EM QUALQUER CIRCUNSTÂNCIAS parte 01


 

Em Qualquer Circunstância


Texto Básico: Carta de Paulo ao Filipenses.

Texto Devocional: Filipenses 4.13. Posso todas as coisas naquele que me fortalece.

Introdução:

         Essa carta de Paulo aos Filipenses pode ser comparada a um diário, pois narra as experiências de seu ministério que se deu em meio de tantas circunstâncias difíceis da vida, principalmente, enquanto o grande apóstolo estava prisioneiro.

         Ao fim da epístola, Paulo diz: “Tudo posso naquele que me fortalece” (4.13). O que lemos não é uma declaração de pensamento positivo. O que Paulo estava dizendo é que foi capacitado por Deus para passar por qualquer situação, seja essa de abundância ou escassez, humilhação ou honra, fartura ou fome.

         Paulo elogia os Filipenses por serem parceiros da fé com ele e os encoraja a permanecerem unidos pela fé de maneira que possam viver por ela. Paulo ensina aos seus leitores a buscar primeiro o reino de Deus mesmo que isto leve a grandes sofrimentos e provações. Ele diz que pode estar contente sob todas as circunstâncias pela força que Cristo dá.

         A Carta aos Filipenses é uma carta ética e prática em sua essência e está centralizada em Jesus. Para Paulo, Cristo era mais do que um exemplo: Ele era a sua própria vida.

A Cidade de Filipos:

         Filipos era uma colônia romana governada pelas leis romanas e sujeita ao governante romano. Era uma pequena Roma no meio da cultura grega da mesma forma que a igreja é uma "colônia celestial" na terra. Em Fp 3:20 "pátria" significa “cidadania”. A cidade recebeu esse nome do rei Filipe da Macedônia que a tirou dos trácios. A cidade era conhecida por suas minas de ouro e de prata bem como por sua lavoura, pois tinha solo fértil.

A Igreja em Filipos:

         Em sua segunda viagem missionária Paulo fundou, em Filipos, a primeira igreja da Europa (veja At16). Os crentes filipenses enviaram ajuda a Paulo quando este foi para Tessalônica (Fp 4:15 e veja 2 Co 11:9). Cinco anos depois, Paulo, em sua terceira viagem visitou Filipos quando estava a caminho de Corinto e também durante a volta. (At 20:1-6).

         Havia um amor profundo e recíproco que unia Paulo aos filipenses. A igreja não causava problemas à Paulo. Não é de surpreender que ele gostasse de conviver com eles!

A Carta de Paulo aos Filipenses:

         Quando Paulo foi preso e tal fato chegou ao conhecimento da Igreja, esta quis enviar-lhe ajuda e o fez: Enviou Epafrodito (talvez ele fosse presbítero) a Roma com a oferta para o necessitado apóstolo. Em geral, a duração da viagem de Filipos a Roma era de aproximadamente um mês.

         Epafrodito ficou com Paulo em Roma e ministrou muito ali tanto a Paulo como com ele, que adoeceu (Fp 2:25-30). Aparentemente, Paulo mencionou o amigo doente quando escreveu seu agradecimento para a igreja. Note que Paulo ficou impotente diante da situação de Epafrodito; o apostolo não pode curá-lo.

         Assim, a igreja ficou muito preocupada com ele como também com Paulo. Também é possível que a igreja reclamasse do atraso de Epafrodito em retornar, pois este ficou alguns meses a mais com Paulo.

         De qualquer modo, quando Epafrodito recuperou as forças Paulo o enviou de volta para casa com a carta que conhecemos como “Epístola aos Filipenses”. Ele tinha diversos objetivos em mente quando a escreveu:

(1) Tranquilizar alguns amigos que estavam preocupados com ele;

(2) Explicar a situação de Epafrodito e defendê-lo de seus críticos;

(3) Agradecer, mais uma vez, aos filipenses a ajuda generosa;

(4) Encorajá-los a persistir na vida cristã;

(5) Estimular a união da igreja.


