventes de toda a carne. As
águas não se tornarão mais em dilúvio, para destruir tudo o que tem vida. O
arco estará nas nuvens, e eu o verei, para me lembrar da aliança eterna entre
Deus e todos os seres viventes de todas as espécies, que estão sobre a terra.
Disse Deus a Noé: Este é o sinal da aliança que tenho estabelecido entre mim e
tudo o que tem vida que está sobre a terra (Gn 9.12- 17, EC).
Porém,
a observância do sábado foi, é e continuará a ser um sinal entre o Senhor Deus
e Israel, como provam estes textos do Antigo Testamento:
Dize aos filhos de Israel: Certamente
guardareis os meus sábados. Isso é um sinal entre mim e vós nas vossas
gerações, para que saibais que eu sou o Senhor, que vos santifica... Os filhos
de Israel guardarão o sábado, celebrando-o nas suas gerações por aliança
perpétua. Entre mim e os filhos de Israel será ele um sinal para sempre, pois
em seis dias fez o Senhor o céu e a terra, e ao sétimo dia descansou e tomou
alento (Êx 31.13,16,17, EC)
Também lhes dei os meus sábados,
para que servissem de sinal entre mim e eles; para que soubessem que eu sou o
Senhor que os santifica... Santificai os meus sábados, e servirão de sinal
entre mim e vós, para que saibais que eu sou o Senhor vosso Deus (Ez 20.12,20, EC, grifos meus).
No
entanto, o nosso atual domingo, o primeiro dia da semana, que corresponde ao
oitavo dia entre os israelitas, era também dia de grande solenidade no seio dos
filhos de Abraão:
No
primeiro dia haverá santa convocação; nenhum trabalho servil fareis. Durante
sete dias oferecereis ofertas queimadas ao Senhor, e no dia oitavo tereis santa
convocação, e apresentareis ofertas queimadas ao Senhor. É dia solene; nenhum
trabalho servil fareis... Porém aos quinze dias do sétimo mês, quando tiverdes
recolhido os produtos da terra, celebrareis a festa do Senhor durante sete
dias; o primeiro dia é dia de descanso, e também o oitavo dia é dia de descanso
(Lv 23.35,36,39, EC).
No
oitavo dia tereis reunião solene; nenhum trabalho servil fareis. Apresentareis
uma oferta queimada de cheiro suave ao Senhor: um novilho, um carneiro, sete
cordeiros de um ano, sem defeito, com a sua oferta de cereais, e as suas
libações para o novilho, para o carneiro e para os cordeiros, conforme o seu número,
segundo o estatuto; e um bode como oferta pelo pecado, além do holocausto
contínuo, da sua oferta de cereais e da sua libação. Estas coisas oferecereis
ao Senhor nas vossas solenidades, além dos vossos votos, das vossas ofertas
voluntárias, com os vossos holocaustos, com as vossas ofertas de cereais, com
as vossas libações, e com os vossos sacrifícios de ofertas pacíficas (Nm 29.35-39, EC).
O sábado cristão
As
comunidades cristãs dos primeiros séculos do Cristianismo tinham suas reuniões
no domingo, embora não tivessem recebido nenhuma ordenança nesse sentido, nem
da parte do Senhor Jesus nem da dos apóstolos. Do mesmo modo como os hebreus e
seus patriarcas começaram a seguir o exemplo de Deus, descansando no sétimo
dia, assim fizeram os cristãos em relação ao primeiro dia da semana em virtude
de nesse dia ter sido consumada a obra de redenção mediante a ressurreição de
Cristo.
Entretanto,
a observância do domingo como dia de descanso (a palavra "domingo"
vem do latim dies dominicu, e significa "dia do Senhor") nunca foi
imposta aos crentes como um mandamento de Cristo ou de seus apóstolos.
Nossos
irmãos que viveram nos primeiros séculos entendiam que todos os dias deveriam
ser dedicados ao Senhor, seguindo o ensino do apóstolo Paulo aos romanos de que
"um
faz diferença entre dia e dia, mas outro julga iguais todos os dias. Cada um
esteja inteiramente seguro em seu próprio ânimo. 6 Aquele que faz caso do
dia, para o Senhor o faz"
(Rm 14.5,6).
Vejamos estas
outras passagens:
A lei e os profetas duraram até João. Desde então é anunciado o
reino de Deus, e todo homem emprega força para entrar nele (Lc 16.16, EC).
Pois a lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a verdade
vieram por meio de Jesus Cristo (Jo 1.17, EC).
Havendo
riscado o escrito de dívida que havia contra nós nas suas ordenanças, o qual
nos era contrário, tirou-o do meio de nós, cravando-o na cruz. E, tendo
despojado os principados e as potestades, os expôs publicamente ao desprezo, e
deles triunfou na cruz.
Portanto, ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber ou por causa
dos dias de festa, ou de lua nova, ou de sábados. Estas são sombras das coisas
futuras; a realidade, porém, encontra-se em Cristo (Cl 2.14-17, EC).
Estudando
atentamente o Novo Testamento, concluímos que os apóstolos frequentavam o
templo e as sinagogas mais na qualidade de judeus que de cristãos. Como
cristãos, reuniam-se noutros locais, e sempre no primeiro dia da semana. No
templo e nas sinagogas eles se aproveitavam da própria liberdade que possuíam
para dar testemunho da sua fé na pessoa do Senhor Jesus. Lemos no livro de Atos
dos Apóstolos que Paulo e os que estavam com ele, ao chegarem em Antioquia da
Pisídia, entraram "na sinagoga, num dia de sábado", e assentaram- se
(13.14). Mais adiante, os mesmos irmãos "chegaram a Tessalônica, onde
havia uma sinagoga dos judeus. Paulo, como tinha por costume, foi ter com eles
e, por três sábados, disputou com eles sobre as Escrituras" (17.1,2).
O
próprio Paulo dá uma das razões por que ele, em suas viagens missionárias,
"tinha por costume" visitar as sinagogas aos sábados: "Fiz-me como judeu para
os judeus, para ganhar os judeus; para os que estão debaixo da lei, como se
estivera debaixo da lei, para ganhar os que estão debaixo da lei. Para os que
estão sem lei, como se estivera sem lei (não estando sem lei para com Deus, mas
debaixo da lei de Cristo), para ganhar os que estão sem lei" (1 Co 9.20,21).
Os
que defendem a guarda do sétimo dia como essencial à salvação, alegam que os
cristãos primitivos guardavam o sábado conforme o mandamento do decálogo, e que
só passaram a guardar o domingo em decorrência de um decreto imperial.
Esse
argumento não encontra respaldo nem na Bíblia, como já vimos, nem na História.
O que a História registra é que Constantino Magno, que viveu no quarto século,
promulgou um decreto favorável aos cristãos em 313 d.C.
No
entanto, há documentos muito anteriores àquela data que provam as afirmações do
Novo Testamento de que os cristãos, sempre e em toda a parte, tinham suas
reuniões no domingo, e não no sábado. Basta ler a Didache, cap. XIV: 1, e a
Carta de Santo Inácio de Antioquia aos Magnésios, Cap. IX 19.21. São documentos
bem anteriores a Constantino e à supremacia dos bispos de Roma.
Concluímos:
Resumindo
nossa resposta à pergunta que serve de título a este capítulo, afirmamos que a
vida santificada pelo Espírito Santo, vivida em todos os dias da semana, é de
valor incomparavelmente maior do que a guarda litúrgica de dias, meses e anos
"santos".
Informação
extraída do Livro “O sábado, a lei e a
graça” Autor: Pr Abraão de Almeida, 6º Edição/1996.
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