Ênfase do Livro de Filipense:


         Em Filipenses, um dos temas-chave é a alegria. Esses quatro breves capítulos mencionam dezenove vezes termos relacionados, de uma forma ou de outra, com "alegria".

         Essa epístola também enfatiza a mente. Ao ler Filipenses observe como Paulo fala muitas vezes em lembrar e em pensar. Podemos resumir o tema desse relato como "a mente semelhante à de Cristo traz alegria para o cristão".

         Paulo descreve, a cada capítulo, o tipo de mente que o cristão deve ter para usufruir da paz e da alegria de Cristo. Com certeza nossos pensamentos influenciam muito a nossa vida e a forma errada de pensar leva à vida errada.

         Há quatro tipos de mente apresentados na sugestão de esboço: a mente sincera, a submissa, a espiritual e a firme. No entanto, não podemos dizer que essas são as únicas lições a tirar dessa magnífica carta.

         Paulo nos ensina muito mais sobre Cristo nessa epístola: Ele é nossa vida (cap. 1), nosso exemplo (cap. 2), nosso objetivo (cap. 3) e nossa força (cap. 4). Filipenses não menciona a palavra "pecado", e, em 3:18, encontramos a única menção ao sofrimento, quando Paulo chora pelos cristãos confessos que têm mente mundana e, por isso, desonram Cristo.

I – Participação dos Serviços:

         Sem dúvida, a situação de Paulo era qualquer coisa, menos alegre! Ele foi preso ilegalmente, levado para Roma e aguardava julgamento. Havia divisão entre os cristãos de Roma (1:14-17) e alguns tentavam piorar a situação do apóstolo.

Alegria em momento preocupante:

         Como ele poderia sentir tal alegria em meio à uma situação preocupante?

Ele tinha "mente sincera" — preocupava se com Cristo e o evangelho, não consigo. O texto que nos mostra isso é: Porquanto, para mim, o viver é Cristo, e o morrer é lucro. Fp 1.21.

         O que vem a ser essa "determinação"? É uma atitude que diz: "o que acontece comigo não importa, desde que Cristo seja glorificado e o evangelho seja levado a outros".

         Paulo regozija-se apesar de sua situação, pois ela fortalece sua cooperação no evangelho (Fp 1:1-11), favorece o progresso do evangelho (Fp 1:12-26) e guarda a fé do evangelho (Fp 1:27-30).

         Nesse capítulo, ele menciona cinco vezes o evangelho (v. 5,7,12,16,27) e Cristo, dezessete vezes! Paulo via sua situação como algo que Deus enviou (v. 13) com a finalidade de exaltar a Cristo (v. 20). Paulo reclamaria da vida inquietante se fosse inconstante.

A mente sincera tem três prioridades:

Antes, devemos fazer uma análise sobre a obra de Deus:

Em primeiro lugar, o programa missionário da Igreja deve ser conduzido pelo céu e não pela terra.

O apóstolo Paulo estava a caminho da sua segunda viagem missionária com Silas, Timóteo e Lucas com o propósito de abrir novos campos e plantar novas igrejas. Paulo tinha um plano ousado para evangelizar a Ásia, mas aprouve a Deus mudar o rumo da sua jornada e direcioná-lo para a Europa.

A agenda missionária da Igreja deve ser dirigida por Deus e não pelos obreiros; deve ser definida no céu, não na terra. Paulo abriu mão do seu projeto e abraçou o projeto de Deus e a Igreja entrou na Europa.

Em segundo lugar, a porta que Deus abre nem sempre nos conduz por um caminho fácil, porém nos conduz para um destino vitorioso.

Deus apontou o caminho missionário para onde os plantadores deveriam ir e deu-lhes sucesso na missão, mas não sem dor, sem sofrimento ou sem sangue. O sofrimento não é incompatível com o sucesso da obra. Muitas vezes, o solo fértil da evangelização é regado pelas lágrimas, suor e sangue daqueles que proclamam as boas novas do evangelho.

Paulo e Silas foram açoitados e presos em Filipos, mas o mesmo Deus que abriu o coração de Lídia também abriu as portas da cadeia libertando os Seus servos.

As três prioridades da mente sincera:

I – A comunhão do evangelho (1:1-11)

         Estar "em Cristo" e fazer parte da comunhão cristã são fontes de alegria em momentos de dificuldade. Aqui, temos Paulo preso em Roma, mesmo assim ele se regozija pela comunhão do evangelho. Três frases resumem sua atitude de alegria: “Recordo de vós; vos trago no coração; fazendo sempre súplicas por todos vós em oração”.

a. “Recordo de vós:” (1.1-6) Paulo pensava nos santos (separados) amados da distante Filipos, não em si mesmo. Cada lembrança era uma bênção para ele — mesmo a do sofrimento que vivenciou na prisão filipense (At 16). Ele, quando orava por eles, regozijava-se pela salvação e pelo crescimento deles. Ele sabia que Cristo terminaria o que começara na vida deles, pois Cristo é o Alfa e o Ômega, o Autor e o Consumador da nossa fé (Ap 1:8; Hb 12:1-2)

b. "Vos trago no coração:" (1.7-8) Um grupo misto de pessoas compunha a igreja filipense, porém elas estavam unidas pelo amor. Entre elas estavam a abastada Lídia, o carcereiro, a jovem escrava (todos mencionados em At 16), além de outros crentes, gentios, em sua maioria. Eles compartilharam o ministério do evangelho com Paulo e o coração deles estava unido pelo amor por Cristo e de uns pelos outros. Eles eram muito diferentes dos crentes da igreja coríntia (2 Co 12:20-21).

c. "fazendo sempre [...] súplicas por todos vós, em todas as minhas orações:" (v. 9-11). Paulo sempre tinha tempo para orar para as pessoas e orava para que os filipenses tivessem uma vida plena. Um cristão inútil é uma tragédia! Ele orava para que eles fossem plenos em amor e em discernimento, que fossem fiéis em seu caminhar diário e para que fossem fecundos no serviço cristão. Era uma oração por maturidade cristã.


II – O progresso do evangelho (1.12-26) Observe como Paulo apenas menciona "as coisas que me aconteceram" (1:12) para referir-se a todo sofrimento por que passou. A maioria de nós daria todos os detalhes do naufrágio e da prisão, mas não Paulo. Ele queria honrar a Cristo e proclamar o evangelho.

a. Ele põe Cristo em primeiro lugar (1.12-21): As cadeias estavam em seus pulsos? Essas eram suas "cadeias, em Cristo". Seus inimigos causam problemas com sua pregação egoísta? "Todavia, que importa? Uma vez que Cristo, de qualquer modo, está sendo pregado." Seus amigos estavam preocupados com ele e pregavam por ele? Ótimo, isso exaltava a Cristo. Existia a possibilidade de ele morrer? "Será Cristo engrandecido no meu corpo, quer pela vida, quer pela morte." Assim é a mente sincera — põe Cristo e o evangelho à frente de tudo.

         Temos alegria quando levamos Cristo em consideração em todas as circunstâncias. Paulo era o "prisioneiro de Cristo Jesus" (Ef 3:1; 4:1) e não de Roma. Os soldados acorrentados a seus pulsos não eram guardas; eram almas por quem Cristo morreu. Parece que Paulo tinha uma "audiência cativa" e as passagens 1:13 e 4:22 sugerem que ele ganhou alguns que ouviam para Cristo. Fp 1.13. de maneira que as minhas cadeias, em Cristo, se tornaram conhecidas de toda a guarda pretoriana e de todos os demais; Fp 4.22. Todos os santos vos saúdam, especialmente os da casa de César.

         A mente sincera transforma as circunstâncias adversas em oportunidades para exaltar a Cristo e para ganhar almas, em vez de se deixar derrotar por elas.

b. Ele não põe os outros em segundo lugar (1.22-26): O egoísmo sempre causa infelicidade. Paulo é feliz porque ama os outros. Ele ora pelos outros, encoraja-os e tenta levar alegria a eles. Para Paulo, o "paraíso na terra" era ajudar os outros! Ele ansiava permanecer na terra e poder ajudar esses crentes a crescerem em Cristo, ao mesmo tempo que ele mesmo desejava estar com Cristo.

c. Ele se punha em último lugar: Nem seu corpo, nem seu futuro, nem sua reputação pertenciam a si mesmo. Em contraste a isso, sempre nos sentimos desprezíveis quando nos pomos em primeiro lugar. Devemos nos certificar de ter a mente sincera que diz: "Senhor, seja lá o que vier para mim, quero que Cristo seja glorificado por isso", quando passamos por provações. Esse é o segredo da alegria cristã.

III – A fé do Evangelho (1.27-30): Aqui, Paulo nos alerta sobre os inimigos que podem nos atacar, pois há batalhas a enfrentar na vida cristã. Os novos cristãos passam por estes três estágios:

(1) tornam-se filhos ou filhas da mesma família (a comunhão do evangelho);

(2) tornam-se servos (o crescimento do evangelho); e;

(3) tornam-se soldados (a fé do evangelho).

         Satanás está para derrotar a igreja e os cristãos precisam ter a mente sincera a fim de enfrentá-lo e "combater o bom combate da fé". Nessa passagem, Paulo encoraja bastante os cristãos com a finalidade de ajudá-los a defender a fé do evangelho.

a. “Estais firmes em um só espírito como uma só alma, lutando junto” (v.27): É maravilhoso saber que outras pessoas permanecem conosco quando enfrentamos as batalhas da vida. Nada substitui a união e a harmonia da igreja cristã. Cristo é o Unificador e o Edificador; Satanás é o grande separador e destruidor.

b. Vocês estão do lado vencedor (v.28): Paulo aconselha: "Em nada estais intimidados pelos adversários. Pois o que é para eles prova evidente de perdição é, para vós outros, de salvação". O inimigo vê a união e a fé do crente como uma "prova evidente" (presságio ou sinal evidente) de seu próprio insucesso.

c. “A graça de padecerdes por Cristo” (v. 29-30): É maravilhoso crer em Cristo e receber o dom gratuito da salvação; porém, há outro dom que recebemos: o dom de sofrer por causa dele. Filipenses 3:10 sugere que o nosso sofrimento representa a comunhão com Cristo; veja também Atos 5:41.

         É um privilégio estar no "mesmo barco" que santos como Paulo, quando sofremos por causa de Jesus! Contudo, o cristão deve sempre agir como tal, seja lá o que aconteça. Em 1:27, Paulo adverte: "Vivei, acima de tudo, por modo digno do evangelho de Cristo".

         Uma vez perguntaram a Gandhi: "Qual é o grande obstáculo para as missões cristãs na índia?". Ele respondeu: "Os cristãos". Não só na índia, pois é possível fazer essa mesma crítica aos cristãos em outras terras.

         Temos de agir como cristãos mesmo em meio à batalha. Paulo mostrava confiança tranquila em meio aos problemas.  Ele confiava que os filipenses continuariam em seu caminhar cristão (v. 6), regozijava-se com a nova confiança que os crentes romanos adquiriram por causa das provações dele (v. 14); e tinha confiança de que venceria essas tribulações e voltaria ao convívio dos amigos (v. 25). Essa confiança alegre em Deus e o conhecimento de que ele está no controle das circunstâncias são as bênçãos de ter a mente sincera.

         O termo cooperação também pode ser traduzido por comunhão, que significa, simplesmente, "ter em comum". Mas a verdadeira comunhão cristã é muito mais profunda do que apenas fazer uma refeição ou jogar futebol juntos.

         Muitas vezes, aquilo que pensamos ser "comunhão" é, na verdade, apenas amizade ou um bom relacionamento entre conhecidos. Não podemos desfrutar comunhão com alguém a menos que tenhamos algo em comum em nossos corações.


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